Motoristas, moradores e comerciantes do bairro do Tatuapé (zona leste) reclamam da criação de 1.058 vagas rotativas de Zona Azul há duas semanas.
Antes, as vagas para estacionamento eram liberadas. Agora, clientes do comércio local e moradores têm de pagar R$ 5 para estacionar por uma hora, sendo permitido ficar apenas duas horas no mesmo local.
A mudança nas vagas impactou principalmente os estabelecimentos comerciais e de prestadores de serviços na região.
Para Miguel Júnior, 66 anos, recepcionista de um salão de beleza no bairro, a implementação de Zona Azul foi "um erro".
Ele afirma que os clientes costumavam estacionar em frente ao salão ou em ruas próximas. "Até contratávamos um manobrista para fazer este serviço, mas, com a restrição de tempo máximo de parada, as pessoas estão preferindo parar em um estacionamento particular", afirma.
Segundo Miguel, a clientela passou a procurar por outros salões onde é permitido estacionar na rua sem pagar.
A transformação em vagas de Zona Azul faz parte de um processo de concessão lançado em outubro de 2018, pela gestão Bruno Covas (PSDB), que prevê implementar cerca de 10 mil vagas rotativas na cidade.
Destas, já estava previsto que o Tatuapé teria o maior número.
Entre os motoristas, a mudança também não foi bem-vinda. Para o representante comercial Diego Marques, 32, a Zona Azul prejudica quem trabalha nas ruas. "Eu fico o dia todo andando de carro, visitando estabelecimentos. Ao fim do dia, tenho de pagar mais de R$ 50 só de Zona Azul. O gasto mensal é realmente muito alto."
Já para o autônomo Marcelo Santos, 36, o principal problema da Zona Azul não é o custo, mas a falta de recompensa. "É um serviço muito vago. Eu tenho de pagar para estacionar na rua e, em troca, a prefeitura não me oferece mais segurança e nenhum outro benefício. Eu acho bem errado, não vejo sentido nisso", diz.
Prejuízo
Na rua Apucarana, no Tatuapé, comerciantes afirmam ter sentido fortemente os impactos desde a implementação da Zona Azul na região, há duas semanas.
Paulo Cavalcante, 59 anos, dono de um restaurante, afirma que o número de clientes diminuiu "bruscamente" no local.
"Não tinha necessidade de colocar vagas rotativas aqui no bairro, todo mundo conseguia estacionar e a rua vivia movimentada. Agora, ninguém quer pagar mais para vir almoçar, ou para visitar uma loja. Os estabelecimentos ficam vazios o dia inteiro e a região deserta", afirma.
O comerciante também utilizava a vaga em frente o restaurante para estacionar seu carro. Com a implementação da Zona Azul, passou a deixar o veículo em estacionamento particular.
Para Vanessa Borges, 42, dona de um pet shop, a mudança não prejudicou o número de clientes, e sim a rotina de seu negócio.
"Costumamos buscar os animais na casa dos donos para dar banho e tosa. Depois que as vagas rotativas foram implementada, nossa van não pôde mais parar aqui em frente para deixar os animais", comenta. "Então, agora temos de estacionar em alguma das ruas paralelas e, às vezes, subir andando com mais de cinco cachorros. Isso atrapalha o atendimento", afirma. "Já tivemos que sair para ajudar o motorista a subir com os animais", diz.
Vanessa diz que entrou em contato com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e pediu para que fosse possível realizar essas pequenas paradas em frente sua loja, apesar da zona azul, mas ainda não obteve resposta.
Pacote
Além do total de 1.505 vagas rotativas que serão lançadas no bairro do Tatuapé (mais cerca de 500 serão criadas), a gestão Bruno Covas (PSDB) pretende implementar outras 8.276 vagas de Zona Azul em 67 regiões, sendo a maioria no centro e na zona leste, cerca de 29 e 26%, respectivamente.
Estas vagas serão exploradas por uma empresa privada por aproximadamente R$1,35 bilhão, durante os próximos 15 anos. O processo de licitação, porém, foi suspenso pelo TCM (Tribunal de Contas do Município) no fim de maio, sob a alegação de que havia um total de 33 irregularidades.
Depois do Tatuapé, as regiões da cidade que mais receberão estacionamento rotativo são: Ibirapuera (zona sul, com 652 vagas), Museu do Ipiranga (zona sul, com 618) e Castro Alves (centro, com 611).
Resposta
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), diz que a concessão da Zona Azul está em fase de discussão com o Tribunal de Contas do Município.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) diz que planeja o desenvolvimento da Zona Azul, a partir de estudos. E que o princípio é de promover rotatividade de vagas, racionalizar o uso do sistema viário em áreas adensadas, organizar e disciplinar o espaço urbano. E que não é possível fazer “pequenas paradas”, por ser vaga rotativa.
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