Descrição de chapéu Centro racismo

Centro de SP ganha estátua em homenagem à Consciência Negra

Obra é uma homenagem ao arquiteto Tebas, negro escravizado durante o século 18

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Fernando Damasceno
São Paulo

As comemorações do Dia da Consciência Negra, nesta sexta (20), terão um evento extra, com a entrega de uma estátua em homenagem ao arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), mais conhecido como Tebas, negro escravizado durante o século 18, até os 57 anos.

A inauguração oficial do monumento será realizada somente no dia 5 de dezembro, mas sua entrega ocorrerá nesta sexta, em ato simbólico pelo Dia da Consciência Negra. A obra do artista plástico Lumumba Afroindígena, 40 anos, e da arquiteta Francine Moura, 43, mede 3,6 m de altura e permanecerá instalada na praça Clóvis Bevilácqua, localizada na face leste da praça da Sé.

A estátua foi uma encomenda da Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSB), e teve um custo de R$ 171 mil. Seus autores se dedicaram por dois meses ao trabalho, que contou com uma equipe formada por 90% de profissionais negros.

“Esse é um aspecto importante para nós, pois precisamos dar oportunidade para que esses profissionais possam mostrar sua arte, sua potência. Precisamos mostrar que temos arquitetos negros, engenheiras negras que são capazes de fazer boas entregas”, pondera Francine.

O artista plástico Lumumba Afroindígena e a arquiteta Francine Moura diante da estátua de Joaquim Pinto de Oliveira, conhecido como Tebas, na Sé, centro de SP - Ronny Santos/Folhapress

Tebas —“alguém de grande habilidade”, na língua quimbundo— nasceu em Santos (72 km de SP), em 1721. Ainda como homem escravizado, foi trazido em 1740 para a capital paulista pelo mestre pedreiro português Bento de Oliveira Lima. Em pouco tempo, sua destreza na técnica da cantaria (talhar de blocos de pedras) ficou famosa e lhe rendeu diversos trabalhos pela cidade.

Em 1778, aos 57 anos, Tebas reuniu recursos para comprar sua alforria —110 anos antes da abolição da escravatura. Entre outras obras, ele construiu em São Paulo a primeira torre da Matriz da Sé (1750) e os ornamentos da Ordem 3ª do Carmo (1775-78), da Ordem 3ª do Seráfico Pai São Francisco (1783) e do Mosteiro de São Bento (1766 e 1798).

Tebas morreu em 1811 (não se sabe se aos 89 ou 90 anos, por sua data exata de nascimento é desconhecida). Em 2018, seu trabalho foi chancelado pelo Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo.

A obra e seus autores

O artista plástico Lumumba Afroindígena e a arquiteta Francine Moura procuraram transmitir em sua obra a expertise e a modernidade de Tebas. Desde o princípio, os dois responsáveis pelo projeto procuraram homenageá-lo de modo que sua expertise e modernidade ficassem nítidas para as gerações atuais e futuras, contribuindo para o legado deixado pelo histórico arquiteto.

Lumumba define a escultura de Tebas como uma obra “afro-futurista”, uma estética cultural que combina ficção científica, fantasia, história e arte africana. Ao construírem uma estátua suspensa no ar, os dois artistas procuraram transmitir uma ideia de ascensão em relação ao período da escravidão. Em relação à escolha dos materiais, ambos procuraram unir o período histórico de Tebas (fazendo uso de uma corrente de ferro) à presente contemporaneidade (utilizando-se do aço inox).

Toda essa simbologia, de acordo com Lumumba e Francine, ficará mais nítida com o passar do tempo, pois a estrutura e os detalhes em ferro ficarão deteriorados de modo proposital. Seu objetivo é fazer um paralelo entre o passado histórico de resistência à escravidão com o avanço das pautas étnico-raciais que vêm ganhando força no Brasil e no mundo.

“Tudo foi pensado para ser uma pose de ascensão. Com as correntes no chão, ele alça um voo para a eternidade. Trata-se de algo que vai além do estético. Há esculturas que exaltam assassinos e genocidas, todos retratados como heróis. É justo que um homem como Tebas renasça como herói”, afirma Lumumba.

Além da ascendência negra em comum, os autores do monumento completam 20 anos de carreira em 2020. O artista plástico já teve trabalhos expostos em espaços como a Funarte, a Matilha Cultural e em espetáculos de óperas infantis no Theatro Municipal de São Paulo. A arquiteta, por sua vez, já possui experiência nas áreas de memória e preservação, além de também atuar como cenógrafa e diretora de arte audiovisual. Seu trabalho mais recente é o da Casa Preta Hub, no Anhangabaú, no centro da cidade.

Serviço

Obra Joaquim Pinto de Oliveira

  • Praça da Sé - Rua Anita Garibaldi, região central de São Paulo
  • Entrega: 20 de novembro de 2020, às 14h
  • Inauguração oficial: 5 de dezembro de 2020

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