Número de furtos cresce pelo sexto mês seguido na capital paulista
Dados da Secretaria de Segurança Pública também apontam aumento de furtos de veículos e roubos
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Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública na última quinta-feira (25) mostram que o número de furtos disparou na cidade de São Paulo nos últimos seis meses.
A capital paulista registrou em outubro a sexta alta mensal no ano. Foram 18.237 furtos cometidos só no décimo mês de 2021. Os meses anteriores apresentaram 17.963 em setembro, 16.995 em agosto, 13.126 em julho, 15.143 em junho, 14.750 em maio.
O mês de abril, que antecede esta crescente, tinha registrado 11.903 furtos.
Segundo os dados estatísticos do estado, também houve aumento nos registros de furtos de veículos nos últimos meses na cidade. Foram 3.383, em outubro, contra 3.099 em setembro e 3.074 em agosto.
No acumulado do ano, a alta foi de 10% na comparação com os dez primeiros messes de 2020. O ano de 2021 teve 150.007 furtos, enquanto o ano passado, 136.356.
O aumento é maior quando se trata do número total de furto de veículos na cidade nos dez primeiros meses, com 27% a mais de casos registrados neste ano, do que no anterior.
Ainda dentre os crimes patrimoniais, os indicadores também apresentam um aumento nos casos de roubos na cidade de 2020 para 2021. Foram de 102.656 registros nos dez primeiros meses do ano passado para 103.342 neste ano.
Quando se trata dos números no estado de São Paulo, há uma alta se comparados o mês de outubro de 2020 e de 2021 tanto de roubos em geral, quanto de furtos em geral.
Os roubos em geral registraram um aumento de 18%, indo de 16.250 para 19.206. Já os furtos em geral tiveram aumento de 34%, passando de 32.704 para 44.005.
No período de janeiro a outubro, também houve aumento dos dois crimes em 2021 em relação a 2020 no estado.
Fatores
Segundo Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, existem quatro aspectos que explicam esses aumentos.
"O primeiro fator é a retomada na atividade econômica em São Paulo e no Brasil como um todo. Então esse aumento coincide com a queda das restrições da pandemia, que liberou a circulação de pessoas", afirma Alcadipani.
Para ele, um segundo fator seria um déficit de agentes na polícia do estado de São Paulo.
"Existe hoje uma defasagem na Polícia Militar e na Polícia Civil. Existem em várias companhias da PM viaturas que foram compradas e não podem ser utilizadas porque falta gente. Estima-se que, só na Polícia Civil, há um déficit de 15 mil agentes. Então isso impacta nos números apontados", diz o professor da FGV.
Alcadipani aponta ainda que a situação econômica do país também influencia no aumento de crimes patrimoniais. "O Brasil está vivendo uma crise econômica brutal, uma crise de emprego, de inflação. Essas são coisas bem sérias que também devem ser colocadas".
Mas o especialista ainda pontua que um aspecto não pode ser deixado de lado, o fato de o ano de 2020 ter sido atípico. Para Alcadipani, os dados de 2020 foram muito distantes dos demais registrados por causa da pandemia, o que atrapalha a utilização dele como referência.
O coronel da reserva da PM de São Paulo e ex-secretário Nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, tem opinião semelhante.
Segundo ele, muitos desses crimes patrimoniais são "de oportunidade" e a pandemia, e suas restrições, fizeram com que essas oportunidades diminuíssem, por isso o ano de 2020 registrou números mais baixos.
"Do meio do ano para cá, as coisas foram voltando ao normal a todo vapor. Voltou o trabalho presencial, as escolas, os comércios abriram. Então as pessoas e os carros voltaram às ruas e esses criminosos voltaram a ter oportunidades para cometer esses delitos", afirma o coronel.
José Vicente diz que analisando os dados de 2021 em comparação com 2019, ou seja, com o período pré-pandemia, é possível verificar que há uma queda em alguns índices.
"Quando a gente compara com um ano normal, que é o ano anterior, os níveis estão bastante baixos. É possível ver diminuição no número de roubos em geral e de veículos, por exemplo".
Segundo o coronel, ao analisar unicamente os dados de 2021 é possível ver uma crescente no número de casos nos últimos meses, mas é necessário a análise de ao menos três trimestres para saber se há de fato uma tendência de crescimento consolidada.
Ele ainda destaca que um dos índices principais de violência aparece em queda neste ano, os homicídios.
"Tudo indica que nós devemos fechar o ano de 2021 com índice ao redor de 5 ou 6 mortes por 100 mil habitantes aqui na capital, o que é muito bom para uma cidade do tamanho de São Paulo", afirma José Vicente.
Aumento nos casos de crimes envolvendo o Pix
Os dois especialistas ainda apontaram o aumento no número de crimes envolvendo o Pix que permeia essa crescente dos registros em 2021.
De acordo com a SSP, de janeiro a agosto deste ano, as forças de segurança prenderam mais de 140 envolvidos com essa modalidade criminosa, no estado de São Paulo.
Segundo o coronel José Vicente da Silva Filho, o Pix também é um crime de oportunidade que agora faz parte da lista dos criminosos, que vão variando os golpes "conforme a oportunidade e a necessidade deles de arrumar dinheiro".
Ele pontua que é necessário que os usuários, as polícias e as autoridades que regulam a tecnologia atuem em conjunto para criar empecilhos aos criminosos.
"A gente sabe que algumas medidas já estão sendo tomadas, mas é necessário criar dificuldades para os criminosos, como foi feito com os roubos a caixas eletrônicos. Depois que os bancos passaram a instalar um dispositivo que mancha as notas em caso de explosão da máquina, diminuiu muito a ocorrência desse tipo de crime", afirma o coronel.
Já Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pontua que o Pix é um bom recurso tecnológico, mas que foi aplicado sem o devido estudo.
"O Pix fez com que as pessoas tenham um caixa eletrônico dentro do seu celular. É uma tecnologia que é boa, mas parece que o Banco Central não levou em consideração o país onde estava sendo implantada essa tecnologia", afirma Alcadipani.
Para ele, o Banco Central deve implantar novos recursos para garantir a segurança do usuário.
"O Banco Central precisa agir de forma mais responsável com relação ao Pix. Talvez pensar em limites, em redundâncias, como só ser liberada a transferência mediante uma ligação para uma agência" e completa "o Brasil é um país violento. Você não pode lançar uma tecnologia e não levar em consideração que tem gente morrendo por causa disso ou passando pelo trauma de ficar horas nas mãos de criminosos para realizar transferências".
Resposta
Sobre o aumento apontado pelos dados estatísticos, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que "as polícias Civil e Militar têm atuado fortemente para ampliar e intensificar as operações de combate à criminalidade e proteção à população. As variações dos indicadores verificadas a cada mês são analisadas criteriosamente e soluções apresentadas, de acordo com as características de cada localidade, a sazonalidade entre outros fatores que possam impactar os indicadores".
A pasta aponta ainda que as polícias atuam em conjunto em operações como a São Paulo Mais Seguro visando a coibir a criminalidade na capital.
Segundo a SSP, desde o início do ano, o trabalho das polícias resultou em 24.222 pessoas presas e flagrante, bem como em 2.632 armas apreendidas e 11.521 veículos recuperados.
"Um fator que deve ser considerado é atipicidade do ano de 2020 em decorrência das medidas sanitárias e restritivas que precisaram ser adotadas durante o período da pandemia", afirma a secretaria em nota.
A gestão João Doria (PSDB) afirma também que, no acumulado entre os meses de janeiro a outubro deste ano, a capital apresentou queda de 36% nos roubos de veículos, 8,90% nos roubos em geral, 21,73% nos furtos em geral e 9,58% nos furtos de carros, em comparação ao mesmo período de 2019.
Sobre o aumento de crimes envolvendo o Pix, a secretaria diz que "a Polícia Civil recomenda que o usuário estabeleça um limite em sua conta junto ao banco" e orienta que, caso tenha sido vítima, "a pessoa deve reunir toda documentação da transação (extratos, comprovantes, etc); registrar um boletim de ocorrência em qualquer distrito policial ou na Delegacia Eletrônica e cientificar o banco para eventual ressarcimento, após análise dos documentos.
Já o Banco Central, quando questionado pelo Agora sobre os pontos levantados pelos especialistas relacionados ao crescente número de crimes envolvendo o Pix, o Banco Central afirmou, em nota, que "o Pix conta com um arcabouço robusto de segurança pautado em quatro dimensões: autenticação do usuário; rastreabilidade das transações; tráfego seguro das informações por meio da Rede do Sistema Financeiro Nacional e regras de funcionamento do Pix, com procedimentos padronizados e mecanismos robustos para proteção dos usuários".
O BC ainda diz que vem aprimorando os mecanismos do Pix "oferecendo mais robustez e segurança" e afirma que a responsabilidade para garantir a segurança dos usuários também é dos bancos.
"Vale ressaltar que a responsabilidade da avaliação das situações de fraude é das instituições financeiras ou instituições de pagamentos envolvidas na transação. O Banco Central cria as regras e os procedimentos operacionais que permitem a comunicação padronizada entre as duas instituições e pode penalizar as instituições que incorrerem em uso indevido do mecanismo."