Polícia investiga maus-tratos em clínicas para recuperação de dependentes químicos em SP
Vídeo mostra um homem amarrado em uma cama sendo agredido com socos no rosto e no peito; donos são indiciados
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A polícia indiciou um homem e uma mulher proprietários de clinicas de reabilitação suspeitos de agredir pacientes, além de mantê-los amarrados a camas, em três unidades da zona sul da capital paulista. A investigação começou após uma denúncia feita pelo Ministério Público de São Paulo, em 7 de junho. A defesa da dupla não foi localizada até a publicação desta reportagem.
Um vídeo enviado ao Agora mostra um dos donos das clínicas, de 61 anos, dando nove socos no rosto e peito de um rapaz, que é mantido amarrado com gazes em uma beliche de madeira. Outro homem dá dois chutes na região da costela da vítima e comenta, após as agressões, ter molhado um dos pés, por causa do colchão que estaria úmido. A data em que o vídeo foi feito não foi informada.
A rapaz amarrado à cama estava na unidade, em Parelheiros, para fazer tratamento contra dependência química, de acordo com a polícia. A identidade dele será mantida em sigilo por questões de segurança.
Da mesma forma que ele, outros dependentes químicos teriam sido vítimas de agressões, segundo depoimento de um ex-funcionário, feito a policiais ligados à 1ª Delegacia Seccional do centro e à Delegacia da Pessoa com Deficiência, na semana passada.
Segundo a testemunha, o proprietário das clinicas e sua sócia, de 60 anos, comandavam “tudo de errado” que acontecia nas unidades. “Não tinha médico, nem enfermeiro. [O suspeito] agredia muito os pacientes, inclusive com pauladas, ele era muito truculento. Os funcionários também agrediam pacientes com pedaços de pau”, diz trecho do relato do ex-funcionário.
Ele continua seu depoimento afirmando que os parentes das vítimas precisavam avisar com antecedência sobre visitas. Caso chegassem de surpresa às clinicas, eram impedidos de entrar. “Ninguém podia entrar na clinica porque eles [suspeitos] tinham que disfarçar as coisas no local, pois não tinha como os familiares chegarem a ver tudo desarrumado e os pacientes amarrados”, afirma trecho de relato da testemunha, acrescentando que nas clínicas havia um “quarto do castigo.”
Investigação
A Polícia Civil iniciou investigação e, no último dia 30, cumpriu três mandados de busca e apreensão, sendo dois em clinicas dos suspeitos, em Parelheiros, e um na residência do proprietário das unidades, em Santo Amaro, também na zona sul. Ninguém foi encontrado em nenhum dos endereços, nem mesmo pacientes.
O chefe de investigação da 1ª Seccional Luiz Carlos Zaparoli, afirmou que apesar de as clinicas estarem vazias, o ambiente e mobiliário provam as péssimas condições em que os dependentes químicos eram mantidos nos locais. “É difícil de acreditar que exista isso nos dias de hoje. Observamos que as clinicas eram preparadas para prática de maus-tratos e tinham condições sub-humana”, afirmou.
Zaparoli acrescentou que o ambiente cheirava a urina, além de contar com amarras, feias de pano ou gaze, em todas as camas --onde pacientes eram mantidos presos com as cordas improvisadas. “Nos foi relatado que as agressões aos pacientes já começavam nas ambulâncias, quando eram levados de suas casas para as clínicas”, compartilhou o investigador.
O policial acrescentou ainda que foram apreendidos prontuários de pacientes, além de computadores, celulares e documentos, que serão analisados para a continuidade do inquérito policial do caso, que por hora está registrado como maus-tratos e lesão corporal.