Jair Bolsonaro atingiu a marca de dez dias sem prestigiar atos golpistas, desestimular a quarentena ou atacar as instituições, a imprensa e os desafetos políticos. Com qualquer outro político, seria um feito banal; tratando-se de Bolsonaro, é uma proeza digna de nota.
A última reação mais dura presidente foi no dia 18, quando criticou a prisão do amigo Fabrício Queiroz. No dia seguinte, reclamou discretamente em rede social da “maior parte da mídia”, que não estaria dando destaque suficiente às ações do seu governo na pandemia.
Desde então, ele tem adotado uma conduta moderada: trocou Abraham Weintraub por um economista moderado no MEC e enviou ministros da área jurídica para conversar com Alexandre de Moraes, do STF. Chegou a discursar sobre a harmonia entre os Poderes e homenagear as vítimas do coronavírus.
O que parece explicar esse comportamento é a preocupação com o futuro do caso Queiroz —que envolve diretamente o filho Flávio Bolsonaro. Mas outros fatores podem influir também. A nova pesquisa do Datafolha mostrou apoio recorde de 75% dos entrevistados à democracia, o que mostra uma reação ao autoritarismo do presidente.
A aproximação com o centrão também ajuda a conter radicalismos —o novo ministro das Comunicações, indicado pelo PSD, elogiou a imprensa na sua posse. Para fechar, o Judiciário e o Legislativo reagiram enfaticamente aos atos antidemocráticos dos apoiadores do presidente.
Não se sabe se essa nova fachada vai durar, nem se resultará num governo melhor. Mas não deixa de ser um respiro para o país, que precisa superar uma emergência sanitária e uma recessão devastadora. Que a trégua renda enquanto dure.
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