Freguesia do Ó quer entrar no mapa gastronômico da capital
Projeto pretende transformar largo da Matriz, recheado de bares e restaurantes, em polo turístico
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A Freguesia do Ó (zona norte) quer entrar de vez no mapa dos passeios bacanas para se fazer na capital paulista. Mais especificamente, o largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, coração da região e famoso tanto por seus bares e restaurantes quanto pelo clima quase interiorano, mesmo a um quilômetro de distância da frenética marginal Tietê. A partir dali, se planeja a retomada pós-pandemia.
Quem conhece os sabores preparados nas cozinhas do largo não se arrepende e volta com frequência. O problema é que, mesmo entre paulistanos, muitos nunca passaram da ponte para lá. Menos ainda, os turistas. É por isso que um projeto de lei, já aprovado em segunda votação e pronto para a sanção do prefeito Ricardo Nunes (MDB), quer oficializar o largo como polo gastronômico e turístico da capital paulista. Na prática, é aguçar a curiosidade de quem se aventura pela cidade.
O largo da Matriz conta com ao menos dez restaurantes para todos os gostos, do de salgadinhos ao japonês. “Somos da Bahia e meu avô tinha plantação de caju. Então trouxemos a nossa origem para a bebida”, conta a comerciante Ana Paula Alves da Conceição, 40 anos, do bar Estrela da Matriz, que prepara caipirinha com vodka, limão siciliano e a fruta que era cultivada pelo avô baiano. A bebida ficou entre as finalistas de um concurso com mais de 5.000 bares no Brasil.
O empresário Felipe Araújo Oliveira, 36, toca com o irmão um restaurante que traz as origens no nome. É o Empório Nordestino, que tem como carro-chefe a carne de sol à moda paraibana, um contra-filé curado por três dias com produtos trazidos com exclusividade do sertão. “O meu prédio é de 1862. Nossas paredes são de barro. Tem um apelo vintage”, diz Oliveira.
A feijoada do Bar du Ó também é outra que dá água na boca dos frequentadores. Antes da pandemia, saíam até 220 feijoadas por sábado. “A gente espera que melhore. Vai ajudar muito a gerar mais emprego e renda para todo mundo.”
Pizzaria octagenária
O entorno do largo conta também com a pizzaria mais antiga da capital ainda em atividade. A Bruno foi aberta em 1939 e, ao longo de mais de oito décadas, permaneceu fincada ao lado da igreja matriz.
“Tivemos ali o título de a melhor de São Paulo, a camarão com catupiry, por 10 anos”, conta o João Machado de Siqueira Neto, 32, que tem no falecido avô um dos fundadores da casa.
Aliada ao clima interiorano, a construção que abriga a Bruno compõe o ambiente familiar. “A gente tentou manter a pizzaria no formato desde a última reforma, há muitos anos. Azulejos e pisos são muito antigos. Dão uma característica bem nostálgica”, diz Siqueira Neto.
O público é fiel. “Se não são pessoas de idade, então são filhos e netos. A gente escuta direto quem conta que vinha com o avô”, diz. “Tenho cliente que mora nos EUA e se reúne com amigos quando vem.”
Publicitário sente saudade
Morando em Londres desde 2017, o publicitário Washington Olivetto tem saudade do largo da Matriz. A relação dele com o lugar vai além das coxinhas do Frango, primeiro pedido depois do sequestro do qual foi vítima em 2001.
“Frequento desde criança. O meu pai gostava muito daquela pizzaria que existe lá até hoje”, conta.
Olivetto lembra que seu amigo, o narrador Osmar Santos, ao testar um novo locutor, viu o rapaz trocar Freguesia do Ó por “Freguesia do Zero”, confundindo letra com numeral. O publicitário diz ainda que, certo dia, batia papo com Gilberto Gil sobre a Freguesia. “Logo depois, ele compôs ‘Punk da Periferia’ [música que traz o bairro em destaque].”
Olivetto diz que é mais do que merecido o título de polo. “Já deveria ter sido outorgado há mais tempo.”
Capacitação
A vereadora Sandra Santana (PSDB) é autora do projeto de lei, que mira também a qualificação do pessoal que trabalha no local.
“O que precisa e está previsto é uma capacitação direcionada às pessoas que trabalham nesses bares e restaurantes, o atendimento e recepção de turistas”, diz. Ex-subprefeita do bairro, Sandra diz que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico oferece inúmeros cursos gratuitos.
A vereadora diz que o projeto visa o desenvolvimento local. “Em um momento importante, que é de retomada da economia. Pode atrair investimentos. A gente sabe que pode haver interesse da iniciativa privada e pública”, fala. Porém, nada que descaracterize o largo da Matriz está nos planos. “Não precisa de muitas interferências, porque isso tiraria o charme do bairro”, completa.