Hospital recebe 30 vítimas ao dia com queimaduras
Atendimentos em ala do Tatuapé cresceram 11% no primeiro semestre deste ano
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O impressor Hermelino de Oliveira Leão Filho, 42 anos, se segurava para não gritar de dor na manhã do último dia 29, quando uma enfermeira trocava o curativo de seu ombro esquerdo, no nono andar do Hospital Municipal do Tatuapé (zona leste), onde funciona a ala de queimados da unidade, referência no tratamento de vítima de queimaduras na capital.
Leão Filho é uma das 5.288 pessoas que deram entrada no hospital no primeiro semestre deste ano. Considerando o período, é como se, em média, a cada dia cerca de 30 pessoas fossem à unidade por conta de queimaduras de primeiro, segundo ou terceiro graus.
O impressor sofreu queimadura de segundo grau, após tomar banho na empresa onde trabalha. “O aquecimento do chuveiro é com caldeira. Quando terminei o banho, uma pressão fez com que água fervente fosse esguichada em meu ombro”, afirma sobre o acidente no dia 26 de julho.
Na ala de queimados, 4.113 pessoas foram submetidas a atendimentos ambulatoriais nos seis primeiros meses deste ano, como o impressor, que precisa ir ao hospital diariamente para trocar o curativo.
Durante o período, também foram 1.027 atendimentos de emergência e 148 internações.
O número de pacientes atendidos no primeiro semestre é 11% maior que no mesmo período do ano passado. Somente as internações caíram (foram 160 nos primeiros seis meses de 2018). Os demais procedimentos todos cresceram (9,6% a mais de atendimentos de emergência e 12% a mais de ambulatoriais).
Cuidados
No último dia 26 de julho, um homem de 40 anos, que pediu para não ter o nome identificado, está internado no hospital. E sem data para receber alta. Com 70% do corpo queimado, após um acidente envolvendo um copo com gasolina, ele teve de passar por cirurgia.
“Chamei dois amigos para ajudar a fazer uma Kombi, que estava parada há três anos, pegar. Eles encheram o carburador com gasolina e eu segurei um copo com o que sobrou na mão. Quando tentaram ligar o veículo houve uma explosão que me atingiu”, afirma. O fogo queimou barriga, mão e antebraço direito, além das pernas da vítima.
Fogueira de festa julina tomba e queima a perna de ajudante geral
Montar fogueiras faz parte da vida de um ajudante geral, 45 anos, que está internado no Hospital do Tatuapé desde 10 de julho.
Natural de Arapiraca (AL), ele decidiu inovar neste ano, montando uma fogueira com 2,5 metros de altura, em uma festa julina no Glicério (região central).
Após atear fogo, ele se sentou e ficou observando sua obra. “Mas a fogueira arriou e uma tora pegando fogo caiu sobre minha perna esquerda”, afirma.
Ele teve queimaduras de terceiro grau em 8% do corpo e foi submetido a uma cirurgia. Não há previsão de alta. “Da próxima vez farei uma fogueira menor”, diz.
O médico Ubirajara de Freitas Guazzelli, cirurgião plástico no hospital, explica situações para internação ocorrem quando o paciente tem mais de 15% do corpo queimado ou a queimadura é de terceiro grau (destruindo todas as camadas da pele).
Garoto que teve 50% do corpo queimado hoje é cirurgião
Durante um encontro de família em Arujá (Grande SP), em 1973, o pequeno Luiz Fernando Pinheiro, com 9 anos na época, teve 50% do corpo queimado quando adultos tentaram acender uma churrasqueira com álcool.
Atualmente, Pinheiro, 55, é um dos cirurgiões plásticos do Hospital do Tatuapé, para onde foi levado no dia do acidente —há marcas em seu queixo até hoje.
O garoto foi submetido a cirurgias de enxerto de pele e o hoje especialista admite que escolheu a profissão por conta do acidente. “Decidi ser médico”, afirma.
Acidentes em casa podem ter riscos
Os bombeiros registraram no primeiro semestre 218 ocorrências envolvendo queimaduras no estado. A corporação não encaminhou dados referentes ao mesmo período de 2018.
O capitão Marcos Palumbo afirma que os três tipos de atendimentos de queimados mais registrados pelo Corpo de Bombeiros foram por conta de produtos químicos (88), óleo quente (60) e água fervente (46).
“As queimaduras com produtos químicos ocorrem, geralmente, em faxinas”, afirma.
Acidentes com óleo, segundo o bombeiro, podem acontecer quando se joga batatas com resquícios de água para fritar em uma frigideira, de uma vez. “Isso provoca uma reação que se assemelha a uma explosão”, alerta Palumbo.
Já queimaduras provocadas por água fervente podem acontecer quando roupas enroscam em cabos de panela no fogão, fazendo o líquido quente cair na pessoa, ou quando crianças puxam as panelas.