Distanciamento pode provocar mudanças nas relações afetivas
O abraço e o carinho são exemplos do que pode ser mais valorizado depois do fim da quarentena
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O distanciamento social por causa da pandemia do novo coronavírus forçou as pessoas a trocarem o contato físico por telefonemas ou chamadas em vídeo. Esse mundo virtual e o isolamento têm provocado mudanças nas relações afetivas.
“Estamos vivendo algo totalmente atípico”, afirma Marcelo Alves dos Santos, psicólogo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sobre a alteração de comportamento. Ele explica que a imposição do meio virtual para se comunicar gera angústia em algumas pessoas, pois não é possível abraçar e ficar perto de quem se gosta, por exemplo.
A pesquisa “Viver em São Paulo: Especial Pandemia parte 2”, feita pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, no mês de maio, também identificou essa insatisfação com a nova rotina. Segundo o levantamento, as duas coisas que os paulistanos mais sentem falta são o contato físico com pessoas próximas e encontrar as pessoas, mas sem restrições.
Além da angústia pelo distanciamento, o psicólogo ainda aponta que o medo de se infectar pela Covid-19 gera mais tensão ainda. “As relações externas podem ser permeadas por essa desconfiança de também adquirir o vírus, o que é muito negativo”, afirma.
Para Dinael Corrêa de Campos, psicólogo do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a quarentena e a preocupação com a saúde ”possibilitaram a gente repensar no que é importante” de fato. “Vamos aprender que nos cuidar e cuidar de quem a gente ama é o mais importante”, afirma.
Para ele, este momento pode ser usado para se observar e aprender coisas sobre si mesmo. “Quem se conhece, se torna uma pessoa melhor e transforma o seu entorno. É uma reação em cadeia”, explica.
Já em relação aos hábitos adquiridos durante a quarentena, a pesquisa da Rede Nossa São Paulo constatou que os paulistanos estão mais dispostos a poupar dinheiro e higienizar todos os produtos comprados em supermercados e lojas.
Santos diz acreditar que essa preocupação com a higiene irá continuar por muito tempo para que o ambiente doméstico permaneça limpo e isso seja uma forma de afastar doenças. “Muitas famílias vão aderir a esse movimento de forma saudável.”
Campos discorda disso. Segundo ele, nem todos vão adquirir melhores hábitos de higiene após a pandemia, porque não tiveram esse tipo de ensinamento durante a infância. “A questão da prevenção não está incorporada na nossa cultura.”
Solidariedade tende a crescer após a pandemia
Para o psicólogo Marcelo Alves dos Santos, a privação de estar próximo de quem se gosta faz com que as relações humanas fiquem em destaque e “nos sensibilizarmos com o outro é o exercício da nossa humanidade.”
Assim, apesar de as ações de solidariedade não serem novidade, elas têm tido mais visibilidade e se diversificado neste período de pandemia. É o caso, por exemplo, de vizinhos que fazem compras para quem não pode sair de casa. “Acredito que isso veio para ficar”, afirma o psicólogo.
O fato de essas ações terem mais visibilidade também colabora, segundo os especialistas, para que outras pessoas busquem ajudar no que podem e possibilita que as iniciativas sejam replicadas.
Para o psicólogo Dinael Corrêa de Campos, essas ações não irão continuar se deixarem de aparecer na mídia. “Há quanto tempo as pessoas vulneráveis existem? Por que só dar aconchego agora?”, questiona. Segundo ele, seria muito bom que esse olhar para o outro perdurasse na nossa sociedade.
Campos ainda afirma que a tendência é que as pessoas voltem a ter os hábitos que mantinham antes da pandemia. “Uma porcentagem pequena da população vai realmente mudar”, conclui.