No lugar da carne, ovo. O suco previsto em contrato é cortado pela metade. Não tem proteína de soja? É só trocar por pão de queijo e pipoca, e basta pôr mais arroz no prato para compensar.
Com truques deploráveis como esses, quadrilhas teriam desviado grana destinada à compra de alimentos para estudantes de escolas do estado.
Iniciada pela Polícia Federal em 2018, a operação Prato Feito vai chegando ao fim com números impressionantes. No total, 154 pessoas foram indiciadas. A investigação aponta que 13 prefeitos paulistas tiveram participação direta no caso (alguns já foram presos ou cassados) e R$ 1,6 bilhão teria sido surrupiado.
De maneira interligada, segundo a PF, cinco grupos de empresários burlavam licitações e pagavam propinas a políticos. E não era só na merenda: os indiciados também forneciam material escolar, uniformes e serviços como limpeza.
A desfaçatez era tanta que a Prefeitura de Tietê (SP), por exemplo, chegou a pagar R$ 12 pela unidade do ovo.
Escutas telefônicas revelaram negociatas e cardápios foram adulterados, com menos comida e itens mais baratos.
Se for possível classificar os crimes de corrupção, o desvio de merenda é certamente um dos mais desprezíveis —ainda mais em um país onde muitas crianças dependem da escola para comer.
O que mais assusta é que maracutaias dessa grandeza não são novidade. Já houve escândalo semelhante em 2016, em 22 cidades do estado. Polícia e Promotoria também investigam um esquema de desvios de merenda na capital.
Espera-se que, daqui para a frente, a Justiça cumpra a sua parte. O mesmo vale para os eleitores, que escolherão novos prefeitos a partir de outubro.
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