O monotrilho continuará fechado nesta terça-feira (3) para que técnicos concluam a inspeção em todos os 23 trens que circulam na linha 15-prata e encontrem o motivo da falha nos pneus.
Ônibus do sistema Paese transportarão os passageiros gratuitamente entre as estações São Mateus e Vila Prudente das 4h40 à 0h.
Na quinta-feira (27), um pneu de um trem se rompeu quando saía da estação Jardim Planalto, por volta das 6h40. A composição foi recolhida. Ainda no fim de semana, a linha foi fechada e o Metrô realizou testes que constataram a incidência de danos em outros pneus dos trens do monotrilho.
O Metrô disse que a Bombardier, empresa canadense fabricante dos trens, foi acionada “imediatamente” e verificou que os dispositivos chamados “Run Flat” causaram alterações nos pneus. Segundo o Metrô, esses dispositivos ficam nas rodas e garantem a movimentação do trem em casos de anormalidades, como pneus furados ou murchos.
Em nota divulgada no domingo (1º), a Bombardier disse que “por excesso de cautela” recomendou que os 23 trens da frota fossem inspecionados pela “equipe de especialistas do Canadá”. Outros quatros trens fornecidos pela empresa ainda não estão em circulação.
O Metrô disse em nota nesta segunda-feira (2) que está acompanhando os trabalhos de inspeção nos trens, “além de cobrar urgência na solução do problema, para que a linha volte a funcionar”.
Questionada nesta segunda, a Bombardier disse que mantém as informações do comunicado divulgado no domingo. A empresa não explicou, por exemplo, quando pretende concluir a inspeção nos trens.
O coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo, disse que problemas no monotrilho já eram previstos devido a vários problemas no projeto. Um deles é a alta demanda de passageiros, pois a linha tem capacidade para transportar 35 mil pessoas/hora e atualmente já são cerca de 50 mil. Outra preocupação frequente é com a queda de equipamentos na rua, o que já ocorreu.
Sobre a reclamação dos passageiros do sistema Paese, o Metrô disse que nesta terça aumentará de 50 para 60 ônibus articulados.
Dificuldade
A suspensão da operação do monotrilho pegou muitos passageiros de surpresa na manhã desta segunda-feira (2). A previsão inicial era que a linha ficaria fechada até domingo (1º).
O contador Tiago Soares, 32 anos, chegou por volta das 7h30 na estação São Mateus (zona leste). Quando viu que a linha estava fechada, foi para a fila dos ônibus Paese, onde ficou por 40 minutos até conseguir embarcar. Levou três horas para chegar ao trabalho, na avenida Paulista, o que normalmente leva 45 minutos. "É complicado essa situação. Gastam dinheiro e não tem estrutura para atender a população", afirmou.
A estudante Sabrina Lopes de Souza, 21 anos, levou duas horas para ir da estação São Mateus até a universidade, na Vila Prudente, o que faz em 20 minutos. "Eu até tentei pegar o ônibus, mas não tinha. Esperei um pouco, mas achei melhor pegar outro ônibus. Foi horrível porque a única solução que deram não resolveu o problema."
Análise
O engenheiro Peter Alouche, consultor em transporte metroviário, disse que apesar de não saber o que de fato aconteceu na linha 15-prata, ressaltou que a tecnologia do monotrilho tem alguns problemas que já eram previstos desde o início porque são próprios da tecnologia do monotrilho.
Alouche explicou que o o monotrilho necessita de um funcionamento harmônico integrado de todos os componentes: trem, a via de concreto, os pneus, a parte elétrica, eletrônica e principalmente a interface vigas e trem. A linha 15-prata nasceu com alguns "pecados originais" próprios dessa tecnologia que é uma tecnologia nova para nós e que resultaram nas falhas registradas desde o início da operação, em 2015.
Segundo ele, essas falhas estão sendo corrigidas na medida que aparecem. Um dos apontamentos de Alouche é o fato de o monotrilho ter apenas um fornecedor exclusivo da maior parte das peças que compõem os trens, o que dificulta a manutenção que fica na dependência do fornecedor único. "O VLT (Veículo Leve sobre Trilho), por exemplo, tem vários fornecedores intercambiáveis. Já cada monotrilho depende de um único fornecedor", afirmou Alouche.
Outro "pecado original" apontado pelo consultor é o fato de a linha 15-prata rodar sobre pneus de borracha, e não de ferro, como nas demais linhas de metrô. Ele explicou que cada composição de 7 carros têm 28 pneus de carga e 84 pneus guia e cada pneu de carga tem 60 a 80 mil de vida útil. Já as rodas de ferro de um metrô duram até de um a dois milhões de quilômetros ou mais.
"Acredito que a atual diretoria do Metrô, que não foi a responsável pela escolha da tecnologia do monotrilho e sua equipe estão tomando todo cuidado com a segurança dos passageiros e estão corrigindo essas falhas, trabalhando junto com o fornecedor que é muito sério", disse.
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