Morte de motociclistas cresce durante período de quarentena em SP
Número de vítimas nos meses de março e abril é quase 50% maior que no mesmo período de 2019
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O número de motociclistas mortos em acidentes de trânsito na cidade de São Paulo, em março e abril, subiu quase 50% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Nestes dois últimos meses foi implantada a quarentena por causa do novo coronavírus e cresceu o serviço de entregas para as pessoas que passaram a ficar mais tempo em casa.
Segundo o Infosiga, serviço do governo do estado, gestão João Doria (PSDB), que mapeia os acidentes de trânsito, 56 motociclistas morreram nas cidade em março e abril contra 38 nestes mesmos meses do ano passado, uma alta de 47,3%.
Na comparação somente entre os meses de março, o aumento nas mortes é ainda maior, de 87,5%. No estado, os números também cresceram.
A oscilação dos preços do frete, principalmente pagos por aplicativos de entrega, aliados à mão de obra inexperiente, que aumentou a concorrência por causa da crise provocada pela pandemia da Covid-19, teriam influenciado nas mortes em acidentes, segundo Gilberto Almeida Santos, presidente do SindimotoSP (o sindicato dos motoboys).
“Cada aplicativo tem um modelo de remuneração, isso já prejudica a segurança [financeira] do entregador. E como tem muito trabalhador rodando com moto, o valor do frete despenca também. Com isso, os motoboys se arriscam fazendo várias corridas [sem cuidados] para compensar”, diz.
Os dados coincidem com a diminuição no volume de tráfego na cidade que, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), da gestão Bruno Covas (PSDB), começou a cair em 16 de março, oito dias antes de o governo estadual decretar quarentena, deixando as ruas mais livres.
Em 2 de março, a CET registrou 308 km de lentidão, por volta das 18h30, mesmo horário em que, 14 dias depois, foram constatados 162 km. A partir do dia 24, quando passou a vigorar a quarentena, os índices caíram para abaixo de dois dígitos.
O especialista em trânsito e transporte público Horácio Augusto Figueira atribui à imprudência as mortes de motociclistas na capital, principalmente pelo fato de o volume de veículos ter diminuído na cidade.
“Da varanda de meu apartamento consigo constatar que os motociclistas estão ‘arrepiando’ no trânsito”, afirmou, se referindo à região da Parada Inglesa (zona norte de São Paulo).
Figueira disse que antes da quarentena costumava ir às esquinas do bairro para analisar a conduta dos motoboys. “Posso afirmar que oito em cada dez motociclistas respeitavam o sinal vermelho”, afirmou.
Mesmo os entregadores que passavam no vermelho, acrescentou, ainda reduziam de velocidade, em decorrência do maior volume de veículos antes do isolamento social. Porém, após o início da quarentena, o especialista afirmou já ter testemunhado manobras “piores”, como quando motociclistas não reduziram a velocidade e nem olharam para os lados ao passar por um cruzamento.
“Estes comportamentos indevidos aumentam ainda mais os riscos”, disse.
Crise
Um ex-repositor de estoque, de 35 anos, que pediu para não ter o nome publicado, foi demitido logo após o início da quarentena, com a proibição de abertura da loja onde trabalhava. Não vendo perspectiva de arrumar outro emprego, decidiu transformar sua moto em ferramenta de trabalho.
Em frente a um supermercado da rua Augusta (região central), o agora motoboy afirmou trabalhar, em média, 12 horas por dia. E, mesmo assim, ganhando o suficiente para pagar aluguel, contas e comprar comida. “A concorrência é grande e além das motos, também tem os caras de bike [fazendo entregas].”
O ex-repositor disse testemunhar imprudência de outros motociclistas e confessou burlar regras de trânsito, para concluir rapidamente uma entrega e ficar ponto para outra.
Há cinco anos no ramo de motofrete, Erick Araújo, 27, afirmou que seu faturamento caiu entre 70% e 80%, desde o início a pandemia da Covid-19.
Araújo também notou o aumento de motoboys nas ruas da capital, principalmente novatos. “Os caras basicamente instalam os aplicativos [de entrega] nos celulares e correm, literalmente, para levantar um dinheiro”, afirmou.
Respostas
A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), disse ter firmado um termo de cooperação com empresas de entrega por aplicativo, no ano passado, com medidas de segurança para os motociclistas.
Segundo o termo, acrescentou, as empresas assumiram o compromisso de não estipular metas e prazos de entrega, “visando a segurança dos condutores”.
A Uber Eats afirmou orientar entregadores sobre as regras de trânsito. Também disse que eles estão cobertos por seguro contra acidentes.
Segundo o Ifood, os entregadores que usam o aplicativo “são independentes”. Apesar disso, a empresa disse que os colaboradores cadastrados, desde o fim de 2019, igualmente contam com seguro contra acidente pessoal, e que não desconta valores dos profissionais.
A Rappi também oferece seguro e afirmou que orienta os entregadores sobre regras de trânsito e a usarem equipamentos de proteção pessoal.