Nas duas primeiras vezes em que foi levada pela filha à UPA (Unidade de Pronto Atendimento), por causa de uma falta de ar, a aposentada Maria Suely Ramos de Jesus, 61 anos, foi informada pelo médico que a atendeu que ela estava com pneumonia. Como não melhorava, ela voltou pela terceira vez à unidade e só então o médico verificou que ela estava com o novo coronavírus, por causa dos sintomas típicos, como muita tosse, falta de ar e febre.
Foi um choque tanto para ela quanto para a filha única, Manuela, 40 anos. “Naquele dia minha mãe disse que achava que ia morrer. Quando o médico falou que ela estava com Covid, eu que passei mal e tive de ser amparada pelo enfermeiro da UPA”, conta Manuela, agora tranquila, após a mãe ter se recuperado da doença. Ainda mais com os problemas de saúde dela.
Maria Suely é diabética, com nível alto de glicose no sangue, acima de 500, segundo a filha-- o índice considerado normal é entre 70 e 150. Tanto que há três anos teve as pernas amputadas. Além disso, é hipertensa e já sofreu um infarto. Todas essas comorbidades, além da idade, a colocam no centro do grupo de risco da Covid-19.
“Quando o médico falou que eu estava com o coronavírus, minha filha passou mal porque achou que não ia me ver mais. Ninguém acreditava que eu ia voltar para casa. Mas fui bem tratada, bem cuidada, bem zelada”, diz dona Maria Suely, agradecendo a Deus por não ter passado a doença para ninguém de casa.
Na verdade, ela mora sozinha, perto da filha, mas desde o início da quarentena foi levada para a casa de Manuela, que vive com o marido, Júnio, 36, e os filhos Edson, 22, e Cecília, 15, no Jardim Santa Emília (zona sul de SP). “Como eu trabalho fazendo marmitas, tenho quatro funcionários, e ninguém pegou”, diz Manuela. “Ou todo mundo tem imunidade muito boa ou é um anjo que esteve por aqui.”
Nos nove dias em que ficou internada, dona Maria Suely afirma que os médicos pretendiam intubá-la, mas a baixa imunidade fez com que eles desistissem da ideia. Assim, ela ficou com máscara de oxigênio, sendo monitorada e medicada, mas sem ter notícias reais do seu estado.
“A diabetes não baixava de jeito nenhum e os médicos não me falavam nada. Acho que foi para não me deixarem nervosa. Só num sábado de manhã que apareceu a assistente social e perguntou se eu sabia o que eu tinha. Aí ela falou que todos os exames deram o coronavírus. Foi o dia em que tive alta”, lembra a falante e alegre aposentada, explicando que não tem ideia de como foi contaminada pelo vírus, embora ela se gabe de que tinha a casa sempre cheia de gente. “Tenho muitas amizades.”
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