Famílias adotam pets em busca de companhia na quarentena
Entidades dizem que interesse triplicou na pandemia, mas alertam sobre necessidade de cuidados
Conteúdo restrito a assinantes e cadastrados
Você atingiu o limite de
5 reportagens
5 reportagens
por mês.
Tenha acesso ilimitado: Assine ou Já é assinante? Faça login
A sensação de que a companhia de um animalzinho pode trazer alegria durante a quarentena tem levado muitas pessoas a procurar cães e gatos para adoção. Mas os bichinhos não são objetos e é preciso ter a certeza de que, com a volta à velha rotina, eles ficarão bem. Entidades sérias buscam essas respostas antes de permitir a ida dos pets para um novo lar.
Já se passavam seis anos da morte do yorkshire Caco, quando a oficial de Justiça Ana Silvia Poço, 53, sentiu-se pronta para ter outro cachorrinho. De quebra, levou dois irmãozinhos, de uma ninhada de 14 que vieram à luz na Uipa (União Internacional Protetora dos Animais). "Como estamos em teletrabalho, vimos uma boa oportunidade para fazer as adaptações. Ensinar a fazer xixi e cocô no lugar certo, por exemplo", diz.
Ana e a filha, a arquiteta Alícia Lerner, 25, estão muito felizes com a chegada de Gal e João Gilberto, a dupla de irmãos. Mas fazem um alerta. "Eu me programei. Quando ficam velhinhos, o gasto é bem maior e jamais conseguiria abandonar", afirma a oficial de Justiça.
Já a filhote Gatita encontrou um lar na casa da assistente financeira Marisa Castilho, 46. A bichana virou também companhia para outra felina, a Canjica. Depois de uns dois dias de estranhamento, as duas não se desgrudaram mais. "Elas dormem abraçadas uma à outra", diz a tutora.
Além de uma amiga para Canjica, Marisa buscava também um sopro de felicidade em meio à pandemia. "A quarentena estressa demais. Gato traz alegria e alivia o estresse, com aquele jeito tranquilo", diz.
Marisa diz que criaria "até lhama" se vivesse em lugar mais espaçoso. Mas é responsável. "Bicho dá trabalho, sim. Eles precisam de cuidado, além do carinho."
Analista financeira adota gata adulta
A analista financeira Patrícia de Alencar Ferreira Gouvea, 34, decidiu se aventurar pelo mundo dos gatos depois de criar um labrador, hoje na casa da mãe dela. Isso depois que um dos filhos sugeriu que fossem atrás de um felino para alegrar a casa.
A família também desejava um filhote, mas foi conquistada por uma gatinha praticamente adulta. "Pensava 'vai que um adulto não se acostuma com a gente?' Mas parecia que, com a patinha, ela estava pedindo para ir embora conosco", afirma Patrícia, sobre a visita ao centro de adoção.
A analista já descobriu também algumas diferenças entre cães e gatos, como o fato de os felinos não curtirem carinhos na barriga e também brincarem um pouco e depois tirarem um longo cochilo. "Você chama a gata pelo nome e ela nem olha para você. Agora, se pega uma bolinha com um cordão, ela vem brincar. Estou pegando dicas com amigos e na internet."
O nome da gatinha veio depois de um acordo entre os irmãos de 15 e 4 anos. Virou Yumi Angela, que não ficará sozinha no apartamento, quando tudo voltar ao normal. "É provável que a empresa adote mais dias de home office. Sempre terá alguém em casa." (WC)
Animais precisam de atenção e cuidado
Não basta demonstrar afeto e boa vontade. Para adotar um animal, é preciso ter tempo livre, condições financeiras e responsabilidade de sobra.
"Quando tudo voltar ao normal, cabe ter um animal na sua vida? O cachorro tem que ser levado para passear. O gato é grudento, quer colo. Se não tem tempo, não adianta", diz a presidente da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais), Vanice Teixeira Orlandi, que viu triplicar o interesse pela adoção na pandemia. "Somos criteriosos. Numa tarde de sábado, chegamos a recusar dez adoções de gatos", conta.
Segundo Vanice, o perfil de interessados é variado, mas é a mulher da casa quem dá a palavra final. "Não sei se porque, no geral, é ela quem vai cuidar mais."
Médica veterinária da Cosap (Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico) da Prefeitura de São Paulo, Telma Rocha Tavares conta com 235 à espera de adoção. Ela diz que a quarentena é um bom momento para fazer as adaptações necessárias ao convívio com o bichinho, mas é preciso responsabilidade.
"Ele vai continuar ao seu lado para o resto da vida. Pode viver 15, 20 anos. Encaixando-se, esse é o melhor momento para se adaptar."
Abandono não tem registro de aumento oficial na pandemia
As especialistas afirmam que não há números oficiais e ressaltam que as pessoas podem ter uma impressão equivocada a respeito de um possível aumento no número de animais abandonados na capital durante a pandemia de coronavírus.
"Neste período, teve muito menos gente circulando pela cidade e as pessoas que já cuidavam de animais nas ruas, oferecendo comida em bares e restaurantes, por exemplo, deixaram de trabalhar", afirma a médica veterinária Telma Rocha Tavares, da Cosap (Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico). "Com as pessoas mais em casa, os animais, que são errantes, começam a circular mais pela cidade. Pode ser um aumento na percepção, mas não um dado real", completa.
DICAS
- Não adote por impulso e se planeje antes de tomar a decisão
- Animais não são objetos e tutores são responsabilizados pela guarda
- Procure entidades sérias que vão ajudar a escolher o animal certo para o seu perfil
- Verifique qual a sua disponibilidade de tempo em um dia normal, não apenas agora durante a quarentena
- Certifique-se de que os gastos com alimentação, banhos, medicamentos e tratamentos médicos cabem no seu bolso
- O animal fará parte da sua vida por muitos anos e isso deve ser levado em consideração
- Jamais abandone um animal adotado
Fontes: Vanice Teixeira Orlandi, presidente da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais), e Telma Rocha Tavares, médica veterinária da Cosap (Coordenadoria de Saúde e Proteção ao Animal Doméstico), da Prefeitura de São Paulo