Natureza é um santo remédio para crianças e adolescentes
Pediatras defendem o convívio com o meio ambiente para uma saúde melhor e para o bem-estar
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No lugar de remédios, receita-se natureza. É o que defende o manual de orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, em parceira com o Instituto Alana, sobre os benefícios do convívio junto ao meio ambiente para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Com 32 páginas em seis meses de construção técnica coletiva, o informativo chama a atenção não só pelo direito legal, mas pela necessidade de toda criança e adolescente brincar em meio à natureza para sua saúde e bem-estar.
Para a médica Evelyn Eisenstein, 70 anos, integrante do Departamento Científico de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria, o convívio com a natureza desde a infância, além de prevenir doenças, melhora o controle de enfermidades crônicas, como diabetes e asma.
“O problema é que vivemos em uma cidade doente, invadida por prédios e ruas movimentadas, sem proteção, parques ecológicos e áreas de lazer ao ar livre”, afirma a pediatra.
Consequentemente, a falta de oportunidades de brincar, especialmente junto à natureza, gera problemas precoces de saúde nesse público-alvo, casos de obesidade, miopia, falta de equilíbrio, hiperatividade e sedentarismo.
“As crianças vivem hoje a síndrome do emparedamento, ou seja, dentro da casa, da escola ou do shopping”, diz o pediatra e um dos autores do manual Ricardo Ghelman, 56, coordenador da unidade de Pediatria Integrativa do Instituto da Criança do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
O médico acrescenta que o confinamento entre quatro paredes provoca, por exemplo, o surgimento de doenças cardiovasculares precoces em crianças a partir de dez anos.
“Nos últimos cinco anos, pesquisas apontaram alterações e aumento de 240% nas taxas de sangue e de glicose”, diz Ghelman, defensor do conceito de receitar natureza e referência no país na área da medicina integrativa.
O que defende também a engenheira florestal Maria Isabel de Barros, 46, pesquisadora do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana. “A liberdade de brincar ao ar livre se perdeu com o emparedamento nos grandes centros urbanos, mas há um movimento mundial de resgate disso, principalmente na área médica”, afirma.
Primeiros passos no bairro
A médica pediatra Evelyn Eisenstein, da Sociedade Brasileira de Pediatria, brinca que costuma receitar a “vitamina N”, de natureza, aos seus pacientes.
Exatamente o que a atriz Valéria Lima, 46 anos, e o fotojornalista Jefferson Copolla, 45, valorizam na criação do pequeno herdeiro: Guillermo, 7, que adora um passeio com a família pela serra da Mantiqueira.
Para Copolla, os filhos aprendem ao ter os pais como exemplos.
Morador em Higienópolis (zona oeste), Guillermo engatinhou na grama e deu seus primeiros passos no chão de praça do bairro.
Davi Ghelman, 6, filho do médico Ricardo Ghelman, também é regado por natureza. Passeios e piqueniques em parques são sagrados nos fins de semana.
Irmãos brincam em meio a um pomar
Um vasto quintal com pés de jabuticaba, mexerica, amora, pitanga, banana e romã, entre flores coloridas e horta com salsinha, manjericão, couve, berinjela e pimentão, além de casinha de boneca e outros espaços lúdicos, é explorado, diariamente, pelos irmãos Nina, 10 anos, Sofia, 7, e Martin, 1 ano e 3 meses.
Por incrível que pareça, esse paraíso natural está encravado em um imóvel residencial na Vila Madalena, bairro nobre da zona oeste de São Paulo e conhecido por sua arte, gastronomia e baladas.
A conexão real e direta com a natureza é defendida e preservada pelos publicitários Elisa Roorda Vianna, 39, e Flavio Vianna, 48, pais do trio. Ali, as crianças mexem na terra, plantam, regam e até colhem. “A gente sempre valorizou as brincadeiras livres junto à natureza, principalmente na primeira infância e em uma cidade árida como é São Paulo”, diz Elisa, que deixou a carreira de lado no nascimento de Nina.
Mergulhada na sintonia saúde e meio ambiente, Elisa, inclusive, na época, abriu um espaço físico na capital voltado à conexão da família nesse ambiente natural.
Em 2018, repassou o empreendimento que valorizava o livre brincar e respeitava o tempo da infância. Mas não perdeu a identidade.
Em sua casa, não entra produto industrializado e a alimentação da família é saudável e bem cuidada. “Dificilmente, as crianças ficam doentes”, afirma.
Elisa também diz que os filhos estão livres das telas de eletrônicos. “Não sentem falta”, festeja, ao contar que as meninas adoram desenhar livremente em uma folha de papel.
Antídoto para era digital
Em um mundo cada vez mais tecnológico, a vida ao ar livre, principalmente na adolescência, pode ser um antídoto para a era digital.
“Não somos anti-tecnologia nem demonizamos, mas defendemos o uso equilibrado e próspero junto à natureza”, diz a mestre em conservação de ecossistemas Maria Isabel de Barros, do Instiltuto Alana.
A dependência digital também é apontada como motivo de preocupação pela médica pediatra e clínica de adolescentes da Sociedade Brasileira de Pediatria, Evelyn Eisentein.
Cada vez mais esse público interage nas redes sociais, brinca com videogames e utiliza telefone celular.
Desde o ano passado, OMS (Organização Mundial de Saúde) reconheceu o vício em games como um transtorno de saúde mental —CID (Classificação Internacional de Doenças) 11.
Segundo a pediatra, a depressão tem aumentado entre os adolescentes, que se isolam nos quartos com seus aparelhos. “O oxigênio é o melhor tratamento para se desconectar do telefone celular, diminuir o estresse urbano e prevenir doenças comportamentais, como ansiedade e transtornos de violência”, receita a pediatra