Avó diz que perdoa neta por família carbonizada, mas quer justiça

"Quero ir até o final. Ela é minha neta, mas não sei descrever mais quem é ela", afirma Vera Lúcia

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São Paulo

Vera Lúcia Chagas Conceição, 57 anos, avó de Ana Flávia Menezes Gonçalves, 24, presa por suspeita de participação na morte dos pais e do irmão, encontrados carbonizados no porta-malas de um carro no último dia 28, em São Bernardo do Campo (ABC), disse que perdoa a neta, mas que não esquece o que ela fez e quer justiça.

"Quero ir até o final e que a justiça seja feita. Ela é minha neta, mas não sei descrever mais quem é ela. Eu via essas histórias e rezava pelas famílias, agora isso aconteceu comigo. Eu perdoo a Ana, mas não esqueço jamais", afirmou Vera à reportagem na manhã deste sábado (8), em São Bernardo do Campo.

Ana Flávia foi presa no dia seguinte ao crime junto com sua namorada, Carina Ramos, 31. Segundo o advogado Lucas Domingos, que defende as duas, elas confessam a participação no planejamento do assalto, mas não do assassinato da família. 

Também estão presos Juliano Ramos Júnior, 22, e Guilherme Ramos da Silva. Jonathan, 23, está foragido. A defesa dos três não foi encontrada pela reportagem.

Vera Lucia Chagas Conceição, 57 anos, avó de Ana Flávia Menezes Gonçalves, durante entrevista em São Bernardo do Campo, neste sábado (8). A neta está presa sob suspeita de participação da morte da família. - Laíssa Barros/Folhapress

"Quando a Carina chegou, tudo mudou", conta Vera sobre a namorada de sua neta. "Gostaria de perguntar para à Ana o por quê disso tudo. Eu tinha esperança que ela não tinha nada a ver com isso, mas segundo as investigações, tem sim. Para mim, foi ganância, de querer dinheiro. Isso foi a motivação. Ela tinha tudo, mas a Carina cresceu o olho nos bens da minha família" afirmou a mãe de Flaviana, 40, sogra de Romuyuki Gonçalves, 43, e avó de Juan, 15. 

Segundo ela, a neta não participava mais das atividades da família depois que começou a namorar Carina. "Em um ano e meio vi elas umas três vezes. Cada vez, a Carina dizia que tinha uma profissão e depois mudava o discurso. Primeiro se apresentou como delegada, depois como enfermeira e depois como vendedora. Sei que elas se conheceram pela internet e Ana deixou seu casamento para ficar com ela, que tinha 3 filhas".

Segundo Vera, que luta há 10 anos contra um câncer de mama, Ana ajudava a cuidar das crianças. "Carina era proibida de entrar no condomínio da minha filha, pois meu genro e ela não gostavam como eram tratados por ela. Muito arrogante, ciumenta e autoritária. Por alguns meses tentaram conviver, mas não deu muito certo. Inclusive ela levava as filhas lá e eram muito bem tratadas pela minha filha.", diz. 

Vera conta que Ana trabalhava com carteira registrada nos quiosques de cosméticos em da família em dois shoppings, de Santo André e Mauá, também no ABC, e que antes do relacionamento com Carina sempre se deu bem com a família. "A gente sempre ia para a praia, sempre estávamos juntos. Depois ela sumiu. Antes era um convívio mil por cento, sem brigas, pelo contrário. Era muito amor e carinho". 
 

O caso

No início da madrugada de 28 de janeiro, a Polícia Militar encontrou na estrada do Montanhão um Jeep Compass em chamas com os corpos de  Romuyuki Gonçalves, 43, da mulher dele, Flaviana, 40, e do filho do casal, Juan, 15, no porta-malas. A família foi rendida na noite do dia 27 na casa onde moravam, em um condomínio em Santo André.

No dia seguinte, a polícia prendeu Ana Flávia e Carina, por suspeita de envolvimento. A casa da família estava toda revirada e no local também foram encontradas marcas de sangue. As duas deram três versões diferentes para o caso. 

Primeiro disseram que a família foi morta por causa de uma dívida de R$ 200 mil com um agiota. Depois alegaram um assalto e por fim admitiram participação no planejamento do roubo, mas não nas mortes, conforme disse o advogado de defesa da dupla, Lucas Domingos.

A última versão foi dada depois que Ramos Júnior foi preso e, em depoimento na segunda-feira (3), disse que as duas não só participaram do assalto como autorizaram o assassinato da família, o que elas negaram em depoimento.
 

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