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Lutas. Memórias. Mobilizações.
Dia do Trabalhador.
O ex-sindicalista Elpídio estava desanimado.
Desmatamento. Pandemia. Desemprego.
—Culpa do neoliberalismo.
O conhaque estimulava suas reflexões.
—E dessa classe média imbecil.
A tarde chegava com rajadas de frio em Santa Cecília.
—Nem máscara eles querem usar.
Sua mente voltava ao passado.
Comícios. Greves. Passeatas.
—Para onde foi todo mundo?
Na parede, o retrato de Che Guevara tinha olhos tristes.
Febre. Tosse. Dores no corpo.
Elpídio sentia os primeiros sintomas do vírus.
—Morrer na guerrilha é uma coisa...
A garrafa ia esvaziando.
—Agora, ficar intubado no hospital...
Ele suspirou.
—Não é destino de um revolucionário.
Outro conhaque.
—Bebidinha mais sem gosto...
Vizinhos chamaram a ambulância.
As sirenes despertaram Elpídio de seu torpor.
—Viatura. Abaixo a repressão. Não vão me prender.
Ele empunhou a garrafa como se fosse uma pistola.
O enfermeiro Alaor balança a cabeça.
—Essa classe média... não acredita mesmo na Covid.
A ciência ajuda a desvendar a natureza.
Mas um homem será sempre um mistério para seu semelhante.