O futebol imita o pior da vida. A idiotia sublinhada, escarrada e escancarada tabela com a barbárie no retrógrado, reacionário e atrasado planeta bola. É a tribuna socialmente aceita para vomitar aberrações que não são toleradas em qualquer outro ambiente. É o palco onde ganha eco tudo que é preconceito deprimente.
O racista, que não tem coragem de falar o que “pensa” tête-à-tête para o colega negro no trabalho, sente-se à vontade na arquibancada para gritar “macaco”. E faz por brincadeira, livre de culpa porque, como tem cabeleireiro negro, não enxerga o que faz como preconceito.
O machista não pode chamar a chefe, ou colega de sessão, ou a balconista da loja, ou a atendente, ou quem quer que seja de “vadia” sob o risco de apanhar na rua, de perder o emprego ou de ser preso. No futebol, “vadia” não é tão vadia assim, é só uma forma ingênua, quase virginal, vista por muitos como normal, sadia, de reclamar do erro da “biscate” da bandeirinha. Se o auxiliar foi homem, a mãe dele é que vira a vadia no xingamento, que faz parte do convívio social. Vadia, no contexto do futebol, pode. E há quem exija que pare de problematizar o absurdo.
Quem discorda é apontado como militante mala do politicamente correto. Idiotas concordam com os xingamentos e traduzem a oposição civilizatória como “mimimi”. Se um deputado acha que a mulher tem que ter o direito ao assédio e quem declara, aberta e orgulhosamente, que mulher feia não merece ser estuprada é eleito sob o status de “mito”, não vai ser no futebol que vão ficar com frescura de respeito...
Negro, puta, mulher, pobre, vai lá, a rapaziada finge que aceita. Agora, viado é demais. Onde o futebol vai parar? Querem consertar a sociedade? Agora até com o direito de gritar “bicha” e de proibir um jogador de futebol de assumir a homossexualidade e ter espaço no futebol vão acabar? Cadê o respeito aos cidadãos de bem da preconceituosa família brasileira?
Aqui, neste mesmo espaço que ocupo desde 2006, você nunca viu brincadeira racista, classista, mas leu, várias vezes, “piadas” homofóbicas. Não verá mais. #PedeA24
Eduardo Galeano: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”.
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