Sambódromo do Anhembi completa 30 anos sem Carnaval

Apaixonados pela folia de fevereiro contam histórias do palco do samba da cidade de São Paulo

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São Paulo

Projetado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, o Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo, popularmente conhecido como Sambódromo do Anhembi, na zona norte, completa 30 anos nesta segunda-feira (1º).

Falar do Sambódromo é contar a história do desenvolvimento da cidade de São Paulo. E o músico Carlos Júnior, o Carlão, 44 anos, viu tudo acontecer de perto.

Com passagens como intérprete de samba-enredo e compositor por escolas de samba como Vai-Vai, Camisa Verde e Branco e, atualmente, Império de Casa Verde, ele diz que participou de todos os 29 carnavais que já aconteceram desde a inauguração, em 1991, e virou sambista nesse ambiente.

“O crescimento do Sambódromo, que eu vi nascer, acompanha o crescimento da minha vida pessoal e profissional, assim como das escolas de samba também. Com o Sambódromo, o Carnaval de São Paulo se profissionalizou. Foi o maior palco que já pisei na carreira.”

O 30º Carnaval de Carlão, e do Sambódromo, seria agora, em fevereiro, mas a festa foi adiada indeterminadamente por causa da crise sanitária da pandemia do novo coronavírus.

Carlão lembra que sua estreia ali foi na bateria em três escolas: Passos de Ouro, X-9 Paulistana e Acadêmicos do Tucuruvi.

“Naquela lateral, onde hoje ficam as entradas e as lanchonetes, era tudo barro antes da reforma, em 1996. Usávamos a mesma roupa para tocar nas escolas, só trocávamos o abadá e o chapéu. Só que dois dos desfiles eram na sequência e, no fim da primeira, tive que sair correndo para já iniciar na outra. Mas fiquei atolado na lama porque tinha chovido. Era assim, mas tinha uma atmosfera muito bacana, todo o pessoal do samba se reunia ali”, conta o sambista.

A aposentada Fatima Salomão, 67, viu a evolução do Carnaval paulistano até a inauguração do Sambódromo. Ela era funcionária da Paulistur (atual SPTuris) e trabalhava no Anhembi em diversas funções.

“Eu sou da época que o Carnaval era na avenida São João. Depois, na Tiradentes”, afirma. “Mas com o Sambódromo houve mais luxo, mais organização e tudo ficou bem mais bonito. Mudou muito. Mas a emoção de ver uma escola entrando na passarela era a mesma”, afirma.

No último Carnaval, a recepcionista Gabriela Lelis, 28, desfilou grávida de seis meses de Aretha pela Imperador do Ipiranga. “Emoção dupla, entrar e ver aqueles arcos da passarela e estar ali com o amor da minha vida na barriga. Foi mágico.”

O Sambódromo já recepcionou megaeventos, como a Fórmula Indy 300, e shows como Aerosmith, Elton John, Ozzy Osbourne e Amy Winehouse (1983-2011) em uma de suas últimas apresentações. Ivete Sangalo, Thiaguinho, Wesley Safadão e Luan Santana já se apresentaram no local.

Passarela do samba deve ter concessão

Inaugurado em 1º de fevereiro de 1991 pela então prefeita Luiza Erundina (que era do PT), o Sambódromo é uma referência cultural da cidade, segundo Alê Youssef, secretário municipal da Cultura da atual gestão, de Bruno Covas (PSDB).

"É o palco da maior festa, consagrou São Paulo como um dos maiores carnavais do Brasil, foi desenvolvido pelo Oscar Niemeyer e batizado com o nome do Grande Otelo. Merece todas as honras e palmas nesses 30 anos”, diz Youssef ao Agora.

De acordo com o secretário, o Carnaval na passarela do samba não tem nova data. “Precisamos ter responsabilidade em primeiro lugar. Vai acontecer após a imunização. Mas estamos disponibilizando vivências online. Não é como gostaríamos, mas passa essa mensagem de conscientização enquanto esperamos o Carnaval chegar.”

Youssef se refere ao festival Tô Me Guardando, que terá apresentações virtuais e gratuitas, com transmissão em redes sociais.

A prefeitura confirma que o Carnaval está condicionado às questões de saúde pública pela pandemia, e que tem conversado com as instituições carnavalescas, que concordaram com a necessidade de mudança da data.

A SPTuris (São Paulo Turismo), em nota, afirma que foi publicada a convocação à concessão do Complexo Anhembi, que inclui o Sambódromo, para assinatura do contrato até 8 de março, passível de prorrogação.

Youssef reforça, ainda, a importância econômica e social do Sambódromo para a cidade de São Paulo e também cita o Carnaval de rua. "Esses eventos geram muitos empregos o ano todo. No Carnaval de 2020, o Carnaval injetou R$ 2,75 bilhões na economia da cidade, um crescimento de 31% em relação a 2019. O público total foi de 15 milhões. Não se pode ignorar esses números, essa força carnavalesca."

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