Saúde motiva peregrinação de devotos em romarias para Aparecida

Missas voltam a ter público no Santuário Nacional para a festa de Nossa Senhora

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São Paulo

A tradicional Festa da Padroeira, que ocorre nesta terça-feira (12) na cidade de Aparecida (180 km de SP), volta a contar com presença de fiéis nas missas e visitações. Entre os devotos que escolheram fazer a peregrinação até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, a saúde é um dos grandes motores da caminhada, seja para pedir ou agradecer por ela em tempos de pandemia.

"Acho que a motivação das pessoas mudou. No ano passado, muitas estavam com medo de ir, mas foram, porque era um ano difícil e tinham perdido muita gente. Neste ano, estou sentindo que o pessoal está indo mais para agradecer pela vida", relata Marcelo Garcia Leal, 44, diretor musical da escola de samba Acadêmicos do Tatuapé.

Saída de romeiros na madrugada da última sexta-feira (8) em Itaquera, na zona leste de São Paulo; grupo tem quase 200 pessoas para peregrinação a Aparecida - Rubens Cavallari/Folhapress

Há cinco anos Leal parte para a caminhada de São Paulo até Aparecida na semana que antecede a festa de Nossa Senhora. Na primeira peregrinação, ele acompanhou uma das integrantes da escola de samba, que havia feito uma promessa de fazer a romaria caso a cirurgia de sua filha desse certo.

Hoje, a romaria que começou com duas pessoas da Acadêmicos do Tatuapé conta com 20 integrantes de diferentes escolas de samba de São Paulo e de outras cidades. Dentre outras agremiações, o "Carnaval em romaria" tem participantes da Vai-Vai, Rosas de Ouro, Mocidade Amazonense (Guarujá) e até um da Unidos da Tijuca.

Unidos pelo samba e pela fé, o grupo saiu da zona leste na última terça-feira (5) para chegar em Aparecida neste domingo (10). "Todos se superam no percurso. Sofrem no caminho, ficam com bolhas e assaduras nos pés, mas não desistem. Um motiva o outro e todo mundo acaba chegando. Isso é o ponto diferencial que torna nossa caminhada mágica", conta Leal.

Já os educadores físicos Erick Peterson, 39, e Elvis Silva, 38, deixaram a zona leste de São Paulo na madrugada de sexta-feira (8) rumo ao Santuário Nacional em um grupo de cerca de 190 devotos.

Segundo Peterson , o grupo existe há 20 anos e, desde 2015, ele e Silva participam da peregrinação.

No início, a motivação para ir à romaria, explica o educador físico, era pedir pelo sucesso da Projeto Social Equipe Filhotes, ONG que faz doação de brinquedos, alimentos, vestuário, higiene pessoal e outros itens, da qual ele e Silva fazem parte. Hoje, agradecer pelo trabalho também faz parte dos motivos.

O grupo de quase 200 pessoas saiu de uma rua próxima ao metrô Itaquera, na zona leste, às 4h30. Os participantes explicam que é preciso muita organização para controlar um grupo tão grande que caminha pela rodovia Presidente Dutra.

"É um esforço desumano, são 180 km, é dolorido. Estou com 39 anos e tenho preparo físico, mas, no grupo tem idosos de 85 anos e eles vão da mesma forma. A fé que cada um tem faz com que a pessoa chegue lá", diz Peterson.

Para Silva, o momento é de peregrinação e penitência. "É um tempo para ter uma reflexão sobre tudo que vivemos durante o ano", esclarece. "Neste ano, com a população mais vacinada, acredito que o volume de pessoas vai ser maior que no ano passado", complementa.

O romeiro Erick Peterson olha o celular durante caminhada na rodovia Presidente Dutra rumo a Aparecida - Rubens Cavallari/Folhapress

No ano passado, a celebração foi mais limitada por conta das restrições da fase da pandemia. Em 2021, as missas voltam a receber o público e acontecem com um limite de três pessoas por banco. O número de liturgias foi multiplicado e os locais de celebração, ampliados. Atividades que geram aglomerações, como procissões e passeios ciclísticos, seguem canceladas.

Caminhar sozinho também é opção

Fazer a peregrinação em grupo é uma escolha feita por grande parte dos romeiros. Todavia, há também aqueles que optam por ir sozinhos e organizam-se para uma caminhada somente com a própria companhia.

No caso do bancário Jean Marcelo de Freitas, 48, a preparação começou dois meses antes da peregrinação. Desde agosto, ele caminha cinco quilômetros diariamente em seu horário de almoço. Nesse período, descobriu uma lesão no joelho e fez sessões de fisioterapia para que o problema não prejudicasse sua caminhada.

Segundo o bancário, seu cunhado iria acompanhá-lo no primeiro trecho, saindo de São José dos Campos (97 km de SP), mas não tem o preparo físico para fazer a caminhada toda até Aparecida. "Se ele não conseguir, vou seguir sozinho. Todo meu planejamento é pensando em ir sozinho", diz.

É a primeira romaria de Freitas a gratidão foi seu principal motivo. "É uma forma de agradecer pela saúde dos meus amigos e família. Perdi um primo para a Covid-19, tive amigos que ficaram meses internados e estão se recuperando. Quero usar essa força para agradecer", explica.

Já o administrador Walter Almeida, 28, está fazendo sua segunda peregrinação para Aparecida. Na primeira ida, em 2018, foi junto com seu primo e, dessa vez, cogitou ir sozinho, mas acabou encontrando um pequeno grupo de pessoas para acompanhá-lo.

"Ainda dá um pouco de receio por causa da segurança. Se não fosse por questão de assalto e, de repente, pegar um temporal sozinho, não seria um problema", diz.

Morador de Guarulhos, ele relata que via as pessoas caminhando pela Dutra e ficou curioso para fazer o percurso também. Tinha planos de ir em 2020, mas adiou por causa da pandemia. "Esse ano, só estou indo por causa da vacina", esclarece o administrador.

Apoio aos fiéis

Distribuídos ao longo da rodovia Presidente Dutra, os pontos de apoio aos peregrinos fornecem água, comida, medicamentos e até equipes médicas para quem faz a caminhada. Assim como ocorreu em 2020, alguns voluntários optaram por não trabalhar devido à pandemia, enquanto outros seguem presentes na dinâmica de suporte.

O Ponto de Apoio aos Peregrinos de Aparecida, que geralmente fica no km 159 da rodovia na altura de Jacareí (84 km de SP), não realizou os trabalhos pelo segundo ano consecutivo. "A maioria dos nossos voluntários são idosos. Então, preferimos, neste ano, não montar o ponto de apoio e proteger nossos colaboradores, já que ficamos 24 horas funcionando", explica Djalma Santos, 63, voluntário do ponto.

A esperança, todavia, é voltar a funcionar no ano que vem. "A gente espera que esteja tudo certo para voltarmos, porque é muito importante para quem vem da região de Campinas, Atibaia, já que nosso ponto é o primeiro que encontram", complementa Djalma.

Já o PAP Unidos Pela Fé, localizado no km 113 em Taubaté (140 km de SP), funcionou no ano passado e esteve ativo em 2021 também. "Todos os que trabalham no Unidos Pela Fé estão vacinados com duas doses", justifica Elton Ribeiro, 54, voluntário.

No ano passado, segundo Elton, o ponto de apoio esteve presente, mas com número de pessoas reduzido e um trabalho mais simples. Em 2021, uma estrutura coberta de 400 m² foi montada para acolher os devotos, oferecendo alimentação, enfermaria e fisioterapia. Distanciamento, uso de álcool em gel e máscaras são obrigatórios.

O Unidos pela Fé conta com mil voluntários, explica Elton, que são divididos em três turnos de trabalho. Destes, cerca de 100 pessoas são médicos, enfermeiros, fisioterapeutas ou massagistas. "Temos até um barbeiro aqui. Na segunda-feira [4], ele já fez quatro cortes de cabelo de romeiros aqui", afirma.

Festa da Padroeira 2021 - dia 12 de outubro

Programação em Aparecida

  • 4h55: Toque Festivo dos Sinos - Basílica Histórica
  • 5h: Missa
  • 7h: Missa*
  • 9h: Missa Solene*
  • 12h: Missa das Crianças* e Homenagem à Nossa Senhora Aparecida - Toque dos Sinos
  • 12h30: Missa no Centro de Eventos
  • 14h: Missa
  • 14h30: Missa no Centro de Eventos
  • 15h: Consagração Solene - Basílica Histórica*
  • 16h: Missa
  • 16h30: Missa no Centro de Eventos
  • 18h: Missa no Centro de Eventos
  • 18h até às 18h45: Angelus*
  • 19h: Missa de encerramento*

*Podem ser acompanhadas virtualmente:

Visitação à Basílica Histórica das 6h às 17h

Visitação à imagem no Santuário Nacional das 0h às 21h

Só será permitida a entrada com uso de máscara, que deve ser utilizada durante todo o rito e em todo o complexo do Santuário.

Atividades que geram aglomeração foram canceladas. Momentos como procissões, passeio ciclístico e a Vigília Mariana não vão acontecer em 2021.

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