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Capital paulista tem 481 áreas com risco de deslizamentos

Chuvas de verão aumentam as chances de morro vir abaixo ou de margens de córregos solaparem

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São Paulo

O verão traz chuvas e insegurança para moradores de 481 pontos da capital paulista identificados pela Defesa Civil do município como áreas de risco para deslizamentos de terra. Das 32 subprefeituras, apenas quatro (Sé, Vila Mariana, Pinheiros e Mooca, todas no centro expandido) estão fora da lista com lugares onde pode ocorrer escorregamento ou solapamento, os nomes técnicos para esse tipo de problema que desaloja e mata pessoas.

No ranking dos lugares com maior número de áreas de risco para deslizamento, a zona sul precisa de atenção. Três subprefeituras da região lideram a lista (veja ao lado), com destaque para a do M’Boi Mirim, com sua infinidade de morros espalhados por bairros como Capão Redondo e
Jardim Angela.

Alguns lugares chamam a atenção por estarem sujeitos tanto a escorregamento (quando o morro vem abaixo, por exemplo), quanto a solapamento (a margem de um rio ou córrego cede). Na subprefeitura do M’Boi Mirim, das 60 áreas de risco, 12 estão sujeitas aos dois.

O temor de que ocorra uma tragédia na cidade é grande e levou o Ministério Público Estadual a ingressar, em 17 de dezembro, com uma ação civil pública contra o município, visando a segurança da população mais vulnerável e o direito à moradia digna.

Na rua Pandalhos, no Capão Redondo 15 casas foram arrastadas por uma avalanche de terra após um temporal em fevereiro de 2019. Por milagre, ninguém morreu. Quase dois anos depois, a ameaça de um novo deslizamento é visível e preocupa quem, sem opção, se vê obrigado a morar no local.

A dona de casa Melry Silva, 29 anos, não deixa nenhum dos quatro filhos, de 3 a 9 anos, brincar ao redor do barranco da Pandalhos. “Quando está chovendo, estala tudo. O medo é de cair. Esse barro é todo solto e todo mundo sabe disso”, afirma. “Todo mundo só passa do outro lado da rua. E, quando passa de carro, passa voando”, completa.

“Quando venho de Uber, para cá os motoristas comentam que é perigoso. Se cair uma casa, caem todas”, conta o tatuador Rafael Sampaio, 30, que também mora no local.

Chuvas acima da média em janeiro

O mês de janeiro é, historicamente, o mais chuvoso do ano em São Paulo e a previsão para 2021 é de que se mantenha na média ou um pouco acima de verões anteriores, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências). De forma geral, são acumulados 257,5 mm e chove em 24 dos 31 dias do mês.

“Podemos até ter algo acima, mas próximo desse valor [257,5 mm]. Não será um verão com chuvas mais intensas do que o normal”, afirma o meteorologista do CGE Thomaz Garcia.

Segundo Garcia, também não haverá um período no mês que se destaque pelo volume de chuvas. A previsão aponta apenas que, após alguns dias de trégua, os temporais devem voltar a partir da quarta-feira (6). O meteorologista afirma que, como em todo verão, são comuns períodos de 72 horas com mais de 50 mm, o que favorece a ocorrência de escorregamentos e solapamentos. Com relação às temperaturas, a previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) é de que fiquem ligeiramente acima da média em todo o estado de São Paulo.

Sinais

Promotor da campanha Construindo Cidades Resilientes, da ONU (Organização das Nações Unidas), no Brasil, o especialista Sidnei Furtado afirma que há sinais de que o solo pode ceder.

Ele diz também que o morador deve sempre estar atento a isso, principalmente durante o período mais chuvoso do ano, quando esse tipo de tragédia é mais frequente.

Tudo começa por detectar anormalidades no dia a dia, após chuvas intensas. Água barrenta, trincas e fissuras nas paredes, vegetação entortada e deslocamento de pedras são alguns do avisos de que alguma coisa está errada. “O próprio cidadão deve adotar as medidas de orientação e monitoramento. Chuva contínua, excessiva, está solapando o solo e a qualquer momento pode descer tudo”, diz.

Furtado afirma também que é importante o morador entrar em contato com a defesa civil do município sempre que notar algo fora do normal. “Ele deve ligar no 199 e pedir uma vistoria preventiva para ver se tem alguma alteração ou não”, afirma. “Se não houver envolvimento da comunidade e da defesa civil, não tem jeito. É muito importante.”

Segundo o representante da campanha da ONU, escorregamentos e solapamentos costumam ser mais traiçoeiros em madrugadas muito chuvosas, daí a importância de redobrar a atenção. “As pessoas estão dormindo e não terão tempo de fugir e se socorrer”, conta.

Prefeitura diz ter plano

A Prefeitura de São Paulo, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou, em nota, que tem um plano de ação para atuação em áreas de risco. Disse também que o novo mapeamento informado pela Defesa Civil ao Agora é “parte fundamental desse processo de mitigação de danos e atendimento a pessoas em situação vulnerável”.

“O município permanece sempre à disposição dos órgãos de controle e segue seu planejamento, inclusive com dados atualizados, como a própria reportagem pode constatar ao analisar o já citado mapeamento das áreas de risco”, afirmou administração municipal, em nota.

Segundo a prefeitura, após o recesso do Poder Judiciário neste início da ano, a administração municipal irá se manifestar em juízo “no momento oportuno”, ocasião em que diz
que prestará todos os esclarecimentos necessários sobre o assunto.

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