O pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina, referência na região de Itaquera (zona leste), está com as portas fechadas devido a superlotação. Desde terça-feira, somente pacientes levados por ambulâncias ou corpo de bombeiros são atendidos.
No início do mês, a administração do complexo instalou faixas orientando a população a procurar atendimento em outras unidades de saúde. Quem tenta entrar no pronto-socorro é encaminhado por seguranças à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) 26 de Agosto, que fica a 1,7 km de distância. A unidade de emergência está operando com quase três vezes a sua capacidade.
“São 33 pacientes para 11 leitos no atendimento clínico, e 34 para 18 no cirúrgico”, disse a irmã Monique Bourget, diretora técnica do hospital. A sobrecarga compromete tanto a qualidade do atendimento como a segurança dos pacientes. “Não temos condições estruturais nem pessoal pra atender mais pessoas”, disse a irmã.
Assim, a diretoria optou por atender apenas os casos em que há risco de morte. Atendimentos SUS de média e baixa complexidade são encaminhados a outras unidades de saúde próximas.
Irmã Monique explica que faltam outros hospitais de referência na região, motivo pelo qual o Santa Marcelina trabalha sempre com capacidade máxima. Ela defende por isso que o centro de saúde se concentre em realizar atendimentos que necessitem de maior recurso. “Quem vem pra cá com uma gripe pode entrar na frente de quem tem algum problema mais sério e não tem outro lugar pra ir”, afirma.
Em 2016, o pronto-socorro teve sobrecarga parecida e a vigilância sanitária fechou o local por cerca de duas semanas. “Na ocasião, recebemos a recomendação de que não poderíamos exceder a nossa capacidade”. Desde aquele ano, quando foi aberta a UPA 26 de Agosto, o hospital trabalha em conjunto com as secretarias estadual e municipal de saúde para direcionar o público para essa e outras unidades.
Motorista leva pacientes à UPA
Mesmo com a sinalização, muitos moradores de Itaquera (zona leste) ainda procuram o pronto-socorro do Hospital Santa Marcelina para emergências simples. O motorista de aplicativo José Roberto Faria, que trabalha na região, disse que, durante a semana, levou ao menos dez pessoas de lá para a UPA 26 de Agosto, após terem atendimento recusado. “Faz muita falta pro bairro. Se fica fechado, acaba sobrecarregando outros hospitais”, disse o motorista.
Ele se lembra de quando o Santa Marcelina teve o pronto-socorro fechado, em 2016, e de como outro hospital da região, o Planalto, recebeu uma demanda muito além do que esperava. Na 26 de Agosto, o tempo estimado para o atendimento era de duas horas no início da tarde de ontem, disse um funcionário.
“Até que a fila não está grande, mas, por ser feriado, esperava encontrar menos gente aqui”, disse Andressa dos Santos, de 34 anos, que acompanhava o pai, Nilson dos Santos, 67.
O hospital Santa Marcelina é uma instituição filantrópica privada que destina 87% do atendimento aos pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), um total de 500 leitos públicos, e é considerado referência de saúde na zona leste de São Paulo.
Por ano, o complexo atende 150 mil pessoas no pronto-socorro e realiza 25 mil internações, 14 mil cirurgias e 400 mil atendimentos ambulatoriais. O hospital é também, segundo irmã Monique, o único da região, onde vivem mais de 4 milhões de pessoas, que realiza procedimentos complexos como cirurgias cardíacas, oncológicas, transplante de medula óssea e de rim.
Secretarias dizem ter feito repasses
A Secretaria de Estado da Saúde, gestão João Doria (PSDB), disse que se dispõe a auxiliar o hospital em caso de sobrecarga, e que já repassou R$ 12,6 milhões ao Santa Marcelina em 2019 —o atendimento SUS no local é mantido com recursos federais e estaduais.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou que está empenhada em normalizar a situação no pronto-socorro. A pasta repassa mensalmente R$ 48 milhões para a OS Santa Marcelina, responsável por gerenciar mais de 100 unidades de saúde municipais, entre elas a UPA 26 de Agosto, que faz 23 mil atendimentos por mês
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