Neste domingo (31), a aposentada Rosana Aparecida Ferreira Sokabe completa 62 anos e vai festejar dobrado por ter se livrado de uma das piores experiências de sua vida: o novo coronavírus.

Curada de um câncer agressivo no endométrio, que obrigou os médicos a fazerem uma histerectomia total (retirada do útero) há seis anos, ela afirma que não sofreu nada em comparação com o que passou com a Covid-19.

“É uma dor nos pulmões que não tem como explicar. Você puxa o ar e ele não entra. Quando entra, parece que estão enfiando uma faca nas costas, rasgando tudo. É uma dor desesperadora”, lembra.

O drama da ex-bancária começou com uma tosse seca no dia 15 de março. Na noite daquele dia passou a ter febre de 39°C. Mas ela não deu muita atenção. Como é alérgica a analgésicos e antitérmicos, apelou para os costumes de compressa de água fria e álcool embaixo dos braços.

“Fizemos isso a noite inteira e a febre não baixava”, diz ela, que foi levada no dia seguinte ao Hospital Oswaldo Cruz, na Bela Vista (região central de SP), pelo marido, o técnico químico Luiz, 61, e a filha, Luana, 36.

Como a pandemia ainda era novidade no Brasil, o médico suspeitou da gripe H1N1 e a mandou fazer testes, inclusive o da Covid. Os primeiros deram negativo, mas o do coronavírus ainda demoraria 48 horas para sair o resultado. Por isso, ela foi liberada para voltar para casa.

“Na segunda-feira até passei razoavelmente bem, mas, na terça, a febre voltou mais alta e começou a dor nas costas. Então, voltamos para o hospital. Ao contrário da primeira vez, o pronto atendimento estava lotado”, conta Rosana, que fez uma tomografia para comprovar a pneumonia e o novo coronavírus.

Em dez dias de internação, ela foi tratada com antibióticos. E para diminuir as dores e a febre, acabou tomando remédios homeopáticos que o marido mandou fazer e levou ao hospital. Já melhor após esse período, recebeu alta. “A médica falou que a dor já estava controlada e que seria melhor ir para a casa, já que quanto mais tempo no hospital, mais chance de pegar uma infecção”, conta.

No entanto, ela afirma que, por causa das perdas de olfato e paladar e das feridas na boca e no nariz provocadas pelo oxigênio, ela emagreceu e ficou muito fraca, com dificuldade até para andar.

“Após dois dias, feliz por estar em casa, eu acordei com uma dor desesperadora nas costas. Não sabia o que fazer, mas não queria voltar para o hospital. Acho que apaguei e acordei depois como se não tivesse mais nada. Então, resolvi assistir a um pouco de TV. Tomei banho, com a ajuda da minha filha, e fui para a sala. Mas a dor voltou com tudo às 11h e fomos para o hospital.”

Rosana diz que perdeu os sentidos no caminho para o hospital e não viu quando o enfermeiro a pegou no carro para colocar na maca. Só acordou depois, quando uma enfermeira a segurava pela mão, dizendo que estava tudo bem e pedindo para ela tentar respirar.

“Foi traumatizante. O pulmão estava todo cimentado, todo fechado. Essa dor é muito dilacerante, que tem provocado até parada cardíaca nas pessoas. Não aguentam de tanta dor”, diz.

Rosana ficou mais cinco dias no hospital, mas, dessa vez, os médicos encontraram uma forma de diminuir as dores: com adesivos na pele a base de morfina.

Já recuperada, ela faz acompanhamento no hospital e só lamenta as sequelas, que ainda a deixam com falta de ar, além da perda de massa muscular. Acostumada a frequentar a academia três vezes por semana, agora Rosana só aguarda a recuperação total dos pulmões, o que deve demorar até quatro meses.

Ela acredita ter-se contaminado justamente na academia, onde haveria clientes que costumam viajar para fora do país. Por isso, assim que teve a confirmação da Covid-19, ligou para a academia e para outros lugares que frequenta para eles se precaverem. Em casa, tanto o marido quanto a filha pegaram a doença dela, mas foram casos mais leves e se curaram enquanto ela estava internada.

Agora em casa, Rosana voltou a fazer comida congelada e doces para ajudar no orçamento familiar. “Amo cozinhar, é uma terapia.”