Mesmo na quarentena, aposentados lideram mortes por atropelamento em São Paulo
Balanço anual da CET aponta que 59 pessoas com aposentadoria morreram atropeladas nas ruas e avenidas da capital em 2020
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Os aposentados continuam sendo as principais vítimas de atropelamentos na cidade de São Paulo, segundo aponta o relatório anual de dados estatísticos de acidentes de trânsito feito pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), empresa vinculada à Prefeitura de São Paulo, sob gestão Ricardo Nunes (MDB).
De acordo com o levantamento, ao todo, 316 pedestres perderam a vida em 2020, uma redução de 12% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 359 mortes.
O grupo com mais vítimas pedestres foi o de aposentados/pensionistas, com 59 óbitos, mais do que o triplo em comparação com desempregados, segundo lugar na lista por ocupações entre os mortos por atropelamento, com 18.
Em meio à pandemia, quando as pessoas ficaram mais em casa, o número de aposentados mortos por atropelamento no ano passado foi 32% menor que em 2019, quando houve 86 óbitos.
No ano passado, 809 pessoas perderam a vida no trânsito na capital. Em 2019, foram 791 óbitos. Segundo a CET, o aumento de mortes quando houve queda no número de acidentes indicam uma mudança no comportamento dos motoristas durante a pandemia. Ao todo, o número de ocorrências de acidentes de trânsito na cidade no primeiro ano da pandemia foi de 9.837. Em relação a 2019, que apontou 13.966 ocorrências, houve uma redução de 29,5%.
Dados mostrados pela companhia nesta semana apontam que disparou o número de multas por excesso de velocidade em abril do ano passado, o primeiro inteiro em quarentena, com comércio fechado e ruas mais vazias.
Mobilidade reduzida
A dificuldade de andar rápido quando é necessário e muitas vezes não conseguir reagir e fugir do automóvel pela potência muscular ser menor, é um dos fatores que tornam o idoso uma vítima maior do trânsito, afirma o geriatra Daniel Apolinario, do HCor, que cita ainda dificuldades de audição e visão.
Médico geriatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Ricardo Imaizumi Pereira destaca também a maior dificuldade de um idoso se recuperar do impacto como o de um atropelamento.
“Normalmente o idoso tem a saúde mais debilitada e uma menor reserva dos vários sistemas para lidar com o estresse do trauma de um atropelamento”, afirma o médico.
O engenheiro especializado em mobilidade urbana Luiz Vicente Figueira de Mello Filho critica o trânsito da cidade. “Em São Paulo, o automóvel é mais priorizado do que a travessia do pedestre, que é a parte mais suscetível aos acidentes. Para se prevalecer o automóvel, se reduz os tempos para os pedestres”, diz.
Segundo a CET, no intervalo dos últimos 10 anos, houve uma diminuição de 48,8% de vítimas pedestres. Em 2011, foram computados 617 óbitos, enquanto em 2020, o número caiu para 316.
Vias mais perigosas
Entre as vias com mais atropelamentos fatais no relatório da CET, a primeira é o trecho urbano da rodovia Fernão Dias (zona leste), com 13 mortes. Na sequência aparecem a rodovia Anhanguera (zona norte), com 8, e marginal Tietê e estrada de Itapecerica, com 7, e rodovia Presidente Dutra e avenida Jacu-Pêssego/Nova Trabalhadores (ambos na zona leste), com 6.
No caso específico da Fernão Dias, um dado que chama atenção é o aumento de 11 mortes em 2020 se comparado com 2019, no trecho em São Paulo. No ano passado, foram registrados 13 óbitos por atropelamento na via, enquanto no ano anterior, apenas 2.
Em nota, a concessionária Arteris Fernão Dias, responsável pela gestão de 562 km da BR-381, diz que a “maior segurança no trecho passa pelo uso adequado das passarelas, dado que a maior parte dos atropelamentos fatais neste segmento ocorreu a menos de 1 quilômetro dessas passagens”.
Aumento dos acidentes com motociclistas
Estudantes com motocicletas são os que mais morreram no trânsito da capital, quando se analisa os dados por ocupação das vítimas.
Segundo o relatório da CET, ao todo 80 estudantes morreram no ano passado, sendo que 44 estavam de moto e 7, de bicicleta. Outros 13 foram atropelados e 16 eram motoristas ou passageiros de outros veículos. No geral, 345 motociclistas morreram em 2020 contra 297 do ano anterior, aumento de 16%.
“Pelo aumento do uso de aplicativos na pandemia, é normal observar mais motociclistas nas ruas. A média, que era de um acidente e meio por dia, subiu para dois. Tem uma crescente em relação ao motociclista”, diz Rosan Coimbra, presidente da Comissão de Direito do Trânsito da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo).
A maior parte das ocorrências fatais com motociclistas aconteceu aos fins de semana, principalmente nas noites de sexta, sábado e domingo e nas madrugadas de sábado e domingo. Das 345 mortes de motociclistas, 153 ocorreram aos sábados e domingos. Se incluirmos as mortes que ocorreram nas noites de sexta e nas madrugadas de segunda, esse número sobe para 183 em números absolutos ou 53% do total.
As causas das ocorrências fatais mais frequentemente mencionadas nos boletins de ocorrência foram a perda do controle da moto, com 68 registros, imperícia ou imprudência, com 47 registros, e excesso de velocidade, com 36 registros.
“Os atropelamentos relacionados com motocicletas estão ligados ao aumento de entregas por aplicativo com seus tempos muito reduzidos”, destaca Luiz Mello Filho.
Resposta
Em nota, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), ligada à gestão Ricardo Nunes (MDB), diz a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Mobilidade e Transportes vem adotando diversas ações para proteger a vida de pedestres, em especial os idosos.
“As medidas estão contempladas no Plano de Segurança Viária - Vida Segura, em execução na cidade. O Vida Segura é baseado no conceito Visão Zero, segundo o qual nenhuma morte no trânsito é aceitável. A continuidade e a ampliação dessas ações fazem parte do Programa de Metas 2021-2024”, diz.
A CET afirma que, entre as ações práticas, reduziu o limite de velocidade de 50 para 40 km/h em 24 vias da capital, para diminuir a possibilidade e a gravidade de atropelamentos, protegendo principalmente crianças e idosos.
Outro ponto destacado foi o aumento do de travessia de pedestres em mais de 950 cruzamentos da cidade e a implantação de Áreas Calmas, áreas com velocidade reduzida, e de mais faixas para pedestres.
Por fim, a CET disse que o Manual de Desenho Urbano e Obras Viárias, que reúne normas para projetos urbanos de forma alinhada aos princípios de acessibilidade, equidade social, segurança no trânsito e sustentabilidade ambiental, trará benefícios para São Paulo.
Já a Arteris Fernão Dias disse que são realizadas campanhas com as populações do entorno das rodovias para que busquem esses dispositivos sempre que for necessária a travessia. Ao todo, a via possui 86 passarelas em pontos estratégicos, sendo que 53 foram construídas pela concessionária.
A concessionária ainda diz que, em sua gestão entre 2011 e 2020, os acidentes foram reduzidos em 52%, e que a meta é reduzir em 50% os acidentes até 2030. Por fim, a empresa diz que o trecho da rodovia no município de São Paulo possui sua faixa de domínio ocupada irregularmente por moradias, favorecendo as condições para acidentes de trânsito.
Óbitos por tipo de usuário | 2019 | 2020 |
---|---|---|
Pedestres | 359 | 316 |
Motociclistas | 297 | 345 |
Motoristas/passageiros | 104 | 111 |
Ciclistas | 31 | 37 |
Total | 791 | 809 |
Dez locais com mais atropelamentos fatais na cidade de São Paulo
Avenida/Rua/Rodovia | Mortes |
---|---|
Fernão Dias | 13 |
Anhanguera | 8 |
Marginal Tietê | 7 |
Itapecerica | 7 |
Dutra | 6 |
Jacu-Pêssego/Nova Trabalhadores | 6 |
Bandeirantes | 5 |
Imigrantes | 5 |
Tito | 5 |
Armando de Arruda Pereira | 4 |
Fonte: CET