Descrição de chapéu Coronavírus

Programa para contratação de mães exclui creche conveniada em SP

Apenas unidades de ensino da administração da prefeitura serão contempladas com reforço

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Clayton Freitas Gabriela Bonin
São Paulo

O programa da Prefeitura de São Paulo de colocar 4.590 mães para atuarem como monitoras de protocolos sanitários deixará de fora 2.156 creches conveniadas da rede municipal.

Segundo a gestão Bruno Covas (PSDB), apenas as unidades da administração direta receberão o programa.

A cidade de São Paulo conta com cerca de 4.000 escolas onde estão matriculados perto de 1 milhão de estudantes. Apenas 38,3% (ou 1.535) são da administração direta.

As demais (62,7%) são mantidas por meio de convênios com organizações sociais, que recebem repasses mensais da prefeitura para manter o serviço --também são terceirizadas na rede municipal 344 unidades do Mova (Movimentos de Alfabetização de Jovens e Adultos). Do total de creches, 362 são de administração direta.

Funcionária de creche na zola leste de São Paulo coloca cartaz alertando sobre o novo coronavírus - Rivaldo Gomes - 16.mar.20/Folhapress

A ajuda das mães seria bem-vinda, segundo supervisora de uma creche da zona leste da capital. "Normalmente as equipes já são reduzidas e têm dificuldades para atender a todos, e qualquer ajuda é muito válida. É um reforço que faria toda a diferença se pudéssemos contar", afirma.

O trabalho a ser realizado pelas mães consiste em averiguar se os alunos estão respeitando os protocolos sanitários de prevenção ao novo coronavírus, tais como o uso correto das máscaras de proteção, o distanciamento social, a higienização correta das mãos e o uso do álcool em gel.

Em dois dias de inscrições, mais de 91 mil mulheres se candidataram e a seleção será feita até esta quarta-feira (24). Pelo trabalho de 30 horas semanais, cada uma receberá R$ 1.150.

O presidente do Semeei (Sindicato dos Estabelecimentos Mantenedores de Escola de Educação Infantil do Município de São Paulo), Eliomar Pereira, avalia que a contratação, porém, não trará contribuição.
"É uma mão de obra não especializada, sem treinamento e que tem efeitos práticos muito pequenos."

O Sintraemfa (Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência a Criança e ao Adolescente do Estado de São Paulo) admite que "infelizmente as OSCs (organizações de sociedade civil) não têm como arcar com a remuneração das mães.

Especialista fala em dupla desigualdade

Para Romualdo Portela de Oliveira, diretor de pesquisa e avaliação do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), a ausência de agentes de protocolo contra a Covid-19 nas creches conveniadas demonstram o que ele classificou como “dupla desigualdade”.

“A rede direta tem melhores condições do que a conveniada. As conveniadas existem porque o poder público não quer gastar com sua rede direta. Se visitarmos essas escolas certamente veremos que são as que mais precisam, já que, muitas vezes, têm problemas de espaços físicos, estão em casas adaptadas. É uma dupla desigualdade. Em princípio, não é adequado”, afirma.

Oliveira defende que as equipes sejam compostas por profissionais da área de educação. Apesar de paliativa, ele ressalta a importância do trabalho de reforço. “Qualquer tratamento desigual é inconveniente. Faz com que alguns tenham mais privilégios do que outros. É uma solução paliativa. Porém, é melhor ter do que não ter”, afirmou.

Resposta

"As unidades parceiras possuem funcionários contratados pela organização social conveniada e seguem os mesmos protocolos das autoridades de saúde do município", diz a prefeitura.

Notícias relacionadas