O ano chega ao fim e, mais que em outros ciclos, esse provavelmente vai se destacar como um período em que muitos dos planos tiveram que ser reconsiderados. Para quem já previa grandes mudanças devido à chegada de um novo membro na família, foi necessário reaprender também uma nova rotina no meio de uma pandemia.

Neste último dia de 2020, o Agora volta a mostrar a história de famílias que estiveram nessas páginas no primeiro dia do ano. Na época, elas esperavam novos dias de tranquilidade e saúde. Mas muitas das expectativas não viraram realidade e alguns planos não puderam ser concretizados.

Para a professora Tânia Magali Santos, 42, nada é por acaso. Um ano atrás, ela e a mulher, a bancária Clarissa Martins Santos Silva, 36, comemoravam a chegada do Gael, adotado aos quatro meses. Agora, o pequeno volta para casa depois de uma cirurgia.

É a segunda chegada dele, exatamente na mesma época do ano. Como se fosse um presente de Natal dando início a um novo ciclo. "Isso nos dá uma segunda nova esperança para o ano que vem."

Segundo Tânia, a quarentena tornou mais difícil apresentar o mundo ao filho, que tem síndrome de Down e requer muitos estímulos sensoriais. Experiências como a ida ao zoológico ou a um concerto --"Ele ama música clássica"-- tiveram que esperar. Para que isso passe a ser possível, é necessário que as pessoas tenham empatia com o vizinho, o que, segundo ela, faltou este ano.

Um "misto de emoções". É assim que Jane Rubia da Silva, 40, define o ano que passou. "Foram muitas mudanças de planos com o carro andando. Um ano movido pelo medo, pelas incertezas, mas sem perder as esperanças", afirma a diretora de escola, que deu a luz a Pedro no fim de março.

O mais difícil, ela diz, foi não poder compartilhar a chegada dele com a família. Ela, o marido Marcos Arlindo da Silva, 40, e o filho Mateus, 6, viveram a chegada do novo membro sem a festa que o evento representa. "Ao mesmo tempo que queria muito que ele chegasse, eu, como mãe, tinha muito medo de tirá-lo da minha barriga, porque a gente não sabia como iam ser os dias."

Valorizar pequenas coisas é a lição que 2020 deixa para a família de Jane. "Aprendemos o quanto a nossa vida é frágil e o quanto a gente precisa valorizar cada minuto vivido, especialmente junto das pessoas que a gente ama, seja fisicamente ou à distância."

Um mês antes, em fevereiro, nascia Caio, primeiro filho da assistente social Priscila Garcia, 32, e o marido, e do pastor Raphael Garcia, 36. Depois de um período de cuidados intensos em casa, como para todo recém-nascido, o casal começou a pensar em alguns passeios com o bebê, mas a época coincidiu com o decreto de quarentena no estado.

Os planos de ir ao parque, aproveitar espaços livres, apresentar o pequeno a familiares, tiveram que ficar para depois. "Um bebê não nasce só para o pai e para a mãe, é para a família toda." Vencer esse período sem a rede de apoio, Priscila diz, foi um desafio.

"Foi um ano bom para nós porque o nosso filho nasceu, mas essa situação mundial nos deixou tristes. Tantas pessoas passando fome e necessidade, adoecendo, não tem como a gente não ficar sensibilizado."

Saúde, educação e empatia são os desejos das famílias para 2021

O desafio de todo ano continua, afirma Priscila Garcia, 32: as crianças precisam de creches, a saúde precisa ser mais eficiente, os serviços precisam de mais qualidade. Mas, antes disso, o sonho de 2021 começa com a vacina contra a Covid-19.

"Que a gente tenha acesso o quanto antes a ela para retomar a vida ao normal. Depois disso, nem temos desejos tão grandes porque a situação que vivemos nos fez repensar muitos valores. Mas só de ter de volta coisas que a gente que nem dava tanto valor já seria bom tamanho."

Para o novo ano, Jane Rubia da Silva, 40, sonha em ver a saúde restabelecida para que as crianças estejam de volta nos corredores das escolas. Mas haverá obstáculos a superar. "Vai ser um desafio encontrar um caminho para que a gente possa trazer de volta para a escola as crianças que ficaram fora e não tiveram apoio da família nesse período."

À saúde, somam-se agora os desejos de empatia, fraternidade e união. É isso o que Tânia Magali Santos, 42, espera do novo ano. Que todos aprendam com o que já passou e com o que ainda está por vir.

A esperança de Tânia é de que o futuro venha com mais vivências, e isso vai ser alcançado com fé na ciência. "A gente quer mostrar o mundo que não conseguiu mostrar pra o Gael. A gente quer, não, a gente vai."