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Caneladas do Vitão: 50 tons de azul - Impaciência de Jô

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São Paulo

A vida do corinthiano é tão sofrida que a expressão "tudo azul", sinônimo de tudo ótimo no tête-à-tête informal, é expressamente proibida no Parque São Jorge.

O radicalismo é tanto que a diretoria, pressionada por radicais organizados, consultou FPF, CBF e Fifa para tentar que o clube só atuasse à noite ou, na pior das hipóteses, em estádios cobertos para que não surgisse azul-turquesa nem no horizonte durante as partidas. A medida, no entanto, não encontrou eco nas federações e confederações.

charge com um jogador de futebol olhando o chão com uma bandeira do Brasil e uma árvore atrás
Cláudio Oliveira

Não se trata de folclore. É regra. Estatutária! No clube, não são só as camisetas, bermudas, chinelos, sungas, biquínis, papetes, pochetes, tênis, meias, chuteiras, joelheiras, cotoveleiras, caneleiras, fru-frus, elásticos, piranhas, tiaras, carteiras, porta-níqueis, copos, bandejas e pratos azuis que são vetados. O clube escolheu e pagou caro por verdelejos (azulejo não pode!) importados que mantêm a coloração da água das piscinas sempre em um verde puro, cristalino e nítido que não possa, independentemente do reflexo, da estação, do horário e do movimento do sol, nem sequer parecer azul-turquesa. Nem azul-smurf, azul-marinho, azul-riacho, azul-calcinha ou qualquer maldito azul!

A principal organizada do clube, que também é escola de samba tetracampeã do Carnaval paulistano, proíbe a entrada de pessoas trajando a cor alusiva ao rival em sua quadra e, intolerante, não usa nenhuma peça azul em suas fantasias e alegorias. Quando o enredo pede que o carnavalesco retrate o céu, por exemplo, é preciso apelar para o verde. Não há exceção: a bandeira brasileira é reproduzida sem o globo central e os dizeres de "Ordem e Progresso", sobre a faixa branca, grafados em verde-esmeralda, bem vivo, clorofilado e longe das paletas de tonalidades próximas ao maligno azul!

Não é só o azul-turquesa, que remete ao uniforme rival, que é proibido. Todo tom é vetado. Para se ter uma ideia, nas cantinas do estádio, do clube e das organizadas corinthianas só são vendidos dropes de canela, hortelã e menta. Anis, por ser azul, é expressamente proibido.

No tradicional Bar da Torre e demais lanchonetes da Fazendinha, ovo colorido só rosa: contrariando a ministra Damares, azul nem para os meninos!

Na quadra das torcidas organizadas corinthianas e no clube há a mesma placa: "proibida a entrada de azul". Todos os 50 tons! Beijos de luz!

José Saramago: "Se queres ser cego, sê-lo-ás".

Vitor Guedes
Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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