O primeiro dia da fase emergencial, a mais restritiva do Plano São Paulo para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, tirou 1,6 milhão de veículos das ruas da cidade de São Paulo nesta segunda-feira (15). O número é 28,5% inferior ao da segunda-feira da semana passada, dia 8 de março, quando teve início a fase vermelha em todo o estado.

Análise de boletins de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que trazem dados da média de congestionamento, a quantidade de frota circulante, número de passageiros transportados e ônibus, indica que no dia 8 de março, 5,6 milhões de veículos rodaram pelas ruas da capital, volume que caiu para 4 milhões nesta segunda-feira (15).

Como reflexo, a média de lentidão registrada nessa segunda-feira foi de 13 km, menos da metade dos 28 km anotados no dia 8.

A quantidade de passageiros dos ônibus municipais também tiveram redução, porém, menor, de 11,2% – passou de 1,6 milhão no dia 8 para 1,5 milhão na segunda-feira.

A atual regra, mais dura do que a etapa vermelha, deve ir até o dia 30 de março e impõe uma série de restrições adicionais. Atividades comerciais que mantinham as portas abertas mesmo na fase vermelha, tais como lojas de materiais de construção, agora não podem mais funcionar. Celebrações religiosas e jogos de futebol também foram suspensos, bem como as aulas, uso de praias e parques.

Além disso, o consumo de alimentos em bares e restaurantes está vetado, bem como a retirada no local desses produtos e limitação de horário de funcionamento de drive-thru – agora só podem das 5h às 20h –, e também foi imposto um toque de recolher das 20h às 5h. Essas medidas foram adotadas para tentar reduzir a circulação de pessoas e frear o avanço do número de casos da doença e evitar o colapso total no sistema de saúde.

Para o consultor em engenharia de transportes, Horácio Augusto Figueira, a retirada de veículos em circulação é reflexo direto das restrições e mostra que a medida foi acertada. Porém, ele vai além e diz que o melhor seria a suspensão do rodízio municipal de veículos ao menos até o final deste ano. “Muita gente no dia do rodízio opta pelo transporte público. E o meio de transporte mais seguro neste momento é o individual, por mais que isso venha a impactar nos índices de congestionamento”,afirma.

Segundo o especialista, a menor redução aferida nos ônibus se dá pelo fato desse meio de transporte concentrar, em sua maioria, trabalhadores que dificilmente podem fazer trabalho remoto ou que estão envolvidos em atividades essenciais.

Radical

Essa foi a primeira vez que um arrocho na restrição de circulação reduziu de forma significativa a circulação de veículos nas ruas. Análise feita pela reportagem em 68 boletins de trânsito da CET entre os dias 1º de dezembro de 2020 até a última sexta-feira (12), mostrou que pouco ou nada mudaram a quantidade de veículos em circulação na capital, bem como a quantidade de passageiros nos ônibus.

As restrições podem impactar de outra forma o trânsito na capital, com a circulação maior de veículos para entregas, sobretudo motos e bicicletas. Estimativa da AmaBR (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), indica que atualmente existem cerca de 50 a 60 mil motoboys fazendo delivery na cidade de São Paulo, número que deve saltar para 80 mil nos próximos dias, já que a atual fase emergencial limitou o horário para funcionamento do drive-thru – quando as pessoas vão de carro fazer a retirada– das 5h às 20h, e estabeleceu veto para retirar alimentos nos estabelecimentos – prática conhecida pelo termo de “take away”.