3 em cada 10 mulheres cuidam dos filhos sozinhas na capital

Elas acumulam as tarefas domésticas com a jornada de trabalho e chefiam a casa

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São Paulo

A ONG (organização não-governamental) Rede Nossa São Paulo apontou em pesquisa que 1.219.438 mulheres que residem na capital, ou seja, 33%, não dividem os cuidados dos filhos com ninguém ou quase ninguém. Na prática, elas são as chefes de família e na sua maioria fazem a tripla jornada de trabalho ao acumular as tarefas domésticas.

Aliás, o número de famílias chefiadas por mulheres apresenta crescente em São Paulo. No mesmo levantamento realizado pela entidade no ano passado, 897.950 representantes do sexo feminino, 27%, também já cuidavam sozinhas dos filhos ou tinham pouca ajuda de terceiros.
 

Barbara de Jesus Santos, 28 anos (com vestido Amarelo), cuida sozinha dos filhos Ana Clara Ferreira dos Santos, 9 anos, e de Jorge Henrique Silva Santos, 4 anos. Para ir trabalhar no motel, diariamente, deixa os filhos com a babá Marilena Leva. - Rivaldo Gomes/Folhapress

Das 416 mulheres acima de 16 anos entrevistadas pela ONG, entre os dias 4 e 21 de dezembro do ano passado, 70% das mulheres afirmaram ter filhos e ficar mais tempo com a criança do que deixar aos cuidados de outras pessoas. Neste caso, entende-se por familiares, maridos ou até mesmo os companheiros.

Segundo o engenheiro Jorge Abrahão, 61 anos, coordenador geral da Rede Nossa SP, o aumento de percentual de mulheres que não dividem o cuidado dos filhos com outra pessoa é ainda reflexo de uma sociedade machista. "Os homens não fazem a divisão das tarefas nem de responsabilidades na maioria das vezes."

O que é compartilhado pela psicopatologista Sonia Regina Maurelli, 57 anos, supervisora técnica da Casa de Isabel, entidade com sede no Itaim Paulista (zona leste) e voltada ao atendimento de pessoas vítimas de violências. "Os homens confundem que temos de dividir as tarefas de forma justa", diz Regina.

A especialista na área do sofrimento mental das pessoas aponta ainda que essa realidade é frequente no universo feminino. "A mulher se reiventa a todo momento, uma vez que ela precisa pagar suas contas, cuidar da educação dos filhos e das necessidades da casa.

Mãe se desdobra para criar 8 filhos e 5 netos

Após deixar o distrito de Sucesso, em Tamboril, no Ceará, aos 13 anos, fugida de casa com o namorado, Maria Célia Caboclo, 42 anos, se reinventou como chefe de família. Hoje, morando em São Paulo, é mãe de oito filhos e avó de cinco netos.
 

Maria Célia Caboclo, 42 anos, é daquelas mulheres cabra da peste. Fugiu de cidade no Ceará, aos 13 anos, com o pai de sete, de seus oito filhos, para São Paulo. No entanto, foi ela sempre quem cuidou dos pequenos, hoje adultos (a mais velha tem 26 anos) e a mais nova 6 anos (filha de outra pessoa) - Ronny Santos/Folhapress

Maria Célia viveu com seu companheiro por 17 anos, pai de sete dos seus oito filhos. "Sofri na mão dele, entre agressões verbais e físicas. Ele nunca me ajudou em nada", relembra a hoje avó de Ana Clara, 2 anos, filha de Karen, 18 anos.

Hoje, Maria Célia se divide entre o trabalho de limpeza na academia, os cuidados com a casa e os filhos Sophia, 6 anos, e Ronaldo, 12 anos. "Quando chego do trabalho, faço comida, estendo a roupa e vou fazendo as coisas que aparecem", conta Maria Célia, que há 12 anos deixou o companheiro. 

​Camareira tem que dar conta da parte financeira

Camareira em motel na Vila Mariana (zona sul), Barbara de Jesus Santos, 28 anos, é exemplo de mulher que divide os cuidados dos filhos, enquanto trabalha, com uma espécie de babá.

Ana Clara Ferreira dos Santos, 9 anos, e Jorge Herinque Silva Santos, 4 anos, são irmãos, mas de pais diferentes. Nenhum está com Barbara, que mora de aluguel em dois cômodos no Jardim Clímax, distrito do Sacomã (zona sul).

"Eu cuido de tudo sozinha, desde levar as crianças no médico até os serviços de casa", diz Barbara, que divide as despesas mensais de luz, água e aluguel com os pagamentos da perua escolar e da senhora a quem cofia os filhos, a hoje amiga Marilena Leva. Ana Clara e Jorge Henrique também receberam os cuidados nutricionais da Pastoral da Criança.

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