O número de fuzis apreendidos pela polícia subiu 22% no estado de São Paulo entre os meses de janeiro e novembro de 2018 e 2019. De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), foram apreendidas 200 armas do tipo no ano passado contra 164 em 2018.
A capital paulista foi a região onde mais fuzis foram tirados dos criminosos: 63 no ano passado contra 50 em 2018 --alta de 26%.
O caso mais recente de apreensão ocorreu em novembro passado, na região do Itaim Paulista (zona leste). Na ocasião, policiais civis encontraram, emparedados em uma casa, dez fuzis, sendo três antiaéreos, calibre .50. Também foram encontrados dois fuzis calibre 7.62 e cinco 556, os dois usados pelas polícias Civil e Militar de São Paulo.
Para a PM, em licitação, os dois tipos de fuzis chegam a custar R$ 20 mil cada.
Criminosos, inclusive, produzem estas armas clandestinamente. Uma destas fábricas foi descoberta em Itaquaquecetuba (Grande SP), em dezembro passado. Na ocasião, a polícia apreendeu em processo de fabricação um fuzil, calibre 7.62 artesanal e três carregadores.
José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da Polícia Militar e ex-secretário Nacional de Segurança Pública, diz que o aumento do número de fuzis apreendidos resulta de abordagens "mais precisas", orientadas pelos serviços de inteligência das polícias.
Ele afirma que a PM, por exemplo, aumentou o número de operações, justamente para evitar que este tipo de arma, usada em guerras, fique nas ruas.
"Os criminosos em São Paulo estão mais ousados e usando armamento pesado. Mas não se compara ao Rio de Janeiro", afirma, sobre o recorde com mais de 500 apreensões de fuzis no estado vizinho em 2019.
Segundo o coronel, os bandidos paulistas usam este tipo de armamento em ações pontuais, como roubos a carros-fortes ou em assalto a bancos com explosões a caixas eletrônicos.
"No Rio, há casos em que o ladrão usa fuzil para roubar pessoas na rua."
Tipo de munição pode fazer estrago devastador
O chefe de investigações do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) de Santo André (ABC), Marcos Antônio Nascimento Medina, afirma que "existe muito misticismo" sobre a utilização de fuzis.
Segundo ele, que é instrutor de tiro, muitos acreditam que qualquer tiro pode provocar "ferimentos em que a bala entra como um dedão e sai do tamanho de uma bola de futebol".
"Depende muito do tipo de munição. Na polícia, por exemplo, usamos projéteis de fuzil que podem transfixar [atravessar] o alvo", diz.
Ele explica que as munições transfixantes são usadas contra veículos, por exemplo, para atingir quem está no interior.
Já o outro tipo de munição, a expansiva, afirma, fica alojada. "O projétil expansivo atinge o alvo com grande força", afirma. "Ela provoca em frações de segundo o deslocamento de órgãos, caso o tiro atinja a região da barriga de uma pessoa", exemplifica.
O bicampeão brasileiro de tiro defensivo Marcelo Carettoni diz que uma diferença da munição com a de outras armas é a quantidade de pólvora, maior no fuzil por causa do tamanho.
"O projétil de um fuzil 556 é basicamente 22. O diâmetro da munição é deste calibre, mas ele é mais pontudo e, por ter até quatro vezes mais pólvora que um de pistola, a força de impacto é bem maior", diz.
Polícia reivindica a posse das armas que tira das ruas
O coronel Álvaro Camilo, secretário executivo da Polícia Militar, diz que após as apreensões, a corporação avalia os fuzis e, caso estejam em condições de uso, solicita à Justiça para que fique com os armamentos.
"Se o calibre for compatível com o usado pela PM [556 e 7.62] e estiver em condições de ser usado, é incorporado à tropa", afirma.
As armas que não se enquadram nestes requisitos, acrescenta Camilo, são encaminhadas ao Exército, que as destrói.
O coronel diz que a alta no número de apreensões de fuzis no estado resulta de ações mais intensificadas, mas admite que a criminalidade também aumentou os seus arsenais.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Militar recebeu 12 fuzis e a Polícia Civil, cinco armas do tipo, que estavam com criminosos. A pasta do governo João Doria não cita em qual período foram realizadas as doações.
A pasta afirma que o armamento estava vinculado a processos sob custódia do Tribunal de Justiça de São Paulo. Além disso, diz, está em trâmite pelo CMB [Centro de Material Bélico] a avaliação de um novo lote de fuzis apreendidos, "sendo 22 já analisados como aptos para uso policial".
A quantidade de fuzis que compõem os arsenais das polícias paulistas não foi informada por questões "estratégicas internas."
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