Moradores põem a mão na terra e cuidam de espaços públicos

Com trabalho voluntário, homens e mulheres recuperam áreas onde antes havia lixo e sujeira

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São Paulo

Cansados de ver espaços públicos ocupados por lixo e sujeira, mas, principalmente sem vegetação e cor, os guardiões da cidade de São Paulo resolveram arregaçar as mãos e enfiar, literalmente, os dedos nas terras.

Grupo de moradores do Jardim das Camélias, na zona leste de São Paulo, capina mato para plantar árvores e flores em praça construída sobre um duto da Petrobras - Rivaldo Gomes/Folhapress

Eles atuam de forma voluntária em diversos pontos da cidade, do centro à periferia, para preservar espaços de uso comum, como praças, parques e avenidas.

São moradores com um olhar especial na natureza e no cuidar da cidade, quando muitas vezes o poder público não dá conta ou simplesmente se omite.

“Você não consegue imaginar como esse bairro tem mudado com a participação das pessoas”, diz, satisfeito, o líder comunitário Idevanir Arcanjo, do Jardim das Camélias, região de São Miguel Paulista (zona leste).

Na última quarta-feira (19), grupo de moradores do bairro capinou e plantou  flores na praça Camélias Transpetro, recém rebatizada.

O local, antes usado como ponto de descarte irregular de entulho, fica em terreno da Petrobras desde 1979, sob o qual passam dutos de gás.

A presença da petroleira, segundo os moradores, dificultou o desenvolvimento do bairro. Foram décadas sem esgoto, asfalto e iluminação de rua.

Velter Gomes Ribeiro tem 64 anos e mora no bairro há 21, bem em frente à praça. “No início a vizinhança não acreditou, mas depois que a gente começou a fazer e um puxou o outro”, conta.

De outro ponto da cidade, trecho do canteiro central da extensa avenida Braz Leme e mais próximo da avenida Cruzeiro do Sul, em Santana (zona norte), ganhou mudas de árvores frutíferas, como pitangueiras, e até plantas medicinais no “Jardim da Vovó”, espaço especialmente criado por moradores do entorno.

“Além de cidadania, é um movimento de reconstrução do espaço público urbano”, diz a advogada Norma Moura, 60, que caminha diariamente pelo local e elogia a iniciativa do grupo.

Grupo trabalha na gestão participativa de praças

Em 2013, com a percepção de que precisariam incidir sobre políticas públicas para ter uma maior abrangência, o Boa Praça começou a elaborar, ao lado de outros movimentos, um projeto de lei que foi aprovado em 2015.

Apelidada de lei de Gestão Participativa de Praças, tem como principal objetivo fortalecer o diálogo entre o poder público e a sociedade civil no uso e manutenção de praças públicas. Ainda não houve, entretanto, uma regulamentação pelo Executivo.

Segundo Carolina Tarrio, do Boa Praça, um dos pontos que ficaram de fora do texto aprovado é um cadastramento e qualificação das mais de 5.000 praças da cidade de São Paulo para que possam ser geridas de acordo com seu tamanho, vocação e potencial, bem como o cadastramento de comitês de usuários. Com o apoio de alguns vereadores e participação de outros grupos, o Boa Praça elabora uma proposta  de regulamentação para a lei.

Área ganhou mesa e bancos para jogos

O punhado de sementes lançadas em cantinhos de terra por moradores apaixonados pela natureza rendeu outras ações bacanas na avenida Braz Leme.


A base comunitária da Polícia Militar, que fica próxima ao trecho cuidado pelo grupo de moradores, ganhou na última semana mesa e bancos para jogos com pneus reciclados coloridos em rosa e lilás. Uma forma de preservação do meio ambiente.

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