No primeiro dia de barreiras sanitárias em rodoviárias da cidade de São Paulo, 129 passageiros foram abordados nesta terça-feira (25) nos três terminais rodoviários da capital paulista.
O intuito da operação é, principalmente, monitorar o estado de saúde de pessoas que vieram ou passaram pelo Maranhão, onde uma nova cepa do coronavírus, de origem indiana, foi identificada.
Mas apenas dois passageiros do Maranhão, porém, foram avaliados no terminal Tietê (zona norte).
Os demais foram passageiros de outras localidades que desembarcaram no Jabaquara (zona sul) e na Barra Funda (zona oeste), segundo a prefeitura.
As duas pessoas do Maranhão disseram ter embarcado nas cidades de Estreito e Presidente Vargas, no Maranhão. O veículo em que viajaram indicava ter saído de Belém (PA), mas a prefeitura confirmou à noite que o ônibus, com dez passageiros, partiu de Goiânia.
A temperatura e a oxigenação deles foi aferida. Como não tinham sinais de contaminação, foram liberados. Mesmo assim, serão monitorados enquanto ficarem em São Paulo.
Houve confusão na identificação do ônibus, que chegou no início da tarde e indicava ter partido de Belém (PA) e não da capital de Goiás. A viação Roderotas admitiu o erro na placa de identificação.
A companhia disse que um outro ônibus saiu de Belém na segunda (24), às 8h30, e passou por cidades do Maranhão, "mas nenhum passageiro que embarcou nessas cidades tinha São Paulo como destino". O veículo deve chegar à capital na manhã de quarta (26).
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, passageiros que saírem ou passarem pelo Maranhão terão a temperatura corporal medida e responderão a questionários. Se tiverem sintomas, serão levados para um pronto atendimento, onde será feito teste RT-PCR para verificar se a pessoa está ou não com o coronavírus.
Se necessário, estão reservadas 30 vagas em um hotel próximo ao terminal Tietê para que os passageiros fiquem em isolamento. Essas pessoas serão monitoradas por até 14 dias.
A intenção da prefeitura é fazer esse cerco também em aeroportos e em rodovias que dão acesso à capital. A expansão depende de um informe técnico a ser elaborado pelo Ministério da Saúde para orientar como serão essas estratégias.
A intenção da prefeitura é de fazer esse cerco também em rodovias que dão acesso à capital e nos aeroportos. Para isso, já foram feitas reuniões de entre equipes do município com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado e de Guarulhos, concessionárias que administram as estradas que dão acesso à capital e também com a Polícia Militar Rodoviária.
A ação em rodovias, aeroportos e demais terminais depende ainda de um informe técnico a ser elaborado pelo Ministério da Saúde para orientar como serão realizadas essas estratégias. Sem essa definição, algumas medidas, tais como exigir testes de passageiros, não pode ser realizada.
Na última quinta-feira (20), quando o assunto veio à tona pela primeira vez, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que, se necessário, São Paulo já tem como garantir 250 novos leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) por causa da nova vairante.
As vagas de tratamento intensivo seriam montadas em hospitais-dia, nos quais foram instaladas, até o momento, dez miniusinas de oxigênio. Até 2 de junho, afirmou Nunes, outras nove serão inauguradas na cidade
Segundo a prefeitura, as medidas são essenciais no controle da população que chega à cidade de São Paulo, principalmente para evitar a entrada de novas cepas e aumentar o risco de um novo aumento de casos na capital.
Entre o último domingo (23) e esta segunda-feira (24), foram confirmados 2.752 casos da doença. Na cidade de São Paulo, a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 82%.
Segundo a prefeitura, até agora, não há nenhuma evidência da circulação da cepa indiana no município.
Críticas
Médicos ouvidos pelo Agora questionam a eficácia das barreiras sanitárias adotadas pela Prefeitura de São Paulo para tentar impedir a chegada da cepa indiana do coronavírus.
“Não existe uma maneira 100% eficaz. Mas todo esforço vale a pena”, diz o infectologista Wladimir Queiroz, do Instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia. Para ele, uma medida que surtiria mais resultados seria o melhor controle de pessoas que chegam ao país.
O epidemiologista André Ribas de Freitas, professor da faculdade São Leopoldo Mandic, é mais incisivo. “É uma demagogia epidemiológica e sanitária. Um município não tem condição de impedir a introdução de uma linhagem. Além disso, a pessoa pode vir de van ou de ônibus clandestino. Então, é inefetivo”, diz.
Freitas concorda que o mais adequado seria fazer bloqueios em portos, aeroportos e fronteiras terrestres.
“E não adianta barrar só quem vem da Índia. Não é porque a cepa é indiana que está só lá. Também está em vários países da Ásia e no Reino Unido”, acrescenta o médico.
Guarulhos
O prefeito de Guarulhos, Gustavo Henric Costa, o Guti (PSD), afirmou nesta terça (25), que um passageiro suspeito de infecção pela cepa indiana do coronavírus desembarcou no aeroporto internacional de Cumbica durante uma conexão e circulou livremente pelo terminal por cerca de duas horas antes de embarcar em outro voo, para o Rio de Janeiro (RJ).
A informação foi dada em entrevista à Rádio Bandeirantes. Segundo Guti, a pessoa, que não teve a identidade revelada, veio da Índia. O prefeito criticou a empresa GRU Airport, responsável pelo aeroporto, por, segundo ele, não restringir a circulação do passageiro.
A GRU Airport diz que “a responsabilidade por emitir os protocolos sanitários” é da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que “que segue todas as recomendações” relacionadas à pandemia.
A Anvisa afirma que o passageiro, brasileiro e morador de Campos dos Goytacazes (RJ) chegou ao Brasil apresentando exame PCR negativo, que havia sido feito 72 horas antes. “A positivação só ocorreu posteriormente, em novo exame, realizado já em solo brasileiro”, diz a agência.
Segundo a Anvisa, “todo e qualquer viajante para entrar no Brasil, seja estrangeiro ou brasileiro, precisa apresentar PCR negativo realizado nas últimas 72 horas”.
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