Voltaire de Souza: Cortesia do quartel

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Voltaire de Souza

Auxílios. Pensões. Benefícios.
Não é simples a vida de um aposentado.
O sr. Lindauro mexia nas gavetas.
—Papelada do inferno.
O recadastramento impunha novas exigências.
—Querem até prova do meu serviço militar...
Um envelope amarelado dormia no fundo de uma pasta.
—Vai ver que eu deixei aqui...
As lembranças renasciam.
—O sargento Botelho... esse era dureza.
O serviço militar tinha sido difícil.
—Olha. Achei o certificado.
Agora, só faltava enfrentar a fila.
O caixa já estava quase fechando quando Lindauro apresentou a documentação.
—Ah, seu Lindauro... não vai dar não.
—Como assim?
—Falta tudo. Até prova de vida.
Lindauro voltou para casa abatido.
Uma figura conhecida o recebeu.
—Sargento Botelho? O senhor?
—Vi que você não vai ter benefício...
—Isso mesmo, sargento.
—Mas trouxe uma coisa para você.
Um grande pacote branco.
—Doses de cloroquina. É o que mais sobra lá no quartel.
A visão se dissipou com uma gargalhada.
Era a febre. Covid.
Lindauro já não precisa de pensão.
Documentos são difíceis de encontrar.
Mas o atestado de óbito sempre chega antes do esperado.

Mãos de homem idoso repousando sobre bengala - Pixabay

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