Roteiro mostra pontos de visitação da cultura negra em SP

Região central da capital paulista teve quilombo, festas africanas e pelourinho

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São Paulo

Quem pensa que Pelourinho é um bairro que só existe em Salvador (BA) está enganado. No passado, São Paulo também teve um largo do Pelourinho, onde existia uma coluna de pedra usada para torturar negros escravizados da capital. 

Por aqui também existiu um quilombo, um mercado de escravos, festas com rituais africanos, alforriados que eram artistas, negros abolicionistas e até cemitério dos desvalidos. 

A São Paulo de territórios negros é pouco conhecida para a maioria. E, para resgatar um pouco da memória da cultura negra da capital, o Agora levantou alguns destes pontos que podem ser visitados no feriado de quarta-feira (20), quando é comemorado o Dia da Consciência Negra.

Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, na Liberdade (região central), que fica ao lado do antigo cemitério dos Aflitos, onde eram enterrados negros escravizados, condenados pela justiça, indigentes e índios que viveram na cidade nos séculos 18 e 19 - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo o historiador Eribelto Peres Castilho, do Instituto Bixiga de Pesquisa, Formação e Cultura Popular, o negro se insere na cultura paulistana com mais intensidade a partir do século 18, com o início do cultivo da café. "Naquela época, São Paulo não era a potência econômica que conhecemos hoje. Era uma cidade de barro, com casas feitas em taipa e essencialmente indígena", afirma Castilho.

O historiador lembra que, com a exploração do café, os fazendeiros viram nos negros o braço forte de que precisavam. O legado ficou presente na religião, na música, entre outras manifestações.

Serviço

Para quem deseja aprender um pouco mais da história da cultura negra na cidade de São Paulo, há empresas e institutos especializadas em caminhadas pela região central visitando alguns destes pontos.

A Caminhada São Paulo Negra, realizada neste sábado (23) pela operada Black Bird Viagem, vai resgatar as histórias negras do Bixiga.

As histórias são narradas pelo jornalista Guilherme Soares Dias, pela turismóloga Ana Carolina Nyamekye e pelo fotógrafo e produtor cultural Heitor Salatiel. O passeio custa R$ 20, e o ponto de encontro será a escola de Samba Vai Vai, na rua São Vicente, 200, na Bela Vista.

O Instituto Bixiga de Pesquisa, Formação e Cultura Popular também realiza no próximo sábado (23) o RolêSP Territórios Negros no Centro de São Paulo. Será uma aula de campo com os historiadores Danielle Franco da Rocha, Eribelto Peres Castilho e Edimilsom Peres Castilho. O passeio custa R$ 60. Mais informações pelo telefone 2597-0343.

Roteiro dos territórios negros na cidade de São Paulo

  • Antiga igreja N.S. do Rosário dos Homens Pretos

Atual palacete Martinico Prado - praça Antônio Prado - Sé
A igreja foi construída em meados de 1730 por meio de doações obtidas pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Na época, após a missa, eram realizadas as chamadas congadas ou festas de congos feitas pelos escravos negros para lembrar as tradições africanas. Em 1903, a área onde ficava a antiga igreja foi desapropriada para a construção de um prédio comercial e uma nova igreja foi construída no largo do Paissandu, onde existe até hoje

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no largo do Paisandu (centro) - Rubens Cavallari/Folhapress
  • Igreja da Ordem Terceira do Carmo

Avenida Rangel Pestana, 230 - Sé
Os três arcos e ornamentos na fachada de pedra foram feitos pelo arquiteto negro alforriado Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), o Tebas, entre 1772 e 1802, quando a igreja foi ampliada e ganhou um novo frontispício, nome que se dá aos elementos decorativos de uma construção e que indica o período histórico da obra

  • Estátua da Mãe Preta

Largo do Paissandu, s/nº
De autoria de Julio Guerra (1912 - 2001), a obra de arte em bronze foi inaugurada em 1955. O monumento foi uma iniciativa do Clube 220, entidade que congregava agremiações negras do estado de São Paulo, que se empenhou na homenagem à mãe preta em São Paulo.  Transformou-se em local para as comemorações pela libertação dos escravos, no dia 13 de maio e, mais recentemente, também pelo Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro

  • Busto de Luiz Gama

Largo do Arouche, s/nº
Luiz Gama foi um dos principais abolicionistas do século 19 em São Paulo. Ele foi jornalista e advogado e conseguiu libertar mais de 500 negros escravizados. Além do busto no largo do Arouche, Luiz Gama tem sala e quadro com seu nome na Faculdade de Direito da USP

  • Estátua de Zumbi dos Palmares

Praça Antônio Prado
Obra em bronze do artista plástico José Maria Ferreira dos Santos, foi inaugurada em 2016 em homenagem a Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, que lutou pelo fim da escravidão. Ele foi assassinado em 20 de novembro de 1695. A data se tornou o Dia da Consciência Negra em várias cidades brasileiras, como em São Paulo

  • Largo da Banana

Atual viaduto do Pacaembu - Barra Funda
Era onde os negros se reuniam no início do século 20 para esperar os trens que traziam mercadorias do interior. Eles faziam bicos como carregadores. Enquanto esperavam o trem, jogavam cartas ou dançavam tiririca, uma espécie de capoeira

  • Sítio da Ressaca

Rua Nadra Raffoul Mokodsi, 3 - Jabaquara
Foi usada como refúgio de negros que fugiram da escravidão no início do século 18. A casa com data de 1719 foi construída com taipa de pilão e as telhas, de barro, foram feitas pelos escravos. O local é tombado pelo patrimônio histórico da cidade

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