Entre os passageiros da linha 15-prata do monotrilho, a conversa é uma só: a superlotação. Desde a abertura das estações Sapopemba, Fazenda da Juta e São Mateus em horário integral (das 4h40 à meia-noite), no último dia 6, os trens estão cada vez mais lotados, obrigando o usuário a esperar até cinco composições para conseguir embarcar.
O aumento do fluxo tem causado impacto na estação Vila Prudente, onde o monotrilho faz a conexão com a linha 2-verde do metrô.
No horário de pico da tarde, parte das escadas rolantes é desligada para evitar acúmulo de passageiro na plataforma. "Isso porque ainda estamos em período de férias escolares", reclama a operadora de telemarketing Rosana Ferreira Ramos, 19 anos.
Irritados, passageiros retiraram a grade que bloqueava uma das escadas rolantes que dá acesso à plataforma da estação Vila Prudente no começo da noite desta segunda-feira (27), quando o intervalo entre os trens era de, no mínimo, cinco minutos.
No último dia 21, a lotação foi tamanha que todas as escadas rolantes foram desligadas. Passageiros tinham de enfrentar quatro longos lances de escada a pé para chegar à plataforma.
"Na primeira semana achei que iria economizar meia hora no meu trajeto com o monotrilho, mas se for essa confusão todo dia, vou voltar a pegar o ônibus para chegar ao metrô", afirma o contador José Luiz Fernandes, 48 anos, que mora em São Mateus e trabalha na região da avenida Paulista (região central).
No horário de pico da manhã, passageiros nas estações Camilo Haddad, São Lucas e Oratório, as últimas antes de chegar ao metrô na Vila Prudente, não conseguem embarcar, pois os trens já chegam saturados.
Cansados do aperto, alguns usuários já migraram para os ônibus. "Estou gastando mais com a passagem, mas pelo menos consigo chegar no metrô sem ser esmagada", diz a estudante Amanda Chiavon, 21 anos.
Para engenheiro, corredor seria melhor
Para o engenheiro Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), a escolha do monotrilho como meio de transporte para a região da zona leste de São Paulo foi um erro.
"A zona leste já possui trem e metrô saturados, além de vias congestionadas", afirma. "Escolher um modal de transportes de média capacidade é loucura. É como construir uma siderúrgica e comprar carrinho de mão em vez de um trem para levar o carvão."
Ejzenberg explica que o metrô carrega cerca de 80 mil passageiros/hora em cada sentido na capital paulista. Já o monotrilho, lembra o especialista em transporte, apesar de ter capacidade para carregar 40 mil passageiros/hora, transporta 25 mil passageiros/hora por dia.
"Se fosse para carregar essa quantidade de pessoas, era melhor ter feito um corredor de ônibus na região, que custa sete vezes mais barato que o monotrilho", afirma.
Resposta
A Secretaria dos Transportes Metropolitanos, sob gestão João Doria (PSDB), informou que a abertura das novas estações traz um "aumento previsto de demanda". Para isso, segundo a pasta, o Metrô realizou testes e verificou ser possível aumentar a oferta de trens, o que seria feito a partir desta segunda-feira (27).
Sobre a estação Vila Prudente, a secretaria afirmou que a parada recebe atenção redobrada por ser uma conexão. O desligamento das escadas rolantes faz parte das "estratégias operacionais" adotadas quando há aumento de demanda, disse a pasta.
A reportagem também tentou contato com José Luiz Portella Pereira, secretários dos Transportes Metropolitanos na gestão José Serra (PSDB), que iniciou a implantação do monotrilho na região, mas não obteve resposta.
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