Covid-19 matou um policial civil a cada 60 horas neste ano em SP, diz associação
Até o dia 10, foram registradas 40 mortes de agentes no estado, de acordo com entidade que representa delegados
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
A Covid-19 matou ao menos um policial civil a cada dois dias e meio no estado de São Paulo entre janeiro e o último dia 10, segundo dados da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo). Foram 40 mortes no período, representando alta de 90% em relação aos 21 óbitos, decorrentes do novo coronavírus, entre março e dezembro de 2020.
Para se ter uma ideia, no ano passado 11 agentes da Polícia Civil foram mortos, considerando os quatro óbitos em serviço e os cinco quando estavam de folga computados pela SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB).
As 21 mortes de policiais civis provocadas pela Covid-19 só em março deste ano ultrapassam os 16 óbitos de policiais militares também ocorridos por causa do vírus durante todo o primeiro trimestre, de acordo com a própria PM.
Além das mortes, a associação também registrou o afastamento de 1.640 policiais civis no ano passado e ao menos 900 até 10 de abril deste ano. Um desses casos registrados em 2020 foi do delegado André Santos Pereira, 35 anos, ocorrido em junho.
Na ocasião, ele era plantonista da 8ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), na zona leste da capital paulista, onde vive há cerca de três anos, após se mudar de Pernambuco com a mulher, de 29 anos, e onde teve a primeira filha, atualmente com um ano.
“O trabalho da Polícia Civil lida diretamente com as pessoas. Houve casos em que colhemos depoimentos de suspeitos, exaltados e embriagados, que tiravam a máscara de proteção na sala, fechada, onde estávamos com ele. Testemunhas também acabam fazendo a mesma coisa e nos expondo a possíveis infecções”, argumentou o delegado.
Ele ainda acrescentou uma ocasião, ainda em 2020, em que precisou levar em sua viatura uma senhora ao hospital, vítima de violência doméstica, e que apresentava sinais da Covid-19 como falta de ar, suor constante e febre.
“Não sei exatamente em qual circunstância peguei o vírus, pois ocorreram muitas em que isso pode ter acontecido. O que posso afirmar é que a infecção ocorreu no plantão, pois, além de mim, outros três delegados plantonistas, que compartilhavam a mesma sala em seus turnos, testaram positivo”, afirmou.
Entre março do ano passado, quando começou a pandemia, e dezembro foram instaurados 1.783 Inquéritos Policiais na 8º DDM, segundo a SSP.
O presidente da Adpesp, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, afirmou que os casos de policiais civis mortos ou afastados por causa da Covid-19 é um “microcosmo” da realidade, em que o país vê os óbitos, infecções e internações baterem recordes diários por causa do vírus.
“Desde o início da pandemia, a Polícia Civil não parou de trabalhar, indo a campo, tendo contato com as pessoas, atendendo ao público nas delegacias. Isso tudo somado a novas ocasiões, provocadas pelo novo coronavírus, como a fiscalização e repressão de festas clandestinas e aglomerações. Nossas atribuições não só se mantiveram como aumentaram na pandemia”, pontuou.
Apesar disso, Bueno acrescentou ter sentido que os policiais “foram esquecidos” pelas autoridades como profissionais da linha de frente, de serviços essenciais, usando como exemplo a demora para que os agentes começassem a ser vacinados --o início foi no último dia 5 em todo o estado de São Paulo.
“A situação dos policiais civis está perto do dramático. A polícia não parou nem quer parar, quer continuar trabalhando, mas para isso precisa de proteção por parte dos governantes. Ela não pode ter na morte uma consequência natural de seu trabalho. A instituição é feita de seres humanos, que devem ser protegidos para fazer o seu trabalho, que é proteger vidas”, afirmou.
Resposta
A SSP, que não negou os dados da associação, afirmou ter adotado "todas as medidas necessárias" para resguardar seus agentes, com a aquisição de equipamentos de proteção como máscaras, luvas, aventais descartáveis, álcool em gel e escudo facial.
A pasta acrescentou que ambientes de trabalho e viaturas também são higienizados "permanentemente".
Entre o último dia 5 e a terça-feira (13), a SSP afirmou que 87% dos profissionais da segurança pública haviam sido vacinados contra a Covid-19 no estado.
No caso em que policiais morrem em decorrência do vírus, a pasta disse ainda pagar indenização por morte e contratar seguro de vida aos familiares.
"Todo policial com suspeita ou diagnóstico da Covid-19 foi ou está devidamente afastado, conforme orientações do Comitê de Contingência do Coronavírus", diz trecho de nota.
A SSP ainda afirmou que, desde o início da pandemia, 58 policiais civis morreram por causa da Covid-19, três casos a menos do que o divulgado pela associação dos delegados.