Descrição de chapéu Coronavírus Zona Leste

Toque de recolher começa com blitze e pessoas voltando para casa na zona leste de SP

Em outras regiões da cidade, teve movimento, mas bem abaixo do normal

São Paulo

O início do toque de recolher na zona leste da capital paulista começou com pouca gente nas ruas. A maioria delas ainda voltando para casa após o trabalho, ou da aula. A Polícia Militar também montou blitze para orientar quem ainda não estava seguindo as regras impostas pelo governo estadual, gestão João Doria (PSDB).

O toque de recolher dura das 20h as 5h, período durante o qual comércios não podem funcionar, com exceção de farmácias, por exemplo, e em que pessoas devem evitar permanecer nas ruas. Padarias e restaurantes podem funcionar em horário normal, mas sem consumo do alimento no local, apenas no sistema delivery.

Por volta das 20h30, o agente administrativo Marcelo de Campos, 44 anos, fazia sua caminhada diária na avenida Sapopemba. Com comorbidades como diabetes, colesterol e pressão alta, ele afirmou ter ciência de que estava na rua em um horário indicado para que as pessoas evitem permanecer nas ruas. “Estou já voltando para casa e sou completamente favorável a essa nova medida. Ela já deveria ter sido colocada em prática bem antes de agora”, afirmou.

Campos também disse sair de casa somente para as caminhadas noturnas, quando há menos pessoas nas ruas, mantendo distanciamento e respeitando o isolamento social desde o início da pandemia, em março do ano passado.

Comércio fechado na avenida Sapopemba, na zona leste de SP, e pessoas retornando para casa - Ronny Santos/ Folhapress

Poucos metros depois, um pequeno grupo de jovens, todas de branco e usando máscara, aguardava em um ponto de ônibus. Elas haviam acabado de sair do curso de técnico em enfermagem e retornavam para casa.

“Eu já tinha vontade de trabalhar na área da saúde. A pandemia do coronavírus foi um incentivo para por em prática este objetivo”, afirmou Diana Mergulhão, 23 anos, que está no segundo semestre do curso de técnico em enfermagem.

Ela afirmou concordar com a estipulação do toque de recolher e acrescentou que na escola onde estuda, presencialmente, todos mantém distanciamento, usam máscaras e álcool em gel. “Por causa do toque de recolher, as aulas estão terminando mais cedo a partir de hoje [segunda] também”, acrescentou.

Diana afirmou conhecer 12 pessoas que foram infectadas pela Covid-19, das quais cinco morreram. “Todas eram idosas e não saíam de casa. Mas os filhos e netos deles não respeitaram o isolamento, indo em baladas, e tenho certeza que foi por isso que pegaram o coronavírus”, contou.

Também estudante de enfermagem, Herllym Callau, 32, concorda com o aumento de restrições. “Inclusive, acho bom a polícia poder abordar as pessoas aglomeradas, pois isso só ajuda [aglomerações] a disseminar o vírus.”

A medida mais restritiva foi tomada pelo governo diante do aumento de casos e mortes decorrentes da Covid-19. Em algumas cidades, a taxa de ocupação de leitos já chegou a 100%. O governador João Doria (PSDB) declarou que, caso as novas medidas não surtam efeito, ele não descarta a possibilidade de um lockdown em todo o estado.

Por volta das 20h20, a reportagem viu uma padaria, na avenida Sapopemba (zona leste), ainda atendendo clientes, dentro do estabelecimento, e um restaurante também aberto, no sistema de retirada.

Blitze da Polícia Militar na praça Silvio Romero, no bairro do Tatuapé, zona leste de SP - Ronny Santos/ Folhapress

Blitze no Tatuapé

A praça Silvio Romero, no Tatuapé, também zona leste, estava bem diferente do habitual, por volta das 22h. No local, havia basicamente policiais militares, realizando uma blitz de orientação e poucas pessoas circulando a pé.

Uma delas era o porteiro Rodrigo Souza, 41 anos, que voltava para casa após mais um dia de trabalho. Ele afirmou que não poderá respeitar o toque de recolher, pois trabalha diariamente das 14h às 22h. “Em minha opinião, isso não vai ajudar a fazer as pessoas a deixarem de desrespeitar [isolamento social]. O que precisa é investir em vacina”, afirmou.

O porteiro disse ter medo se infectar com o novo coronavírus, principalmente quando vai para o trabalho de ônibus. “É como se não tivesse pandemia. Por isso, quando chego em casa já jogo a roupa na máquina para lavar e vou tomar um banho.”

O capitão Carlos Armando, do 8º Batalhão da PM, comandava a blitz de orientação na praça Silvio Romero. Ele afirmou que a maioria das pessoas abordadas retornava do trabalho ou, ainda, teria ido à farmácia ou ao mercado. “As pessoas estão sendo receptivas. Inclusive um grupo de ciclistas, que saiu da praça após os abordarmos e orientar a não permanecer no local [por causa do toque de recolher].”

Movimento na avenida Paulista após às 20h, quando é determinado o toque de recolher pelo governo do estado - Eduardo Anizelli/Folhapress

Passeio com o cão

Na zona oeste, o pouco movimento de carros e comércios fechados na avenida Pompeia só mudou quando alguns entregadores cruzavam a via com pedidos dos poucos comércios de alimentos, que atendiam no sistema de delivery, por volta das 23h40.

Mais adiante, a avenida Heitor Penteado também mantinha o pouco movimento de carros e quase ninguém foi visto, com exceção de um casal que passeava com o cão Duggee, de 9 anos, na praça Amadeu Decome. “Ele passeia todos os dias, mas somente à noite. Ele começa a pedir para ir para rua sempre após 22h30”, disse o auxiliar de licitação Hugo Gonçalves, 29, acompanhado da mulher, a operadora de caixa Priscila Gonçalves, 24, ambos sem máscara de proteção.

O casal acrescentou preferir o horário noturno, que o cachorro elegeu para passear, pois garante o distanciamento, pelo fato de as ruas ficarem mais vazias. Eles disseram ainda seguir todos os protocolos de prevenção à Covid-19, justificando estarem sem máscara em decorrência da presença somente do casal na praça. “Temos receio de pegar o vírus e nos protegemos, de verdade”, afirmou a mulher.

O marido dela afirmou ainda concordar com o toque de recolher, com a ressalva de que isso deveria ter sido feito no início da pandemia, em março do ano passado. “As pessoas estavam com medo na época. Não sabiam o que era o vírus. Se o governo tivesse isolado tudo desde então as coisas poderiam estar diferentes”, ponderou o auxiliar.

Priscila concorda com ele e acrescentou não acreditar que o atual recrudescimento de restrições surtirá efeitos, como inibir aglomerações em festas clandestinas. “As pessoas perderam o medo”, reiterou.

Por volta da meia-noite, ainda na avenida Heitor Penteado, a reportagem encontrou uma loja de conveniência atendendo clientes em um posto de gasolina.

Em cinco minutos, dois clientes foram atendidos por um caixa, que chegou a baixar a máscara de proteção para falar.

Após as vendas, os clientes foram orientados a consumir os alimentos comprados “em outro lugar.”

Sem pancadão, mas com bar aberto

A rua Alba, conhecida por grandes aglomerações em pancadões a céu aberto, na zona sul, estava bem diferente disso por volta da 0h40 desta terça-feira (16). A reportagem encontrou uma pequena aglomeração, perto de uma comunidade, formada frente a três bares que serviam bebidas para clientes, em sua maioria sem máscaras de proteção.

Com exceção deste ponto, onde não havia numeração à vista, todo o restante da rua estava sem movimento, da mesma forma que no entorno da estação Jabaquara do metrô, onde somente uma viatura da PM permanecia estacionada.

Já na zona norte, apenas um baixo movimento de carros nas avenidas Cruzeiro do Sul e Luiz Dumont Villares tirava o silêncio da região.

Resposta

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública, gestão João Doria (PSDB), diz que que, na segunda-feira (15), as ações de policiamento e fiscalização foram intensificadas com um número maior de policiais nas ruas em todo o estado com vistas ao cumprimento das determinações estabelecidas pela fase emergencial do Plano São Paulo de combate à Covid-19 e para proteger a população. Com isso, os programas de patrulhamento preventivo e ostensivo ampliaram suas atividades, assim como o uso de mensagens informativas à população, os pontos de policiamento e as demais ações a fim de garantir o respeito às normas e a legislação vigente. As dispersões de aglomerações e apoios à vigilância sanitária, Procon e demais órgãos municipais de fiscalização serão intensificadas, em especial, no período noturno.

Desde 26 de fevereiro, o trabalho integrado das forças de segurança permitiu o encerramento de 417 festas clandestinas, a prisão de 2.077 suspeitos, a apreensão de 7,4 toneladas de entorpecentes e mais de 53 mil dispersões. Somente na capital, foram 817 presos, sendo 582 procurados da Justiça capturados, 21,2 quilos de drogas apreendidas e 24.301 dispersões.

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