Distanciamento social impacta na saúde mental das pessoas
Rede de Apoio Solidário e CVV oferecem atendimento psicológico gratuito para as pessoas aturarem a quarentena
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Com a determinação da quarentena no estado de São Paulo há aproximadamente 70 dias, os problemas psicológicos do dia a dia foram potencializados pelo medo de morrer com a doença ou de fome, o que acabou afetando ainda mais a saúde mental das pessoas.
Esses temores aumentaram as sensações de ansiedade, insegurança, tristeza e outros sentimentos diante do isolamento social e das incertezas do futuro.
"Eu diria que as pessoas normais estão com esses medos, porque senão elas não seriam normais. As que já têm neuroses, psicoses e outras coisas mais poderão até negar, e entrar em negação da quarentena. Provavelmente, são as pessoas que estão aí na rua, que não fazem isolamento, que vão para a praia acreditando que é feriado", afirma Maria de Fátima Cardoso da Cunha Mora, 66, presidente da SBPI (Sociedade Brasileira de Psicanálise Integrativa).
Por causa dessa nova realidade, Maria de Fátima se uniu a um grupo de cerca de 150 profissionais para criar a Rede de Apoio Solidário em todo o país, que faz o atendimento psicológico das pessoas que precisem de tratamento durante a quarentena.
Essa rede se junta ao CVV (Centro de Valorização da Vida), que possui cerca de 3.500 voluntários em todo o território nacional para atenderem 24 horas por dia no telefone gratuito 188, por e-mail ou por chat.
Segundo Antonio Batista, que faz atendimentos e também é formador de voluntários, o CVV atende anualmente 3,5 milhões de pessoas, sendo que 90% desse número é pelo telefone.
"Esse número vem crescendo. Em relação à quarentena, ainda não dá para saber se aumentou o número de procura, mas o que podemos perceber é que está muito presente nos contatos falar de isolamento, de sentir-se só, de pessoas com receio de ir para o hospital ou de não poder acompanhar um enterro", diz.
Além de buscar ajuda com profissionais, há algumas formas de manter a saúde mental. Confira abaixo algumas dicas.
SAÚDE MENTAL | CUIDADOS
IMPACTOS DA PANDEMIA
- Desconfiança no processo de gestão e coordenação dos protocolos de biossegurança
- Necessidade de se adaptar aos novos protocolos
- Insegurança pela falta de equipamentos de proteção individual
- Risco de ser infectado e infectar outros
- Sintomas comuns de outros problemas (como febre) podem ser confundidos com Covid-19
- Preocupação por seus filhos ficarem sem a convivência nas escolas, distanciamento da rede socioafetiva: avós, amigos, vizinhos etc
- Risco de agravamento de saúde mental e física de crianças, pessoas com deficiência ou idosos que tenham sido separados de seus pais ou cuidadores devido à quarentena
REAÇÕES MAIS FREQUENTES
Medo de:
- Adoecer e morrer
- Perder as pessoas que amamos
- Perder os meios de subsistência ou não poder trabalhar durante o isolamento e ser demitido
- Ser excluído socialmente por estar associado à doença
- Ser separado de entes queridos e de cuidadores devido ao regime de quarentena
- Não receber um suporte financeiro
- Transmitir o vírus a outras pessoas
É esperado também a sensação recorrente de:
- Impotência perante os acontecimentos
- Irritabilidade
- Angústia
- Tristeza
ESTRATÉGIAS DE CUIDADO PSÍQUICO
- Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar
- Retomar ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional
- Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros)
- Se estiver trabalhando durante a pandemia, fique atento a suas necessidades básicas, faça pausas
- Converse frequentemente com seus familiares e amigos
- Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia
- Verifique se familiares, vizinhos e amigos precisam de ajuda e se disponibilize
- Compartilhe histórias positivas e de esperança vivenciadas em outros locais e por pessoas que enfrentam o novo coronavírus. Mensagens positivas fazem bem
- Evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções
- Tente reduzir seu contato com as notícias relacionadas à doença, principalmente se lhe causam angústia, ansiedade e estresse
- Procure as notícias em fontes confiáveis e mantenha-se conectado aos dispositivos oficiais de comunicação nas redes sociais para diferenciar fatos de boatos
- Não compartilhe informações sem antes checar se são verdadeiras, contribua para minimizar a divulgação de falsas notícias (fake news)
- Estabeleça horários para ler, assistir e ouvir os canais de informação
- Se usar remédios ou realizar terapia, siga com seu tratamento
- Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional
CRIANÇAS
- Observe as crianças e veja como estão lidando com todo esse processo
- Crie jogos e brincadeiras para deixá-las mais à vontade para que possam externar o que estão sentindo
- Uma rotina precisa ser estabelecida, a aprendizagem não pode parar. Reserve um horário e um espaço para que façam suas lições da escola
- Facilite interações com os demais membros da família
- Incentive a ajuda nas tarefas de casa e mostre o valor do aprendizado
IDOSOS
- Compartilhe o que está acontecendo de forma clara, com paciência e delicadeza, explicando as orientações para eles como forma de cuidado para reduzir as chances de infecção
- Incentive-os a cuidar do corpo e fazer atividades que gostam, como dançar, cozinhar, ler, ouvir música, cultivar plantas ou tocar um instrumento
- Mantenha contato com a família, mesmo que por meios virtuais
- Crie uma rotina de tarefas, inclusive, para tomar sol
- Procure jogos de mesa, como damas ou dominó, por exemplo, para jogar junto com a família
- É essencial manter qualquer que seja o tratamento médico que realizam
ALIMENTAÇÃO
- Valorize aquilo que tem em casa, saboreie os alimentos de que mais gosta, preste atenção em tudo que compõe sua refeição
- Procure não “descontar” nos alimentos sua ansiedade ou medo, peça ajuda e estabeleça uma rotina para as refeições
- Cada alimento faz parte de um contexto, portanto, atente-se à hora de comer, curta esse momento, sem culpa
- Terão dias em que você sentirá mais vontade de comer, em outros não será assim e não tem problema. O importante é, sempre que possível, se conectar com sua fome e saciedade
AJUDA
Se precisar de ajuda, encontre em:
Rede de Apoio Solidário:
https://mapasaudemental.com.br/atendimento-online-para-todos-os-publicos/
CVV (Centro de Valorização da Vida)
Fone gratuito: 188
www.
cvv.org.br
Fontes: Fiocruz, Secretaria de Saúde Pública-PA e portal do médico Dráuzio Varella