1 em cada 5 atropelamentos com mortes em SP é de aposentado

Balanço da CET aponta que 69 pessoas com esse perfil morreram atropeladas em 2018

São Paulo

Uma em cada cinco pessoas mortas por atropelamento em São Paulo no ano passado era aposentada ou pensionista. É o que aponta o relatório anual de dados estatísticos de acidentes de trânsito feito pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), empresa vinculada à Prefeitura de São Paulo, sob gestão Bruno Covas (PSDB).

Segundo o levantamento, foram 349 pedestres mortos por atropelamentos em 2018, o que representa quase uma pessoa por dia. Com relação a 2017, o número total cresceu 5,4%.

A proporção de aposentados e pensionistas, entretanto, seguiu praticamente a mesma. Em 2018, 69 pessoas do perfil morreram, contra 70 no ano anterior.

Segundo a prefeitura, atualmente existem 1,7 milhão de idosos na capital, o que corresponde a 15% da população paulistana. No centro da cidade, muitos se queixavam de desrespeito na tarde de ontem. "Já me acostumei com a correria, mas tem motorista que finge que a gente não existe", disse a aposentada Magali Rodrigues, 63 anos.

Levando-se em conta o perfil etário das vítimas no ano passado, idosos representam 35% do total de atropelamentos com mortes --125 registros.

Os dados mostram que após três anos consecutivos de queda, as mortes de pedestres voltaram a subir. Em 2014, último ano em que houve aumento, o total de vítimas foi 555.

De todas as mortes por atropelamento, 10% ocorreram apenas cinco vias da cidade, todas de grande circulação de veículos. 

Na rodovia dos Bandeirantes, a líder, 12 pessoas morreram atropeladas. Em seguida está a marginal Pinheiros, onde ocorreram sete mortes de pedestres no ano passado. Na sequência, com cinco registros do tipo cada, vêm a rodovia Raposo Tavares (zona oeste) e as avenidas Teotônio Vilela (zona sul) e Marechal Tito (zona leste).

Na região central de São Paulo, a população sente falta de educação no trânsito. "Isso aqui é uma loucura, se você não tiver atenção, acaba morto", disse o aposentado Valmir Oliveira de Souza, 73 anos.

No início da tarde desta terça-feira (28), o cruzamento entre as ruas Coronel Xavier de Toledo e 7 de Abril tinha movimento intenso, tanto de motoristas quanto de pedestres. Em meio aos veículos, muitos atravessavam fora da faixa. "Eu sempre tomo cuidado, mas nem todo mundo faz isso", disse Souza.

O aposentado Francisco Noé, 76, disse que sente a pressão dos carros, mas está acostumado. "Tem que andar alerta, porque muito motorista não respeita. O que não pode é se colocar em risco à toa", disse.

Falta de conscientização

O engenheiro Luiz Célio Bottura atribui a grande proporção de idosos entre as vítimas de atropelamentos à falta de ações constantes de conscientização e adaptação de vias para pedestres.
Para o especialista, em São Paulo faltam faixas e semáforos para pedestres e o tempo para atravessar a rua é curto. "Considerando essas condições, pessoas mais velhas têm dificuldades naturais para lidar com o trânsito."

"O idoso vê menos, escuta menos e reage menos. Não só demora a perceber o risco como tem dificuldade para escapar dele", disse o consultor de tráfego. 

Para o especialista em trânsito, a CET se preocupa demais com o fluxo de veículos e de menos com a segurança nas vias. "Os operadores de tráfego sempre priorizaram a fluidez nas ruas em detrimento da segurança", disse.

O consultor afirma que é necessário adaptar vias onde o trânsito de pedestres é grande, com a ampliação de calçadas e redução do limite de velocidade dos veículos na cidade. 

"Tem ruas, como a 25 de Março [na região central da capital], que nem sequer faz sentido permitir o trânsito de veículos em alguns horários", afirmou o especialista em trânsito.

Resposta

Em nota, a CET, gestão Bruno Covas (PSDB), disse que analisa constantemente os registros de acidentes na cidade para definir medidas a fim de reduzir as mortes no trânsito.

A companhia afirma também que o novo plano de segurança viária de São Paulo prevê a ampliação do tempo de travessia em cruzamentos, aumento de fiscalização e melhora na sinalização para pedestres.

Segundo a CET, essas intervenções já ocorreram em 33 vias e devem ser implantadas em outras dez até o meio do ano.

A CET cita ainda ações educativas, como a palestra "Mobilidade Segura, Um Direito da Pessoa Idosa" e o "Programa de Educação de Trânsito para Terceira Idade". Neste ano, 637 pessoas já foram atendidas pela área de educação da CET, segundo a companhia.
 

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