Futebol atrai meninas na rede pública de São Paulo

Cerca de 1.500 garotas jogam bola em CEUs da capital paulista

Foi-se o tempo em que futebol era diversão de menino. Agora são as meninas que também sonham em ser jogadoras profissionais, brilhar nos principais clubes do mundo, ganhar títulos, fama e muita grana, claro.

Uma prova do interesse é a procura pelos treinos nas escolas da rede pública municipal de São Paulo.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), ao menos 1.500 garotas jogam futebol em turmas de extensão de jornada nos CEUs (Centros Educacionais Unificados).

Meninas que jogam futebol no CEU Parque Veredas na região do Itaim Paulista, zona leste de SP - Rubens Cavallari/Folhapress

E a Copa do Mundo, que é disputada na França, fez a procura crescer. Só na semana passada, ao menos dez meninas guscaram informações pelos treinos no CEU Parque Veredas, no Itaim Paulista (zona leste).
“Aqui não há limite de vagas. São todas bem-vindas”, diz o professor Leonardo Souza Santana, 35 anos, responsável pelos treinos de futebol de salão na unidade.

Segundo Leonardo, cerca de 50 meninas, entre 9 e 17 anos, treinam duas vezes por semana no CEU. Elas formam três equipes que disputam campeonatos no estado. O grupo já conquistou um título de campeã do torneio InterCEUs de futsal (2018) e dois vice-campeonatos (InterCEUs de futsal, em 2016, e a Copa Play FC de Futebol Society), além do título de melhor goleira de uma das equipes.

Mas num passado bem recente tudo era apenas uma tentativa de colocar algumas meninas para treinar e participar de competições para que o futebol delas tivesse visibilidade.

“No começo, em 2013, eram apenas meninas do próprio CEU. Mas depois abrimos para que garotas de outras escolas da comunidade também pudessem treinar. Hoje temos garotas de outros bairros e até de cidades vizinhas, como Itaquaquecetuba e Poá”, disse.

No ano passado, as meninas do CEU Parque Veredas foram convidadas pelo Centro Olímpico de São Paulo para participar do primeiro torneio paulista feminino de futebol de campo.

Futuro

A declaração da jogadora Marta, após a seleção feminina de futebol ter sido eliminada da Copa do Mundo da França, soou como um “eu já sabia” para as meninas do CEU Parque Veredas que jogam futebol. 

“Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim”, disse a jogadora.

Para a estudante Bianca Patez, 17 anos, que treina desde os 11 anos no CEU Parque Veredas, o trabalho de base, os treinos e a dedicação de muitas meninas já é uma realidade. O que falta, diz ela, é patrocínio.

“O futuro depende principalmente dos clubes e incentivo dos patrocinadores. A nossa parte a gente já está fazendo”, afirmou Bianca.

“Se a gente não se empenhar o futebol feminino vai desaparecer”, disse Maria Eduarda Vitorino da Silva, 13.

A estudante Ketllem de Santana Gomes, 18, é a único do grupo que joga como amadora no ANE (Associação Nova Esperança), de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo). “Meu objetivo é jogar no PSG (Paris Saint-Germain)”, afirmou sobre o clube francês. 

Peneira

Entre as mais de 400 meninas que participaram da primeira peneira feminina organizada pela Federação Paulista de Futebol, realizada na semana passada, estavam as irmãs Kawane Nascimento Pacheco, 14 anos, e Kimberly Nascimento Pacheco, 15 anos.

Elas foram estimuladas pelo professor Leonardo Santana responsável pelos treinos no CEU Parque Veredas. “Todas que treinam aqui têm potencial para se profissionalizar. É difícil porque falta incentivo dos clubes e patrocínio de empresas. Mas não é impossível. A participação de peneiras é uma experiência que elas precisam ter, independente do resultado”, afirmou.

“No início, fiquei meio perdida, pois tinha muitas meninas. Mas me soltei e fui bem”, afirmou Kawane.
“Também acho que fui bem, mas tinha muitas meninas lá, inclusive de outros estados, e eu não conhecia ninguém”, disse Kimberly.

As irmãs começaram a jogar futebol na quadra do prédio onde moram, também no Itaim Paulista, com os meninos, e contam que não tiveram resistência.

Família

Algumas meninas que treinam no CEU Parque Veredas têm muito mais do que a vontade de jogar: elas contam com o apoio e a participação dos pais.

A dona de casa Maria Luiza do Silva, 58 anos, é presença garantida em todos os treinos e jogos da filha Maria Eduarda Vitorino da Silva, 13 anos. 

“Eu incentivo mesmo. Torço e me emociono muito”, disse a dona de casa.
O auxiliar de enfermagem Gilmar Bispo dos Santos, 42, também é presença frequente nos treinos de futebol da filha Maria Eduarda Francisco, 10.

“Quando tinha a idade da minha filha só os meninos jogavam futebol. Hoje meninos e meninas podem jogar futebol juntos, e o preconceito que existia está sendo quebrado”, disse.

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