Internet vira esperança do comércio na quarentena mais rígida em SP
A partir deste sábado (6), atividades não essenciais ficarão proibidas de funcionar presencialmente no estado
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Com a proibição do funcionamento do comércio presencial a partir deste sábado (6), lojistas de São Paulo irão utilizar a internet para tentar manter as vendas e diminuir os impactos econômicos do fechamento temporário. Mesmo assim, as lojas populares esperam queda no faturamento.
Empresários do setor avaliam que, principalmente no comércio popular, as vendas online não representam grande parte da receita. Isso porque, segundo dizem, nesse tipo de loja os clientes preferem fazer as compras presencialmente.
Proprietária de uma loja de produtos de beleza em uma galeria na rua 25 de Março (centro de São Paulo), Rosângela Barbosa, 31 anos, afirma que usará aplicativos de mensagens e redes sociais para tentar vender suas mercadorias enquanto durar a fase vermelha do Plano São Paulo. "Mas, mesmo assim, o faturamento cai uns 80% se ficar só pela internet", lamenta.
Na opinião dela, deveria ter sido feito um lockdown severo logo no início da pandemia, no ano passado, para controlar a disseminação do coronavírus. "Se tivesse ficado fechado de verdade lá atrás, não seria necessário fazer isso agora", comenta.
O comerciante Jorge Salomão, 55 anos, dono de uma loja de produtos infantis na mesma galeria, usará a mesma estratégia. Ele estima uma queda de 30% a 50% no faturamento com as vendas online.
Salomão critica a decisão do governo João Doria (PSDB) pelo endurecimento da quarentena. "É uma hipocrisia. No comércio, a gente segue os protocolos, mantemos o distanciamento. Eles deveriam fiscalizar o transporte coletivo lotado e os eventos clandestinos", diz.
Já Valter Vidal, 52 anos, gerente de uma loja de tecidos, se mostra dividido sobre o fechamento do comércio. "Por um lado, é bom para diminuir a circulação do vírus. Mas, por outro, é péssimo para a economia, já que pode haver demissões", pondera.
Enquanto a fase vermelha estiver vigente, os consumidores também pretendem usar o computador e o celular para fazer compras. "Se precisar de algo, o jeito é comprar pela internet. Mas não gosto. Prefiro ir na loja, olhar tudo, tirar dúvidas", diz a diarista Cláudia Regina de Lima, 37 anos.
"Também evito comprar pela internet. Já tive problemas com a entrega e com cobranças indevidas. Então, prefiro vir à loja", acrescenta a dona de casa Marta Cândido Ferreira, 58 anos.
Descumprimento de protocolos
Apesar de os comerciantes dizerem que seguem os protocolos de prevenção contra a Covid-19, diversas pessoas foram vistas na manhã desta quinta-feira (4) sem máscara na 25 de Março e ruas do entorno, como a Ladeira Porto Geral.
Muitos dos que não usavam o item de proteção facial eram vendedores ambulantes, que, além de estarem sem máscaras, gritavam a plenos pulmões no meio dos pedestres para oferecer seus produtos ou serviços.
A região estava bastante cheia nesta quarta, com vários pontos de aglomeração, principalmente nas calçadas. Alguns pedestres optavam por andar pela rua, para tentar se afastar um pouco das outras pessoas.
Policiais militares foram vistos nas vias, mas em nenhum momento solicitaram a alguém para que usasse a máscara ou cumprisse o distanciamento social.
Fechamento preocupa associações empresariais
Representantes de associações de comerciantes demonstram preocupação com o novo decreto que proíbe o funcionamento presencial das atividades consideradas como não essenciais.
"A decisão não nos surpreendeu, já que a situação da pandemia vem piorando. Mas fica a frustração, já que o comerciante não é propagador do vírus", diz Lauro Pimenta, conselheiro executivo da Alobrás (Associação de Lojistas do Brás).
Ele afirma que deveria haver aumento da fiscalização de atividades irregulares, como os eventos clandestinos. "A luta tem que ser conjunta. Não é uma luta só de quem tem CNPJ. Todo mundo precisa estar inserido", acrescenta.
"Nós estamos muito preocupados. É uma coisa horrorosa para quem já está quebrado, devendo, numa situação difícil. Lockdown é tudo que não seria interessante neste momento", comenta Percival Maricato, presidente do conselho estadual da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) de São Paulo.
Apesar disso, Maricato diz que a entidade apoia a decisão do governo paulista, mas que também irá cobrar a fiscalização de eventos clandestinos e de superlotação no transporte público.
A APECC (Associação Paulista dos Empreendedores do Circuito das Compras) enviou uma carta ao governo de São Paulo pedindo que as lojas possam permanecer abertas. "Propomos a celebração de um pacto pela vida respeitando o comércio seguro, viabilizando uma solução dentro dos padrões sanitários que permita a abertura do comércio com segurança aos usuários e colaboradores, objetivando manter os empregos e mitigar os efeitos devastadores da pandemia", diz o texto.
Resposta
A Secretaria de Estado da Segurança Pública, gestão João Doria (PSDB), diz, em nota, que a Polícia Militar presta apoio aos órgãos municipais e vigilância sanitária, responsáveis pelas fiscalizações, sempre que é solicitada. Ainda, reforça o policiamento ostensivo e preventivo, quando necessário, com base em planejamento estratégico.
Questionada sobre o desrespeito aos protocolos de prevenção contra a Covid-19 na região central de São Paulo, a Prefeitura de SP, gestão Bruno Covas (PSDB), enviou somente uma cópia do decreto assinado pelo prefeito na quarta (3), que regulamenta as medidas a serem adotadas na cidade durante a vigência da fase vermelha.