Casos graves de contaminação por Covid-19 podem provocar sequelas
Recuperados precisam de acompanhamento de profissionais mesmo após receber alta médica
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O novo coronavírus ataca principalmente o pulmão. Mas não só ele. A contaminação pode ter efeitos em outros órgãos importantes. Além disso, recuperar-se da Covid-19 nem sempre significa saúde total, já que a doença pode deixar sequelas. Ainda é preciso mais tempo para estudar a magnitude e o impacto deste cenário.
Segundo Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pacientes que apresentaram quadros mais graves da Covid-19 são mais propensos a desenvolverem sequelas da doença. “Ainda é muito recente para falar de sequelas prolongadas, mas alguns estudos mostram que semanas após a alta existe a prevalência razoável de alterações do sistema respiratório”, afirma Prado, citando redução na capacidade de troca gasosa e dos volumes pulmonares e fibrose.
“A Covid-19 ataca o pulmão, mas promove uma resposta inflamatória sistêmica”, explica Marcelo Queiroga, cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, destacando as possíveis sequelas: insuficiência cardíaca e miocardite (uma inflamação no músculo do coração).
Marcus Tulius Teixeira, neurologista vice-coordenador do Departamento Científico de Neuroinfecção da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), explica que o coronavírus também pode afetar o sistema nervoso, causando quadros como encefalite e encefalopatia, além de AVC (Acidente Vascular Cerebral).
"Embora sejam quadros graves, eles acontecem em um número pequeno de pessoas. Não é motivo de alarme”, explica.
Prado ressalta que, como o novo coronavírus ainda é pouco conhecido, é importante que os pacientes que receberam alta continuem atentos aos sintomas e continuem tendo acompanhamento médico. Nos casos de sintomas mais leves, vale ir até uma unidade de saúde ou consultar o clínico geral. Já casos complexos exigem serviços especializados.
Longo período na UTI exige reabilitação
Pacientes que passam por internações prolongadas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) podem ter sequelas motoras e cognitivas independentemente da doença que levou àquela situação. Gustavo Prado explica que uma parcela dessas pessoas recebe alta e demanda um intenso trabalho de reabilitação depois.
Segundo Prado e Marcus Tulius Teixeira, isso gera sequelas como fadiga crônica, dor muscular, alterações de força muscular, fraqueza, atrofia, transtornos de humor e alterações cognitivas (memória e raciocínio).
Além das complicações individuais da Covid-19, para Prado, a doença pode causar uma “segunda pandemia”, em que pacientes curados com algum nível de sequelas (devido à Covid-19 ou à internação) precisarão de atendimento médico. “O desafio será adequar a estrutura disponível de recursos humanos e físicos”, afirma.
Queiroga complementa com outras ondas que também podem afetar o sistema de saúde, como a de pacientes com outras complicações agudas e doentes crônicos que foram negligenciados para priorizar os casos de Covid-19.
NOVO CORONAVÍRUS | SEQUELAS
A COVID-19
Doença causada pelo novo coronavírus (chamado de Sars-CoV-2) que provoca infecções respiratórias. Como a Covid-19 é muito recente, não é possível falar em sequelas prolongadas. Até o momento, as informações são obtidas com base no que já se sabe de outras infecções respiratórias e observando os casos atuais
Quanto mais grave for a Covid-19, maior a chance de as pessoas desenvolverem sequelas
NO SISTEMA RESPIRATÓRIO
Após a alta, há pacientes com alterações no sistema respiratório como:
Disfunção pulmonar
Redução na capacidade de troca gasosa e difusão
Redução dos volumes pulmonares
Fibrose pulmonar - Se desenvolve a partir da reparação dos tecidos inflamados pela doença. Quando a inflamação regride, o corpo começa a reparar os tecidos. Frequentemente, esse reparo recupera o mesmo formato e função do órgão. Mas, em outros casos, pode levar à formação de uma cicatriz (um tecido mais duro, que não conserva as funções naturais). Este endurecimento no pulmão implica em perda da elasticidade
Embolia pulmonar - Obstrução das artérias dos pulmões por coágulos. A Covid-19 pode levar à formação de coágulos e microcoágulos em partes como o pulmão e o cérebro. Assim, o bloqueio reduz a capacidade de oxigenação do sangue, o que pode levar a uma sobrecarga do coração (alterando seu funcionamento)
Quais são os sintomas?
Falta de ar
Cansaço aos esforços
Diminuição da tolerância das atividades físicas mesmo que habituais
Tosse
NO SISTEMA CARDIOVASCULAR
Com base no que aconteceu com outros vírus, estima-se e observa-se que o coronavírus também possa causar quadros como:
Miocardite viral - Inflamação no músculo do coração. Ela pode interferir na função cardíaca e reduzir sua força. Pode ser transitória ou ficar como sequela
Síndromes coronarianas agudas - Pode levar à redução da função cardíaca ou perda (como um infarto). O infarto da Covid-19 decorre de trombose (formação de coágulos que bloqueiam as artérias)
Deficiência de oxigênio - A falta de oxigênio exige mais do músculo cardíaco, podendo levar à insuficiência cardíaca
Quais são os sintomas?
Cansaço
Falta de ar
Palpitação
Tontura
NO SISTEMA NERVOSO
A ação direta do vírus no sistema nervoso pode levar a algumas raras, mas graves, consequências:
Relação com AVC (Acidente Vascular Cerebral) - A formação de coágulos provocada pelo coronavírus pode causar AVC, mesmo em pacientes sem fatores de risco
Encefalite - Inflamação do sistema nervoso central. Paciente apresenta febre, alteração na consciência e pode ter crise convulsiva
Encefalopatia - Gera quadros de confusão mental, como sonolência e, em casos graves, pode levar ao coma
Cefaleia refratária - Dor de cabeça frequente e de forte intensidade, pode durar dias ou semanas
Perda de olfato - Geralmente, é recuperado algumas semanas após a cura
Quais são os sintomas?
Febre
Alteração sensitiva e motora
Alterações da visão
Dor de cabeça
Fraqueza
Paralisia facial
INTERNAÇÃO PROLONGADA NA UTI
Independentemente da Covid-19, pacientes que passam muito tempo entubados e sedados na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) podem desenvolver:
Fraqueza motora nos membros (braços e perdas)
Atrofia muscular
Dormência
Fadiga crônica
Dor muscular
Alterações cognitivas (na memória e no raciocínio)
Transtornos de humor
Síndrome de estresse pós-traumático
Caso a alta venha acompanhada de alterações como essa, é necessário fazer um trabalho de reabilitação
Atenção: é preciso fazer exames específicos para saber a sua condição
Fontes: Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Marcelo Queiroga, cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC); Marcus Tulius Teixeira, neurologista vice-coordenador do Departamento Científico de Neuroinfecção da ABN; Ministério da saúde