O mundo soube que Donald Trump deixaria o hospital no qual se tratava da Covid-19 por meio de uma postagem no Twitter. "Não tenha medo" da doença, recomendou o presidente americano.
Doente, Trump coroa o seu desleixo com a crise sanitária e reforça o desprezo pela vida humana. Seus imitadores mundo afora seguiram a mesma linha, a exemplo do presidente Jair Bolsonaro.
Aos 74 anos e obeso, o líder passou por maus bocados no início da infecção --foi levado a um hospital e precisou de oxigênio suplementar. Ainda assim, tentando demonstrar força, deixou-se fotografar e filmar trabalhando --e cumprimentou apoiadores num desnecessário e imprudente passeio de carro.
A cena diz muito sobre a realidade da pandemia na nação mais poderosa do planeta. Mais de 20% dos mortos pelo vírus são americanos, que representam 4,2% da população mundial.
A menos de um mês da eleição presidencial, o impacto da doença de Trump sobre o eleitor ainda é incerto. As duas primeiras pesquisas feitas após a revelação do contágio sugerem problemas para o republicano. O democrata Joe Biden segue com vantagem de 8 a 10 pontos.
Se havia esperança de que a doença traria empatia, resta saber agora se o pouco-caso de Trump diante do coronavírus irá contaminar de vez sua chance de garimpar votos entre os indecisos.
Ainda que se recupere a tempo de participar de uma série de comícios na reta final, estratégia que funcionou contra Hillary Clinton em 2016, terá perdido semanas vitais para tentar virar o jogo.
Se ao fim da jornada o presidente não se reeleger, não será pequena a ironia de que parte da culpa poderá ser atribuída ao vírus que ele tanto desprezou.
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