Barreiras sanitárias só fiscalizam quem desembarca em rodoviária oficial de São Paulo
Fiscalização não verifica saúde de passageiros que chegam à cidade de São Paulo em locais onde há ônibus por aplicativo ou transporte clandestino
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
As barreiras sanitárias montadas pela Prefeitura de São Paulo em terminais rodoviários e aeroportos não incluem o monitoramento de opções alternativas para chegada de ônibus ou mesmo clandestinos na cidade. A Secretaria Municipal da Saúde começou a inspecionar nesta semana a entrada de pessoas vindas de estados em que foi identificada uma nova variante do coronavírus, de origem indiana e que pode ser mais transmissível.
O Agora esteve nesta sexta-feira (28) na zona norte da capital paulista, no estacionamento usado para embarque e desembarque de viações que operam pelo aplicativo da empresa Buser e também no Brás (centro), onde se concentram empresas sem registro para transporte regular de passageiros. Em ambas as localidades, não havia fiscalização ou barreiras sanitárias.
Por volta das 6h30, a reportagem chegou ao estacionamento em Santana (zona norte), onde dezenas de pessoas aguardavam para embarcar em um ônibus do aplicativo. Os passageiros estavam sob uma estrutura, com cobertura, sentados em bancos, como em uma rodoviária convencional.
No decorrer de aproximadamente 40 minutos, ônibus deixaram na zona norte paulistana passageiros vindos de Belo Horizonte (MG), Campinas (93 km de SP), Rio de Janeiro e Juiz de Fora (MG). Nestas duas últimas cidades, a cepa indicana do novo coronavírus já foi identificada.
Os passageiros vindos de Juiz de Fora e do Rio de Janeiro, porém, não foram avaliados, pois não havia nenhuma equipe de profissionais da saúde monitorando essas pessoas, como ocorre a cerca de 300 metros dali, no Terminal Rodoviário do Tietê, onde uma barreira sanitária começou a monitorar o desembarque de passageiros, na terça-feira (25).
Nesta sexta-feira, o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, disse em entrevista coletiva que o município iria começar a fiscalizar ônibus vindos de Juiz de Fora. Até então, a atenção principal eram em veículos com origem ou passagem pelo Maranhão, onde também foi identificada a cepa indiana.
O secretário disse que está sendo feito um levantamento para identificar quais são os ônibus que chegaram da cidade mineira e para quais rodoviárias vieram. “Estamos checando nas rodoviárias Tietê, e parece também no Jabaquara. Estamos com uma equipe da Saúde monitorando”, afirmou.
Aparecido, entretanto, não citou a rodoviária alternativa da zona norte, cujo movimento foi constante nesta sexta, como verificado novamente pela reportagem entre 11h30 e meio-dia. Durante este período, quatro coletivos deixaram pessoas no local --vindos de Minas Gerais, do Mato Grosso do Sul, e do litoral paulista, e um partiu com passageiros para Ribeirão Preto (313 km de SP).
No local também são vendidos alimentos e bebidas em barracas, onde atendentes ou estavam sem máscara de proteção, ou ainda mantinham o item de segurança no queixo, descumprindo determinações sanitárias de combate ao vírus.
Em ambos os momentos em que o Agora esteve na rodoviária alternativa, dezenas de pessoas aguardavam para embarcar. Segundo consta no site da Buser, a empresa oferece 419 destinos em estados brasileiros, com exceção de Amapá, Roraima e Amazonas. O aplicativo afirmou, em nota, contar com quatro milhões de usuários no Brasil.
Além dos bancos de espera e barracas com comida e bebida, na rodoviária alternativa também ficam taxistas de prontidão. Um deles afirmou que o fluxo de passageiros e de ônibus é de 24 horas.
Brás
O tráfego constante de ônibus e passageiros na zona norte contrasta com a discrição do Brás, região da capital paulista onde, além de casas do Norte e opções populares de vestuário, há muitas agências clandestinas de viagem.
A reportagem conversou com funcionários de três delas. Uma das empresas cobra R$ 280 para levar o cliente até São Luís (MA), por exemplo, e outra R$ 400 para Fortaleza (CE). Uma vendedora desta última empresa acrescentou que, "caso o cliente preferir" ele pode embarcar na rodoviária que fica dentro do estacionamento na zona norte, onde o Agora esteve anteriormente.
Alguns ônibus estavam estacionados nas ruas Cavalheiro e Paulo Afonso, mas sem passageiros, no início da tarde desta sexta. Foi apurado que eles costumam partir entre as 5h e 7h, às terças, quartas e sábados.
Funcionários das três empresas afirmaram, sem saber que falavam com a reportagem, que não viram fiscalização na região, menos ainda monitoramento sanitário de passageiros com origem em estados onde a nova cepa do coronavírus já foi identificada.
Respostas
O prefeito Ricardo Nunes afirmou que a prefeitura conta com estrutura e equipes para fiscalizar ônibus clandestinos na cidade. "Estamos conversando com a GCM, que tem um setor de inteligência e que está ajudando a fazer esse levantamento [sobre viações irregulares]", afirmou.
Nunes acrescentou que o secretário das Subprefeituras, Alexandre Modonezzi, já começou a se reunir com os 32 subprefeitos para que ajudem no monitoramento e na fiscalização do transporte clandestino na cidade.
“Estamos fazendo este levantamento de inteligência para mapear. O importante é que temos pessoas, equipes e estrutura para fazer esta fiscalização”, reiterou.
Sobre as barreiras sanitárias em funcionamento na cidade, o prefeito destacou que nesta quinta-feira (27) 68 voos no Aeroporto de Congonhas foram monitorados, resultando em sete pessoas sintomáticas atendidas. No terminal rodoviário do Tietê a ação aconteceu em 65 ônibus e foram abordadas 1.371 pessoas, nenhuma apresentando sintomas. No Terminal de Cargas da Vila Maria (zona norte), foram abordados 395 caminhoneiros, e apenas um apresentou sintomas e foi atendido.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde disse que a responsabilidade de fiscalização de pontos clandestinos é da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
ANTT disse que continua fiscalizando de forma rotineira e tirando veículos clandestinos de circulação em todo território brasileiro apesar de toda dificuldade operacional em decorrência da pandemia do coronavírus.
A pasta afirmou que as Coordenadorias Regionais de Saúde estão mapeando e abordando locais não oficiais de desembarque na capital. "É válido ressaltar que a fiscalização do município acontece em rodoviárias e aeroportos oficiais para o público que chega à capital vindo de outras localizações."
A Buser afirmou, em nota, orientar seus motoristas para que tomem todas as medidas sanitárias exigidas pelas autoridades. Acrescentou que distribui máscaras e álcool em gel, além de aferir a temperatura dos passageiros.
A empresa, que afirma contar com quatro milhões de usuários, acrescentou que "quando necessário", promove o distanciamento entre os passageiros nos coletivos.
Os clientes também recebem orientações, disse ainda a Buser, para "seguirem à risca todas as orientações de higiene e segurança sanitária, para que as viagens não representem um risco de transmissão do vírus".