Martin Scorsese está de volta. Na próxima quarta-feira (27), estreia "O Irlandês", considerado pela crítica uma das obras-primas do diretor e um épico sobre a máfia no período do pós-guerra. 

O longa marca o retorno de Scorsese ao tema e à parceria com Robert De Niro, com quem dividiu boa parte de seus melhores filmes. Outros atores conhecidos das obras do diretor também estão no filme como Harvey Keitel e Joe Pesci, que deixou a aposentadoria para voltar a atuar sob o comando de Marty, como o diretor é chamado pelos amigos. 

"O Irlandês" é uma superprodução de US$ 159 milhões e três horas e meia de duração, feita para a Netflix. Foi exibido em alguns cinemas no Brasil e nos EUA (condição para disputar o Oscar), e agora chega ao serviço de streaming.

O filme segue a história de Frank Sheeran, o irlandês do título, personagem de De Niro, da juventude até a velhice em um asilo. Ele é um veterano da 2ª Guerra que trabalha como caminhoneiro e dá pequenos golpes nas entregas que faz pelos EUA. A vida de Sheeran toma novo rumo quando ele conhece Frank Buffalino (Pesci), chefe da máfia na Pensilvânia. Logo, ele torna-se um faz-tudo e um assassino profissional.

E é justamente Buffalino que faz a conexão de Sheeran com Jimmy Hoffa, poderoso líder do sindicato dos caminhoneiros nos Estados Unidos (no filme, Sheeran diz que Hoffa foi mais famoso que Elvis Presley e os Beatles).

O ator Al Pacino dá vida ao sindicalista, em sua primeira colaboração com Scorsese. No filme, tudo está interligado: máfia, sindicato, política e um dos principais mistérios dos EUA, o desaparecimento de Hoffa em 1975.

Já se disse que Scorsese se dá bem ao retratar "clubes masculinos". "Os Bons Companheiros", "O Lobo de Wall Street" e "Os Infiltrados" são exemplos disso. Em "O Irlandês", as mulheres são personagens secundárias, mas não menos importantes: Peggy, uma das filhas de Sheeran, mostra a todo momento, em silêncio ou de forma monossilábica, a reprovação ao pai.

E essa reprovação segue Sheeran até o final da vida, quando ele busca restabelecer os laços familiares perdidos e se apoia na religião, mesmo sem transparecer remorso. Vemos então um gângster envelhecido, no final da vida, sozinho com seus fantasmas.

Após essa saga, que deve render algumas indicações ao Oscar, Scorsese tem novos projetos, um deles com De Niro e Leonardo Di Caprio, seu colaborador constante desde 2002, quando fizeram juntos "Gangues de Nova York".

Tecnologia ajuda a rejuvenescer atores

Como "O Irlandês" abrange um período de décadas e Scorsese optou por usar os mesmos atores em diferentes fases da vida, foi preciso recorrer a uma tecnologia digital para rejuvenescê-los. Pequenos botões colados nos rostos de De Niro e Pesci, ambos com 76 anos, e Pacino, 79 anos, faziam a captura das expressões, tratadas digitalmente. 

Os atores tiveram de se esforçar e atuar com mais jovialidade nas cenas dos personagens mais novos. "Na segunda vez em que você se senta e se levanta como um jovem, seu corpo estala e te lembra de que você tem 79 anos", disse Pacino ao "El País" da Espanha. (HB)

Diretor criticou filmes de super-heróis

Scorsese afirmou recentemente que os filmes de super-heróis, como os da Marvel, não são cinema. A declaração causou polêmica, e o diretor recebeu apoio, como o de Francis Ford Coppola, e críticas, como as de Robert Downey Jr., que interpreta o Homem de Ferro.

Depois da repercussão, o diretor escreveu artigo no New York Times em que explica sua declaração. Nele, Scorsese disse que, do ponto de vista do gosto pessoal, esses filmes não despertam o interesse dele.

"Para mim, o cinema girava em torno da revelação estética, emocional e espiritual." Os filmes de heróis, afirmou, não correm risco. 

Scorsese fez algumas das obras-primas do cinema

Martin Scorsese tem uma obra que se estende por décadas e não se resume à direção: ele também é produtor, roteirista, ator e um incentivador da memória do cinema, por meio da restauração de filmes antigos.

Desde seu primeiro sucesso, "Caminhos Perigosos", já com Robert De Niro no elenco, ele foi responsável por algumas das obras-primas do cinema dos anos 1970 para cá. "Táxi Driver", "Touro Indomável", "Os Bons Companheiros" fazem parte deste clube.

O diretor também mostrou que a sociedade norte-americana foi construída com sangue em "Gangues de Nova York", em um salto temporal ao final, com as torres gêmeas ao fundo (o filme estreou um ano depois do ataque ao World Trade Center, em 2001).

Em "A Época da Inocência", o diretor transpôs para o cinema o romance de Edith Wharton sobre a elite nova-iorquina no século 19. Toda a pompa, a cerimônia e os ditos e não ditos dos personagens do livro estão no longa.

De família católica, como um bom descendente de imigrantes italianos, Scorsese abordou a religiosidade em vários filmes. "A Última Tentação de Cristo" é uma nova interpretação da vida de Jesus, e "Silêncio", seu filme anterior a "O Irlandês", narra a história de jesuítas enviados para catequese no Japão. Já "Kundun" acompanha um garoto que sucederá o dalai lama. 

ONDE VER
(preços pesquisados no dia 21 de novembro de 2019)

O IRLANDÊS
Estreia dia 27, na Netflix. Direção: Martin Scorsese. Elenco: Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci

CAMINHOS PERIGOSOS (1973)
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