Descrição de chapéu Zona Sul Coronavírus

Funcionários denunciam abandono em hospital estadual na zona sul de SP

Complexo de Heliópolis está com alas desativadas e equipamentos abandonados; Secretaria afirma que há obras no local

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São Paulo

Funcionários do Complexo Hospitalar de Heliópolis, na zona sul da capital paulista, dizem que ao menos 112 leitos não estão sendo usados em quatro alas desativadas em estado de abandono na unidade de saúde, uma delas há cerca de cinco anos.

A reportagem teve acesso a um vídeo, feito com celular no último dia 23, no qual é mostrado o nono andar do hospital, desativado e com equipamentos se deteriorando, entre eles macas, prontuários de pacientes e até bisturis elétricos usados em cirurgias. Nas duas alas do andar poderiam funcionar até 56 leitos, segundo um funcionário da unidade afirmou ao Agora, sob anonimato.

A Secretaria Estadual da Saúde, gestão João Doria (PSDB), nega o abandono e diz que obras estão sendo realizadas no hospital.

As imagens feitas no nono andar, porém, mostram o teto tomado por infiltrações, resultando no desprendimento de tinta, que cai no chão, além do abandono de equipamentos e ausência de vasos sanitários em alguns banheiros.

No último dia 22, o governador João Doria (PSDB) anunciou que iria reativar o hospital de campanha de Heliópolis para tratar casos de Covid-19, no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Barradas, que foi fechado em setembro do ano passado, com a diminuição nas internações pelo novo coronavírus, que voltaram a crescer.

O local, segundo o tucano, disponibilizará 24 leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) para pacientes com Covid-19. Funcionários do complexo hospitalar, que fica a cerca de 800 metros do hospital de campanha, criticam a medida.

Além do nono andar inoperante, o funcionário afirmou que o lado par do quinto andar e o ímpar, do quarto, também estão desativados. Os locais, acrescentou o servidor, poderiam abrigar ao todo 112 leitos. “Outros oito leitos, da unidade de tratamento semi-intensivo, também estão parados”, acrescentou o funcionário.

Ele explicou ainda que o lado par, do nono andar, está desativado há cerca de cinco anos e, o ímpar, há cerca de três anos.

Já o lado ímpar do quarto andar está lacrado há cerca de um ano e o lado par, do quinto andar, foi desativado desde o início da quarentena, em março do ano passado.

“Mesmo antes destas alas serem interditadas, a gente trabalhava em condições insalubres, em meio a vazamento de água no teto e nos banheiros. O esgoto também entope com constância”, relatou. As imagens feitas com celular mostram infiltrações em todo o nono andar da unidade, além de mofo.

Funcionários do complexo hospitalar da zona sul chegam a bancar do próprio bolso a compra de resistências para chuveiros, quando os equipamentos param de funcionar adequadamente, disse ainda o servidor.

Resposta

A Secretaria Estadual da Saúde, sob gestão de João Doria (PSDB), afirmou que as denúncias recebidas pela reportagem estão pautadas por pessoas que "desconhecem as medidas de melhoria em andamento no hospital."

"Para garantir atendimento, o Conjunto Hospitalar de Heliópolis segue funcionando mesmo com obras em curso, realocando atividades para manutenção em alas específicas. É o que ocorre no nono andar, que passa por reparos de infraestrutura, e justamente por isso a semi-intensiva foi realocada no primeiro andar do hospital", diz trecho de nota.

A pasta acrescentou que obras no quarto e quinto andares da unidade "seguem o mesmo raciocínio: melhorar o ambiente sem prejudicar a assistência". As "intervenções", ainda de acordo com o governo estadual, serão concluídas ainda neste ano.

O complexo hospitalar da zona sul, afirmou ainda a Saúde, atende casos gravíssimos e de alta complexidade, como câncer. Por causa disso, acrescentou, estabeleceu referências regionais para atendimento à casos de Covid-19, como o Hospital Ipiranga, também na zona sul.

Prazo para contratar concursados “caducou”

Mais de 200 enfermeiros que passaram em concurso público do governo do estado, em 2017, perderam a chance de trabalhar permanentemente em hospitais estaduais no último dia 18, data limite para a contratação dos profissionais da saúde.

Alguns deles já entraram com mandados de segurança civil, contra o governo estadual, para tentar reverter a situação.

Um deles é o enfermeiro Fabio Januario Sousa, 39 anos, que afirma ter assinado um documento do governo estadual, no qual manifestava querer trabalhar no complexo de Heliópolis.

“Eu ocupava um cargo de gerência em Guarulhos [Grande SP], onde trabalhava no horário comercial. Como assinei o documento [do estado] afirmando que queria trabalhar no [hospital de] Heliópolis, pedi para sair do cargo de chefia”, explicou.

Como é concursado da Prefeitura de Guarulhos, após abdicar da função de gestor, Sousa voltou a atuar somente como enfermeiro, no período noturno, achando que seria chamado para trabalhar durante o dia na zona sul da capital paulista. “Isso me prejudicou muito, pois abri mão de um cargo, em que ganhava 70% em cima da base [salarial], acreditando que seria efetivado em uma vaga que já ‘caducou’ [expirou].”

A advogada Érica Helena Soriano de Oliveira acompanha o caso de Sousa e de mais de 20 outros enfermeiros que prestaram o mesmo concurso. Ela afirmou considerar inconstitucional a situação vivenciada pelos profissionais da saúde.

O enfermeiro Milson Passos, 42 anos, também passou no mesmo concurso que Sousa. Ele é concursado de rede municipal no ABC.

“O governo estadual enrolou para contratar profissionais concursados quando a saúde pública mais precisa deles [pandemia da Covid-19]”, desabafou.

Ele também acionou o governo do estado judicialmente para tentar reverter a situação e ser contratado pelo concurso em que passou.

Daniela Gomes Resende de Barros, defensora de três enfermeiros, afirmou que o governo estadual "é obrigado" a nomear os enfermeiros "dentro do prazo de validade do concurso".

"A minha estratégia é obrigar o estado a nomear [os enfermeiros], porque existe a vaga. Houve vacância do cargo e estão preterindo [desprezando] os concursados através de contratos com outros enfermeiros com prazo determinado", salientou.

Sobre o vencimento do prazo para chamamento de enfermeiros que passaram em concurso, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou ter contratado "por tempo determinado", no ano passado, 272 profissionais de enfermagem remanescentes do concurso ocorrido em 2015.

"A contratação de remanescentes de concursos ocorre mediante a demanda da rede hospitalar e depende também da anuência dos participantes", afirma.

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