O prazer sexual, como o da boa mesa, é divino, e os católicos não deveriam hesitar em aproveitá-lo. Assim falou o papa Francisco em entrevista ao jornalista Carlo Petrini, num livro que acaba de ser publicado na Itália.
Ainda que cause certa surpresa, o papa não disse nada que os principais teóricos da igreja já não tenham afirmado séculos atrás. Um exemplo é Santo Tomás de Aquino (1225-1274). Em seu livro a "Suma Teológica", a palavra "prazer" aparece 1.530 vezes nas mais de 4.000 páginas do calhamaço --só para comparar, "igreja" é mencionada 1.627 vezes.
Simplificando o pensamento do autor, o prazer pode ser considerado bom quando nos leva a agir racionalmente, e mau quando nos faz atuar contra a razão. Os prazeres do corpo, portanto, podem ser legítimos desde que exercidos com parcimônia e objetivos corretos.
Isso vale para o sexo. Não escapou ao Doutor Angélico, como era conhecido, que a "prática dos atos venéreos é sumamente necessária ao bem comum, que é a conservação do gênero humano".
Se essa é a linha oficial da Igreja Católica há uns 800 anos, por que ela passa a imagem de um órgão repressor?
Parte da explicação está nas exigências da propaganda. Para crescer, a igreja teve de voltar-se contra religiões e filosofias que com ela rivalizavam. Uma delas era o epicurismo. A igreja promoveu uma campanha contra essa doutrina, que descrevia, de forma incorreta, como a obtenção do prazer a qualquer custo.
Houve períodos em que a Igreja Católica mostrou maior tolerância para com os prazeres --incluindo os da cama. É a prova de que, como toda instituição humana, nunca foi inteiramente coerente nem uniforme em suas práticas.
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