A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) teve sua reputação abalada quando o presidente, Antonio Barra Torres, acompanhou sem máscara o presidente Jair Bolsonaro em manifestação de março de 2020.
Depois houve a suspensão de ensaio clínico com a Coronavac por efeito adverso não relacionado à vacina do Butantan. As suspeitas de interferência política foram deixadas de lado quando a agência aprovou o uso emergencial da Coronavac e do produto da AstraZeneca/Oxford.
O prestígio reconquistado pela Anvisa se submete a novo teste com sua recusa a aprovar a vacina Sputnik V, do Instituto Gamaleya de Moscou. A decisão unânime da diretoria desencadeou uma despropositada reação de Kirill Dmitriev, diretor do fundo russo que bancou o desenvolvimento do imunizante.
Dmitriev acusou a agência de ceder a interesses dos Estados Unidos, segundo ele de maneira antiprofissional e mentirosa. A seguir, ameaçou processá-la por difamação, ao supostamente espalhar informações falsas e imprecisas, de modo intencional, sobre o produto.
Entende-se que a dezena de governadores interessados em reforçar a prevenção com a Sputnik, diante da incompetência federal, fiquem frustrados com o parecer negativo. Existem também pressões nos bastidores brasilienses.
Essa movimentação não pode criar atalhos para contornar os obstáculos levantados. A agência apresentou argumentos sólidos, no entender de vários especialistas no assunto.
Como qualquer órgão estatal, a Anvisa não está acima de críticas. Entretanto estas têm de ser fundadas na ciência e nas melhores práticas, não na truculência descabida de partes interessadas.
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