Descrição de chapéu Natal

Papais noéis se adaptam para manter encanto na pandemia

Tecnologia ajuda o bom velhinho a aparecer em chamada de vídeo ou realidade aumentada

São Paulo

Nem os papais noéis escaparam das limitações impostas pela pandemia do novo coronavírus. Velhinhos, eles tiveram que se proteger do contato físico com crianças e adultos nos shoppings, mas nem por isso deixam de retribuir o carinho, esbanjando simpatia em chamadas de vídeo.

A artesã Andréia Sergio, 49, com a filha Adriana Sergio, 11, conversam com o Papai Noel por meio de uma tela instalada no Shopping Pátio Paulista; a menina aprovou a experiência e pediu um videogame - Ronny Santos/Folhapress

Não é a mesma coisa, mas é o possível para o momento. Seja em uma cabine telefônica, como, por exemplo, no Shopping Iguatemi, ou por realidade aumentada e lives, no Center Norte, ele faz questão de estar presente. Direto do Polo Norte, que pode ser um estúdio ou uma salinha adaptada, com todo álcool em gel e segurança, quem interpreta o personagem não esconde a vontade de que a Covid-19 deixe de ser uma ameaça para poder voltar com o “ho, ho, ho” cara a cara no ano que vem.

Faz 12 anos que Orlando Wohnrath Júnior, 69, é o Papai Noel do Shopping Pátio Paulista. Agora, em 2020, ele temeu interromper a sequência. “A gente não sabia como, mas o shopping se prontificou a fazer de uma forma segura”, diz o velhinho, que fica em uma sala da administração e se reveza no atendimento com outro ator. “Sinto muita falta do presencial, que é sempre melhor. Mas está sendo uma experiência boa. Estamos sendo bem assessorados e atingindo o objetivo.”

Atingir o objetivo é levar felicidade e manter a fantasia na vida das pessoas. Se depender da artesã Andréia Sergio, 49, deu certo. Ela visitou o shopping com a filha Adriana, 11. “Todo ano a gente vem, desde que ela era bebezinha. Neste ano, é novo, é diferente e deu curiosidade”, diz. “A gente está passando pela pandemia, tantos problemas, e não se pode perder a magia do bom velhinho”, afirma.

Andréia sonha com o fim da pandemia, um pedido quase universal neste ano. “Para mim, o Papai Noel traz uma paz, uma esperança de futuro melhor. Hoje, muitas pessoas não acreditam mais em nada”, diz.
A filha Adriana diz que acredita “um pouco ainda” no Papai Noel. E sonha com um um videogame.

Pais e mães se esforçam para explicar ausência do bom velhinho

Pais e mães têm se desdobrado para contentar as crianças com as novas formas de Papai Noel motivadas pela pandemia.

O advogado Davi Shin, 32, levou a filha Gabriela, 2, ao Center Norte. “A gente só vem por causa das crianças. Infelizmente, neste ano, a gente ficou trancafiado em casa”, diz. Ele compreendeu a ausência, mas lamentou. “Acho difícil substituir o contato físico.”

“As crianças gostam dele mesmo, de puxar a barba, ganhar bala. Mais graça é só com ele do lado. Precisa dele mesmo, que é a magia do Natal”, afirma a operadora de caixa Elizandra Lauriano, 36 anos, mãe de três filhos de 2, 7 e 14.

“A gente já vem com as crianças em uma quebra de rotina, de entender o que houve com a escolinha, com os amigos, onde está esse mundo que constitui a vida inteira dela”, afirma Fabíola Carlotto, 34, que passeava com a filha Cléo, 4, no Shopping Pátio Paulista.

Estúdio com cenário é local de trabalho de dez velhinhos em SP

Álvaro Blanco Dias, 64, trabalhou como ferramenteiro por 42 anos na GM, em São Caetano do Sul (ABC). Virou Papai Noel em 2005. A pandemia, porém, mudou seu figurino agora neste fim de ano. É de bermuda e camiseta estampada que ele, num cenário praieiro montado em um estúdio na Vila Prudente (zona leste), faz a alegria de crianças a mais de 2.300 quilômetros de distância, em Fortaleza (CE).

O estúdio é um “posto avançado” do Polo Norte, com dez papais noéis que atendem shoppings espalhados pelo Brasil inteiro. “Trabalho do meio-dia às 21h. Tenho um cronograma, faço ligações e mando mensagens também”, afirma. Dias conta que o cachê, neste ano, caiu, em comparação com os trabalhos presenciais de natais anteriores.

Quem enxerga no personagem um símbolo do consumismo não imagina o que se passa na cabeça do velhinho. “O Papai Noel gostaria, muitas vezes, de resolver questões sociais. Crianças em zona de conflito armado, com problemas de saúde. São coisas fora da normalidade o que vemos”, diz.

Sobre os meninos e meninas cearenses, Dias conta que, muitas vezes, os pedidos são singelos, diferentes daqueles que, muitas vezes, são feitos ao lado dos pais dentro dos shoppings. Pedem de estilingue a bolas de gude, conta ele.

Família paga teste do coronavírus para manter tradição natalina

Antes de descer pelas chaminés mundo afora, papais noéis estão sendo convidados até a fazer exame de Covid-19. Essa tem sido a exigência de clientes que querem a magia natalina, mas sem perder a saúde.

E nem todo exame para atestar que o bom velhinho está livre do coronavírus é suficiente, segundo o Papai Noel Renato Souza, 70 anos. “Fiz o teste mais comum, do sangue, no início da semana. Mas a cliente não quis. Ela está até me pagando para fazer o PCR”, conta. Tem gente que até pediu para o Papai Noel segurar a barba para fazer a apresentação na ceia presencialmente, quando chegar a vacina, mesmo que no meio do ano que vem.

Souza, que também faz apresentações a distância, conta que está praticamente com a agenda fechada para os dias 24 e 25, o que é uma exceção em relação a outros intérpretes do Papai Noel. Além de vestir a fantasia, ele também redistribui o serviço para outros colegas.

O Papai Noel conta que, mesmo com a chegada da vacina e de uma certa normalidade, os trabalhos a distância deverão continuar. “Tenho certeza de que mudou o quadro, como tudo que mudou no dia a dia. Veio para ficar. Tem que se adaptar, porque não vai embora, mesmo com término da pandemia”, diz.

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