Sérgio era um menino do interior sem talento para ser o maestro do time, sem espírito de equipe para carregar o piano no meio campo e sem intelecto para ser o comandante.
Grandalhão e amigo dos empresários donos da bola, os reis do campinho, Serjão driblou a meritocracia com QI, arrumou uma boquinha de goleiro e virou "o menino da porteira" do time.
Cria do campo, o garoto sempre soube que "porteira que passa um boi, passa uma boiada". Livre de escrúpulos limitantes, o menino da porteira usava o vozeirão repulsível para comandar os beques de fazenda e disfarçar a sua flagrante falta de talento natural e a ausência de fundamentos básicos da função de goleiro. Para crescer e fazer média com os chefes, Serjão não hesitava em sair da sua área e ameaçar golpear os adversários fora das quatro linhas regulamentares. Verdade que, quando flagrado fora da lei, o menino da porteira covarde chorava lágrimas de crocodilo, pedia penico, colocava a culpa na má interpretação e pipocava na frente do juiz e dos rivais.
Entre uma jogada e outra, Serjão animava os amigos poderosos na concentração batendo continência para o Brasilzão antidemocrático. Sempre bem posicionado, o menino da porteira jamais teve coragem e decência para protestar ou encarar a corrupta e assassina ditadura militar. Muito pelo contrário, Serjão fez a política de boa vizinhança com os jovens guardas e os velhos militares, típico posicionamento capacho e canalha de quem diz amém ao poder e coloca o próprio umbigo acima de todos.
Como a carreira de goleiro estagnou, o ex-menino da porteira resolveu agarrar a chance na política. Virou deputado e dublê de tiozão do churrasco que usa dinheiro público para fazer prótese peniana e que se escora nas relações estatais para acumular dívidas com a união.
O tiozão covarde de agora, como o menino de outrora diante do juiz, chora quando flagrado em posição ilegal e ensaia golpe de vista para escapar do vermelho. Que seja punido, dentro das quatro linhas da constituição!
Esta crônica ficcional é resultado da desagradável exposição dos ouvidos a drogas pesadas do naipe de "Rei do Gado" e "Boiadeiro Errante". Não escute em casa e mantenha o lixo tóxico, inclusive musical, longe do alcance das crianças.
Rui Barbosa: "Não se deixem enganar pelos cabelos brancos, pois os canalhas também envelhecem".
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