Remédios de alto custo estão em falta na rede estadual

Medicamentos para transplantados e asma sumiram das farmácias públicas

Medicamentos de alto custo para pacientes transplantados e com doenças graves, como artrite reumatoide, estão em falta nas 37 farmácias de alto custo do governo do Estado, sob a gestão João Doria (PSDB). Alguns deles, como o diclorato de pramipexol 1 mg, para o tratamento de mal de Parkinson, sumiram das prateleiras desde janeiro deste ano.

Segundo pacientes entrevistados pelo Agora, ao menos dez medicamentos estão em falta. Três deles são para tratamentos de asma. O furuato de fluticasona 50 mcg/ 250 mcg, conhecido como Seretide Diskus, está em falta desde fevereiro.

A professora Rosangela Lopes dos Santos, 56 anos, com o frasco de Seretide Diskus, usado para prevenir crises de falta de ar em quem tem asma; ela não consegue retirar a medicação desde fevereiro deste ano - Rubens Cavallari/Folhapress

A professora Rosangela Lopes dos Santos, 56 anos, do Jardim da Saúde (zona sul), tem DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). Com constantes crises de asma, ela utiliza a bombinha de Seretide há cerca de 10 anos.

“Passei umas quatro noites sentada à beira da cama, com falta de ar constante”, diz Rosangela, que usa a medicação para prevenir a crise asmática. Ela está sem o medicamento desde fevereiro. O custo da Seretide varia entre R$ 130 e R$ 180.

Além de Rosângela, o marido, que é cardíaco e está aposentado, também ficou sem retirar a atorvastatina na farmácia do Incor (Instituto do Coração), medicamento indicado para pacientes com níveis elevados de colesterol.

Transplantados

Entre os remédios em falta está o Tracolimo 1 mg. Ele é usado de maneira contínua por pacientes que fizeram transplante, a fim de diminuir a chance de rejeição do órgão recebido.

Já os pais que retiram o hormônio somatropina, usado por crianças com problemas de crescimento, foram comunicados em abril que a medicação estava em falta e só estaria disponível no fim deste mês.

Ampolas custam R$ 7.300

A auxiliar de contas Kelly Cristina Saleme, 38 anos, de Santo André (ABC), se queixa de dores nas articulações após ficar sem tomar os medicamentos que faz uso contínuo: abatacepte e leflunomida, ambos para o tratamento de artrite reumatoide.

Os remédios, segundo Kelly, devem ser tomados juntos para fazer efeito. Mas há 30 dias ela está sem, uma vez que a farmácia de alto custo do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, não forneceu os remédios.

Só uma ampola do abatacepte custa em torno de R$ 7.300. Cada caixa tem quatro ampolas _Kelly faz uso de uma por semana.

Já a caixa do leflunomida, com 30 comprimidos, custa em torno de R$ 500. “Não tenho condições de comprar nenhum dos dois”, diz Kelly.

O motorista Alexandre Albino Damasceno, 32 anos, de Diadema (ABC), reclama que o medicamento utilizado pela mãe, o tracolimo 1 mg, para pacientes transplantados, estava em falta e, no último mês, teve a dose fracionada na entrega.

A quantidade retirada no último dia 24 só dará para dez dias. Maria Rosa Albino, 56 anos, que fez transplante de rins, toma dois comprimidos por dia. Cada cartela vem com 10 comprimidos.

“O problema é que a próxima retirada está agendada para somente 28 de maio. Como faremos até lá?”, questiona Damasceno.

Queixa na Ouvidoria

O aposentado Laércio Aparecido Trabachini, 61 anos, já perdeu as contas de quantas vezes foi à farmácia de alto custo de Guarulhos (Grande São Paulo) e saiu de mãos vazias. Desde janeiro, o pramipexol 1 mg, para tratamento de mal de Parkinson, não está sendo entregue.

O remédio é para uso do pai, Alcides Trabachini, 84 anos, que sofre da doença.

“A gente vai até lá, mas ninguém sabe informar a previsão de chegada”, afirma. Ele também formalizou a queixa, dias atrás, na Ouvidoria, que deu o prazo de 20 dias para resposta.

Medicamentos em falta

Somatropina 4 UI e 12 UI - hormônio para crescimento
Fluticasona 50 mcg/250 mcg - para asma
Seretide Diskus 50 mcg/250 mcg  - para asma
Alenia 200 mg/400 mg  - para asma
Atorvastatina 10 mg - controle de colesterol
Ziprasidona 40 mg/80 mg - antipsicótico
Pramipexol 1 mg - mal de Parkinson
Abatacepte 125 mg - artrite reumatoide
Leflunomida 20 mg - artrite reumatoide e psorática
Tracolimo 1 mg - para diminuir chance de rejeição em transplantados

Respostas

O governo do Estado, sob a gestão João Doria (PSDB), por meio da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica, informou que o fluticasona está em atraso. “O fornecedor está sendo cobrado para agilizar a entrega do medicamento e sujeito a sanções por descumprimento do prazo.”

A coordenadoria ainda diz que “a atorvastatina e somatropina já estão em fase de distribuição”. Já a alenia está com o abastecimento normal.

O Estado afirma ainda que os medicamentos abatacepte 125 mg, leflunomida 20 mg, pramipexol 1 mg, tracolimo 1 mg, ziprasidona 40 mg e 80 mg são comprados e enviados aos estados pelo Ministério da Saúde. Entre eles, apenas o leflunomida está com a entrega regular, informa a coordenadoria. “Os demais têm sido enviados parcialmente e fora dos prazos”.

Segundo a gestão Doria, à medida que os lotes dos remédios chegarem a São Paulo, serão redistribuídos para as farmácias.

O governo do Estado fornece cerca de 290 medicamentos de alto custo, sendo que aproximadamente metade deles está sob responsabilidade do governo federal.

O Ministério da Saúde diz que em abril foram entregues 1.623.400 unidades do medicamento tacrolimo 1 mg a São Paulo, quantidade solicitada pelo gestor estadual. Entretanto houve retificação do governo estadual no mesmo mês, para serem enviadas mais 5,7 milhões de unidades do fármaco. A pasta diz já ter antecipado 2 milhões unidades junto ao fornecedor, que aguarda resposta de agendamento de entrega pelo almoxarifado de São Paulo. 

Em relação ao medicamento abatacepte 125mg, o ministério diz que está finalizando o contrato de aquisição que deve ser assinado na primeira quinzena deste mês. Após esta fase, a empresa terá 30 dias para realizar a entrega. Ao todo, serão destinadas 7.188 unidades do fármaco ao estado. 

Sobre o medicamento pramipexol 1mg, a pasta esclarece que a assinatura do contrato para fornecimento ocorreu nesta quinta-feira (2). Assim, a empresa tem no máximo 30 dias para realizar a entrega. Serão enviadas a São Paulo, 1.318.260  unidades do medicamento. 

O Ministério da Saúde informa também que abasteceu o estado com 226.080 unidades do medicamento ziprasidona 40 mg em abril. Além disso, fará uma outra entrega de 45.990 unidades, nesta primeira quinzena de maio. Já em relação a versão de 80 mg, o ministério diz que foram entregues 247.530 unidades também no final de abril. E 120.930 unidades estão com entrega prevista para a primeira quinzena de junho.


 

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